Universidade, estética, cultura, ciência, autonomia e autenticidade da pessoa humana. Esses foram alguns dos assuntos abordados na conferência de abertura do 3º Seminário do Fórum de Estudos Contemporâneos, realizada nesta manhã na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. Para debater A filosofia e o mundo contemporâneo, tema proposto para esta primeira sessão, foram convidados os professores Vladimir Pinheiro Safatle, da Universidade de São Paulo (USP), e Marcelo Pimenta Marques, da UFMG. Em sua exposição, Safatle [na foto de Foca Lisboa] se ateve às mutações dos conceitos centrais que definem a noção de humanidade – que, segundo ele, têm ocupado lugar de destaque na filosofia contemporânea. Como qualidades fundamentais do homem, o professor enumerou a autonomia, a autenticidade e a singularidade, observando que é sintomática a semelhança entre atributos humanos e divinos. “Como dizia Deleuze, Deus e os homens têm os mesmos predicados”, lembrou o professor, vinculado ao Departamento de Filosofia da USP. Para ele, essa proximidade leva a questionar se a compreensão da identidade humana não seria uma forma de manter a construção teológica ocidental. Quanto à noção de humanidade, o professor ressaltou que os indivíduos podem sofrer não pela perda de referência de sua própria identidade, mas por estarem excessivamente aferrados à figura atual do homem. “Nesse sentido, discursos muito apegados ao humanismo podem estar ligados a uma espécie de sofrimento social”, sugeriu. Segundo ele, o fundamento de uma forma não normativa da razão parte da capacidade de se reconhecer naquilo que não porta identidade. Interfaces Para ele, refletir sobre a prática universitária implica pensar o atual estágio da filosofia. “O filósofo está vinculado a uma instituição universitária, que é uma organização privilegiada de produção de saber”, apontou. Entretanto, o professor ponderou que as atitudes filosóficas extrapolam as fronteiras institucionais, em movimentos sociais desvinculados que partem do povo, de empresas, artistas ou políticos. “Temos vivenciado diversas situações que provocam discussão sobre o que é estar presente na cidade”, observou. Ir além Campolina frisou o momento atual da universidade brasileira, que, para ele, se vê diante da necessidade de criar novas linhas de atuação. “Devemos ir além de nossas atividades cotidianas, pois é nosso dever abrir espaço para a reestruturação, refletindo não apenas sobre a própria universidade, mas sobre o país e o mundo”, salientou. Segundo João Antonio, o Fórum de Estudos Contemporâneos tem justamente esse objetivo, ao propiciar uma base analítica para o planejamento de médio e longo prazos da Universidade. “Ao longo desses quatro dias do seminário, vamos fazer um balanço do estado da arte dos diversos campos da ciência, da cultura e da própria vida universitária, de modo a avaliar até que ponto temos conseguido ler a realidade e, a partir daí, oferecer uma contribuição para o seu desenvolvimento, seja a realidade imediata e local, seja a mais longínqua, a realidade mundial”, disse o pró-reitor de Planejamento. O Fórum de Estudos Contemporâneos visa promover a discussão inter e transdisciplinar de questões contemporâneas que possam gerar propostas para subsidiar o planejamento das atividades de ensino, pesquisa e extensão na Universidade. Criado em 2011 pela Pró-reitoria de Planejamento da UFMG, o evento teve sua primeira edição em novembro daquele ano, e a segunda ocorreu no último mês de abril. Os conferencistas do 3º Seminário cederão textos, que serão reunidos em livro do evento a ser publicado pela UFMG em 2013.
Também conferencista na sessão, o professor Marcelo Pimenta Marques, docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, abordou a relatividade da dimensão temporal. Ele ressaltou que o passado está sempre em vias de constituição, já que se forma como uma “fabricação do presente”, a partir do olhar que se lança para trás. Da mesma forma, o presente se compõe a cada momento, por meio da construção de significados. “Sempre me pergunto em que medida estou à altura de meu próprio tempo”, ressaltou. “Esse é um desafio a ser pensado por todos nós e pela universidade, pois, muitas vezes, vivemos em sintonias e registros culturais desencontrados.”
O reitor Clélio Campolina Diniz e o pró-reitor de Planejamento, João Antônio de Paula, estiveram presentes ao evento e abriram os trabalhos do seminário, que acontece no auditório 1070 da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), até a próxima sexta-feira.