Bruna Brandão/UFMG |
Um processo de internacionalização que respeite a diversidade das práticas do conhecimento e a valorização da dimensão cultural são dois grandes desafios das universidades, destacados respectivamente pelos professores Eduardo Vargas e Ivan Domingues, da UFMG, durante a última sessão do Fórum de Estudos Contemporâneos, na tarde desta sexta-feira, no campus Pampulha. Com a presença do reitor Clélio Campolina e do pró-reitor de Planejamento, João Antonio de Paula, o encontro foi mediado pelo professor Mauricio Loureiro, diretor do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat). Eduardo Vargas defendeu a internacionalização como a quarta missão das universidades – ao lado do tripé ensino-pesquisa-extensão. Depois de afirmar que a produção de conhecimento é um "problema político, cívico, ético e étnico", Eduardo Vargas defendeu o que ele chamou de “diplomacia do conhecimento”, baseada na capacidade de reconhecer outras práticas. “A internacionalização exige trocar, aprender com o outro, o que sempre implica risco”, disse Vargas, que é professor na área de Ciências Sociais e diretor de Relações Internacionais da UFMG. Por meio de analogia com a necessidade de se garantir a biodiversidade, Eduardo Vargas defendeu que a diversidade de práticas de conhecimento é vital para a própria produção do conhecimento. Ele pregou também a ênfase na inovação, em busca “não apenas de soluções técnicas para problemas sociais, mas de maneiras mais adequadas de se fazer o mundo”. Ivan Domingues, professor do Departamento de Filosofia e assessor da Reitoria, iniciou sua participação com contextualização histórica em que abordou as matrizes laica e religiosa da universidade medieval e experiências da era moderna, como as grandes escolas francesas, a Universidade de Berlim, que passou a aliar ensino e pesquisa, e o modelo de inovação tecnológica inaugurado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. ‘Cultivo das mentes’ Ainda segundo ele, no Brasil, cujas principais instituições ocupam o segundo ou terceiro escalão no contexto mundial, o excesso de demandas às universidades por parte dos governantes “exaure professores e gera estruturas caóticas”. Domingues afirmou que a extensão não define a universidade, que se perde na prestação de serviços e no “combate a mazelas sociais, como acontece no caso dos hospitais universitários”. Outro problema grave, segundo ele, é a supervalorização da criação de conhecimento novo, em detrimento da transmissão de conhecimento. “E nesse campo há uma mistificação, porque se cria muito pouco conhecimento novo. Nossos números ainda são bem piores na área de patentes, há grande dificuldade de se converter ciência em tecnologia. Algo precisa ser feito para que possamos valorizar vocações mais sólidas e condizentes com as necessidades do país”, concluiu Ivan Domingues.
No ambiente atual, marcado pela multiplicidade de modelos, de acordo com ele, o primeiro desafio é, como propôs o reitor de Universidade Yale (EUA), Richard Levin, incorporar o “cultivo das mentes”. “A iniciativa de governos e universidades de elite de criar um selo de excelência favorece as instituições de pesquisa, e é preciso consolidar o conceito, aliando a pesquisa (incluindo inovação) ao ensino de qualidade e à promoção da cultura”, disse Ivan Domingues.