Universidade Federal de Minas Gerais

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'Mundo militar está longe de ser coeso', diz historiadora francesa que investiga a ditadura brasileira

sexta-feira, 23 de novembro de 2012, às 5h54

A francesa Maud Chirio [foto] conta que abraçou a história por não acreditar nos benefícios do esquecimento. “Não se trata de um dever de memória, mas da necessidade coletiva de tornar o passado acessível ao maior número de cidadãos”, justifica essa pesquisadora de 32 anos, que morou no Brasil no início dos anos 2000 e se interessou por um dos períodos mais controversos da história nacional: a ditadura militar.

Professora da Université de Paris Est – Marne La Vallée e pesquisadora do Laboratoire d’Analyse Comparée des Pouvoirs, Maud considera que as maneiras pelas quais o golpe e a ditadura foram militar, financeira e politicamente possíveis e legitimados são questões essenciais a serem investigadas, "para que seja coletivamente decidido, com clareza histórica, o que se quer e se pode aceitar de um poder público".

Em entrevista por email ao Portal da UFMG, na qual se expressa em português apurado, Maud Chirio aborda os conflitos político-ideológicos que se davam à época no interior das Forças Armadas, tema do livro A política dos quartéis: revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira, lançado este ano pela editora Jorge Zahar.

Nesta terça-feira, dia 27, a partir de 19h, a historiadora participa, no auditório Sônia Viegas, da Fafich, de mesa-redonda do seminário Ditaduras militares em enfoque comparado, que vai até quinta-feira, e que se propõe a discutir novas abordagens sobre as ditaduras no Cone Sul.

Não deixa de ser curioso ver uma pesquisadora francesa investigando a ditadura militar no Brasil. Como surgiu o interesse pelo tema?
Foi por acaso. Aos 20 anos, tive a possibilidade de morar um ano no Brasil. Não tinha nenhuma ligação com o país nem falava português, mas era formada em história e comecei a me interessar pela história do Brasil. O período ditatorial logo despertou minha curiosidade, em particular porque era totalmente omitido na França, onde as ditaduras chilena e argentina são muito mais lembradas. Interessei-me sucessivamente por diversos temas, como a utilização da história pela propaganda do regime, o exílio e a vida política dentro do exército.

Como você teve acesso a fontes documentais para investigar a vida política dentro das Forças Armadas?
O grande problema da pesquisa foi achar fontes, em particular militares. Com efeito, para o período pós-1945, a maioria dos arquivos das unidades não está aberta à consulta. Em termos de arquivos militares propriamente ditos, só consegui consultar documentos de certas escolas de oficiais (Aman, Eceme), revistas e boletins internos, e arquivos pessoais de oficiais. Pesquisei também a imprensa, que proporcionava muitas informações sobre os acontecimentos militares, e os arquivos do SNI. Consegui, por fim, muitas entrevistas com oficiais ativos politicamente naquela época – na verdade, mais do que eu imaginava. Trabalhei, portanto, com fontes documentais diversas, espalhadas, e, infelizmente, incompletas, mas que me permitiram trazer alguns elementos novos sobre essa história.

A ideia que se faz das instituições militares, em geral, é de serem grupos coesos, sem muitos conflitos internos. Entretanto, seu livro faz um retrato distinto das Forças Armadas, evidenciando fragmentações político-ideológicas presentes nessas corporações. Em linhas gerais, em que subgrupos se dividiam os militares durante a ditadura?
É importante entender que militares não se dividem em “partidos” estruturados e estáveis como os que existem na política civil formal. O meio militar é organizado em função de divergências políticas, mas também de gerações, círculos hierárquicos (sargento não convive com oficial, seria considerado uma “promiscuidade” inaceitável), patentes, forças, armas. Há também relações de solidariedade especiais entre homens da mesma turma, de “liderança” entre certos comandantes carismáticos e seus ex-comandados etc. Longe de ser uma “instituição unida e coesa”, segundo a expressão consagrada, o mundo militar é uma organização social complexa. Além disso, essas afiliações, porque não são formais – sendo, mesmo, negadas com frequência, pois “militar não faz política”, no imaginário oficial da instituição –, mudam rapidamente. O mesmo militar, dependendo do momento e do que está em jogo, pode reivindicar identificações políticas diferentes: radical, duro, moderado, nacionalista, revolucionário, democrata, ou “castelista”, “costista”, “albuquerquista”. Por essas razões, é impossível listar os “grupos militares” da ditadura. O que posso dizer é que o poder militar foi de generais, mais particularmente de generais do Exército, e que esse monopólio criou, ao longo do regime, muitas tensões internas.

Cronologicamente, há como contextualizar essas tensões?
Em dois momentos, oficiais mais novos se opuseram aos generais do palácio: entre 1964 e 1969, alguns coronéis a favor de uma virada autoritária e repressiva (conhecidos como os “coronéis dos IPMs”), que se consideravam responsáveis pelo regime por terem sido conspiradores ativos, quiseram participar do poder. Foram derrotados, apesar de suas posições terem sido finalmente implementadas pelo poder vigente. Entre 1975 e 1981, um novo grupo de oficiais de baixa patente, oriundo do aparelho repressivo, se opôs à “distensão” do Geisel. Não reivindicavam participar do poder, mas exigiam a manutenção do sistema existente, e em particular da repressão política. Foram também derrotados. Além dessas duas ondas de protesto, o regime militar foi marcado por conflitos dentro do generalato, entre estados maiores, entre ministérios militares e o palácio presidencial. Nessas brigas, utilizar as mobilizações dos oficiais mais novos e invocar o apoio “dos quartéis” eram armas de primeira. As eleições, não democráticas, mas muito disputadas dentro do meio militar, ritmavam esses conflitos e tensões.

Como esses conflitos internos puderam ser omitidos, de forma que a sociedade não conseguisse percebê-los?
Muitas instituições militares cultivam o fechamento e afastamento do resto da sociedade. Faz parte do ethos militar – o olhar e a intromissão civis são suspeitos. Essa realidade é mais ou menos óbvia segundo os países e as épocas; no Brasil ditatorial as Forças Armadas eram particularmente fechadas. E continuam sendo, de certa maneira, por se recusarem a abrir os arquivos. Por conseguinte, de fora não se pensa – porque não se conhece – que podiam existir tantas divisões internas. Assim, o discurso institucional segundo o qual a “instituição militar é sempre unida e coesa” pega mais: não tem como entrar na “caixa preta” para nuançá-lo.

(Gabriella Praça)

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