A atual crise hegemônica dos países industrializados e a ascensão de novos atores no cenário mundial abrem perspectivas promissoras para a reconfiguração da inserção internacional da América Latina, caracterizada por uma posição historicamente subalterna e periférica. Para aproveitar as oportunidades criadas por essas mudanças na geopolítica global, contudo, o continente deverá aprofundar a integração regional e adotar políticas destinadas a promover a expansão e a modernização competitiva de sua base produtiva.
Essa será a mensagem central da conferência que o reitor Clélio Campolina Diniz fará nesta segunda-feira, 5 de novembro, na sede da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em Santiago de Chile, durante o encontro do lançamento do portal na internet que irá abrigar as obras do economista argentino, Raúl Prebisch, um dos idealizadores e primeiro secretário executivo da entidade – criada pela Organização das Nações Unidas no final da década de 1940 com a finalidade discutir políticas públicas de desenvolvimento econômico para a região.
“O futuro da América Latina vai depender muito de sua integração, de modo a superar a atual e persistente fragmentação regional e conformar ao mesmo tempo uma efetiva zona geográfica de peso mundial, tanto do ponto de vista populacional, quanto territorial”, diz Campolina. Um dos indicadores que mostram a débil interdependência produtiva e comercial das nações latino-americanas é a baixa representatividade das transações externas intrarregionais. De acordo com o reitor, enquanto na América do Norte, Ásia e União Europeia, frações de 49%, 53% e 71% das exportações efetuadas se dirigem, respectivamente, aos países da mesma região, apenas 26% das vendas externas totais da América Latina são realizadas no próprio continente.
Para Campolina, além de implementar medidas visando a maior integração continental, os países latino-americanos devem adotar políticas direcionadas a promover a expansão e a modernização da base produtiva da região, a fim de reduzir a exposição macroeconômica aos voláteis ciclos dos mercados de bens primários, que ainda têm peso considerável na balança comercial da região. Dados da Cepal mostram que apenas 10 produtos básicos (petróleo, cobre, ferro, soja, café, açúcar, pesca, carnes, frutas e gás) representaram 42% das exportações da América Latina para o mundo em 2011.
Essa proposta do reitor de reforçar as políticas nacionais de desenvolvimento produtivo recupera, em grande parte, o legado teórico de Prebisch, de quem Campolina foi aluno na década de 1970, durante curso realizado no Instituto Latino-americano de Planificação Econômica e Social (Ilpes), órgão ligado à Cepal e dirigido pelo economista argentino. De fato, no âmbito da Cepal, entre 1948 e 1963, e no comando da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), de 1964 a 1969, Prebisch foi um dos principais defensores da industrialização dos países latino-americanos como forma de superação da condição periférica e de subdesenvolvimento da região.
A obra de Prebisch será agora colocada à disposição de um público maior por intermédio de site na internet, a ser lançado na sede da Cepal, em evento que reunirá, nos dias 5 e 6 de novembro, estudiosos e autoridades de diversos países da América Latina. O site abrigará todos os escritos do economista em formato digital, além de variado material multimídia. A iniciativa faz parte do projeto Raúl Prebisch e os Desafios do Século XXI, que já resultou no lançamento do livro Documento de referências bibliográficas, que traz ampla base catalográfica com os textos do economista argentino feitos entre 1919 e 1986, ano de sua morte.
Além de Campolina, participam do evento Frederico Burone (diretor do Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento), Antonio Prado (secretário executivo adjunto da Cepal), Roberto Escalante (secretário executivo da União de Universidades da América Latina), Osvaldo Sunkel (presidente do conselho editorial da Revista Cepal), Jorge Máttar (diretor do Ilpes), entre outros destacados representantes do meio acadêmico e universitário latino-americano.