Bruna Brandão |
Ao pensar o desenvolvimento urbano sustentável, é preciso combater a ideia de que cidade grande é um mal irreversível, defende a professora Heloísa de Moura Costa, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências, que participou de mesa-redonda na tarde desta terça-feira, 30, no encontro preparatório para o Fórum Mundial de Ciência, que termina hoje na UFMG (leia mais). Ao lembrar que a visão de concentração urbana como algo negativo não é consensual entre os pesquisadores, a professora defendeu a adoção de “outra racionalidade”, capaz de ver os ambientes adensados como desafios positivos, inclusive por liberarem terra para outros usos. Segundo ela, ações de qualidade podem dotar esses espaços “de mais vida urbana”. Contudo, é imprescindível um “certo cuidado”, pois embora o princípio possa “ser encantador”, nem sempre se concretiza da melhor forma, a exemplo das vilas e favelas extremamente compactas. Com relação ao crescimento difuso e informal dos aglomerados urbanos, a pesquisadora sugere que a cidade informal seja vista não como uma distorção das áreas formais. “Devemos pensar a cidade a partir da sua diversidade, das suas múltiplas lógicas, ordenada a partir do capital produtivo e não do especulativo”, diz. Especialista em temas como teoria do planejamento urbano e regional, Heloísa defende o investimento em pesquisa e inovação em temas de urbanização e desenvolvimento urbano, como já ocorre com água e saneamento. Divórcio Vistos ao mesmo tempo como a “cidade das multidões” e ”cidade dos horrores”, os aglomerados urbanos produzidos pelo nascente capitalismo industrial vêm sendo analisados ao longo do tempo por pensadores, engenheiros e urbanistas, que desejaram utilizar a técnica e a ciência para criar modelos com ideais de beleza, higiene e sanidade. Mas na contramão desses ideais, ocorreram, segundo a pesquisadora, intervenções estatais promotoras de outra ordem, não harmônica, que culminou com a expulsão das classes trabalhadoras para as periferias. “Belo Horizonte foi criada com esses princípios de ordem e higiene. Mas diferentemente dos modelos teóricos, não tinha espaço para o trabalhador”, exemplifica a professora, especialista em temas como distribuição espacial urbana. Ao analisar as perspectivas de criação de modelos sustentáveis de cidade, Jupira Mendonça afirmou que o primeiro desafio é colocar a ciência e a técnica a serviço das massas urbanas na decisão sobre as intervenções na cidade, e cita Boaventura de Sousa Santos, que se refere ao “reencontro da ciência com o senso comum”. O segundo desafio, segundo a pesquisadora, é a construção de um novo cotidiano, que inclua ampla reforma urbana, redistribuição de terras e universalização de acesso, ampliação dos espaços públicos e acesso a uma rede integrada de transportes.
Ao traçar um panorama sobre os fundamentos da intervenção pública nas cidades ocidentais desde o início do século 20, a professora Jupira Gomes de Mendonça, do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG, mostrou que ciência e técnica estão divorciadas da ação cotidiana das populações.