Bruna Brandão/UFMG |
As doenças tropicais estão entre as principais responsáveis pela discrepante diferença entre a expectativa de vida nos países desenvolvidos e a registrada no terceiro mundo. Enquanto no Hemisfério Norte as pessoas vivem, em média, 78 anos, nos trópicos essa expectativa não passa de 51 anos. As chamadas doenças negligenciadas - aquelas que, como o próprio nome indica, recebem pouca atenção por parte de governos e laboratórios - são a segunda causa de mortes em todo o planeta, mas seu impacto é mais devastador na África, América Latina e em outras regiões menos desenvolvidas. "O Brasil é o segundo país com maior número de casos de hanseníase. Como poderemos virar um país de primeira classe se uma doença tropical ainda causa tantas mortes?”, questionou o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Manuel Otávio da Costa Rocha. Ele participou, na manhã de hoje, da mesa-redonda Contribuição da CT&I para o desenvolvimento urbano, sustentabilidade e inclusão, que integra a programação do encontro preparatório para o Fórum Mundial de Ciência, que termina hoje na UFMG. O evento recebe pesquisadores, médicos e outros interessados nos avanços tecnológicos na área de saúde nos países, entre eles o professor da Fundação Oswaldo Cruz Rodrigo Oliveira, que fez uma explanação sobre as as infecções tropicais. “São doenças que têm relação direta com o ambiente de precariedade em que essas pessoas vivem. O contexto socioeconômico dos moradores de países subdesenvolvidos e o clima tropical, quente e úmido dessas regiões fazem com que doenças como esquistossomose, dengue, chagas, febre amarela, malária, leishmaniose e hanseníase apareçam em grande escala nesses locais”, explicou. Além de recursos financeiros, Rodrigo Oliveira sugere investimentos na formação de pesquisadores interessados em estudar as doenças tropicais. "Os grupos de pesquisa devem estar mais integrados e a divulgação das descobertas por veículos de comunicação de massa e sites das universidades também ajudam bastante”, defendeu Rodrigo Oliveira. A dificuldade de acesso das populações ao atendimento e a falta de médicos também são problemas que precisam ser resolvidos. “A vacina, por si só, não resolve o problema. O acesso à saúde e à informação, o saneamento básico, tudo isso tem a ver com políticas públicas voltadas para o tratamento das doenças negligenciadas. Os desafios são grandes e precisamos muito da ação direta de políticas dos governos desses países”, concluiu Rodrigo Oliveira.
Tratamento
Para os pesquisadores que participaram da mesa, o tratamento das doenças tropicais exige forte investimento em pesquisas na área de medicamentos. “Há desinteresse da indústria farmacêutica em desenvolver remédios para doenças tropicais. A doença de chagas, por exemplo, tem medicamentos pouco eficientes e altamente tóxicos para o organismo humano. Como ela ocorre mais em países subdesenvolvidos, os grandes laboratórios dos Estados Unidos e Europa não se interessam em pesquisar novos remédios para a doença, uma vez que eles costumam ser vendidos a preços baixos ou distribuídos gratuitamente pelos governos dos países pobres”, explicou Manuel Otávio.