Foca Lisboa/UFMG |
A economia mundial está diante de um novo ciclo de transformações, impulsionado não apenas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que impuseram mudanças estruturais no padrão de acumulação produtiva, mas também pela biotecnologia, a nanotecnologia e novos paradigmas no campo energético e ambiental. A análise do reitor da UFMG, economista Clélio Campolina, foi exposta na manhã desta segunda-feira, no auditório da Reitoria, na conferência que abriu o 2º Encontro preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013 (leia mais). O evento contou com a participação de representantes de órgãos governamentais e de sociedades científicas. Para Campolina, a combinação desses fatores emergentes deve abrir múltiplas trajetórias, com desdobramentos sociais e econômicos variados, que exigem uma intervenção transdisciplinar por parte de analistas e autoridades governamentais dos países em desenvolvimento. Tal cenário corresponderia ao sexto ciclo na escala proposta pelo economista russo Nikolai Kontratief, segundo a qual o capitalismo industrial possui ciclos com determinadas atividades econômicas. Na conferência Crise mundial, mudanças geopolíticas e inserção do Brasil: os desafios científicos e tecnológicos, Campolina fez uma análise da economia mundial após a segunda guerra, abordou as crises do capitalismo e do socialismo, e por fim traçou um panorama da atual economia mundial. Desafios Ao destacar que território e população têm peso na composição do novo cenário, Campolina citou outros elementos importantes, como a integração econômica. Ao relevar que apenas 25% das exportações de países da América Latina são realizadas para países do mesmo bloco, o economista comentou que as relações de troca são base para o desenvolvimento. Outro aspecto que exige atenção, segundo ele, é ampliação da produção científica, desafio para países como o Brasil, cujo percentual de publicações fica em torno de 10% das publicações dos Estados Unidos. Ainda sobre a inserção do Brasil entre o grupo de países com maior peso no cenário mundial, o reitor da UFMG ressaltou a necessidade de definições das agendas e do papel das universidades, bem como mais recursos para pesquisa e inovação, flexibilização nas carreiras dos servidores, investimento em infraestrutura física e apoio à capacitação em línguas estrangeiras. Royalties Além de Palis, participaram da mesa de abertura a secretária adjunta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciências (SBPC), Maria Mercedes Amaral Guerra; o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Mário Neto Borges; o secretário executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Antônio Elias; o reitor da UFMG, Clélio Campolina; o secretário adjunto de estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Evaldo Ferreira Vilela; a presidente da Comissão Organizadora Local do 2º Encontro preparatório do Fórum Mundial da Ciência 2013, Maria Carolina Nemes; e a representante da Associação Nacional de Pós-graduandos, Luana Bonone. Ao defender a aplicação dos royalities do petróleo em educação, o secretário Luiz Antônio Elias comentou pesquisa publicada recentemente pela revista Nature, na qual o Brasil “começa a aparecer” entre os países que hoje têm impacto na ciência. “O Brasil é o único país da América Latina que aparece entre os que terão impacto nessa área, em 2020. Mas o investimento é ponto decisivo para a ciência”, disse.
Como desafios estruturais para seu crescimento, o Brasil teria, segundo Campolina, que enfrentar elementos como o monolinguismo, a baixa escolaridade fundamental e média, entraves burocráticos, debilidades no chamado departamento I da economia – responsável pelos bens de produção – e desigualdade social, entre outros.
Na mesa de abertura, os convidados destacaram a importância do evento, preparatório do Fórum Mundial de Ciência 2013, que pela primeira vez se realiza fora da Hungria. Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, é devido ao reconhecimento mundial que o Brasil vai sediar o Fórum. Contudo, ressaltou, o país tem um caminho a palmilhar, que depende sobretudo do investimento em educação, ciência e tecnologia. “Estamos pleiteando o uso dos recursos do pré-sal para o setor”, disse.