Luana Moreira/UFMG |
Desenvolvimento de biomateriais e de estruturas “inteligentes” para aplicações aeroespaciais é o objeto de acordo de cooperação tecnológica assinado na manhã desta quarta-feira, 5, entre a UFMG e a Boeing Company, empresa americana do setor aeroespacial. “Uma parceria dessa natureza oferece oportunidade para transformar conhecimento científico em conhecimento tecnológico e aplicado”, disse o reitor Clélio Campolina, ao destacar que há interesses mútuos, uma vez que a UFMG possui diversas áreas de fronteira em pesquisa nas áreas tecnológicas, que combinam engenharia e tecnologia de novos materiais, enquanto a Boeing tem tradição de competência tecnológica e comercial. “Além da preocupação de ambas as instituições com a questão ambiental”, completou. O vice-presidente da Boeing Pesquisa e Tecnologia Brasil, Al Bryant, disse estar “ansioso para trabalhar com os talentosos pesquisadores da UFMG”, primeira universidade brasileira com a qual a Boeing estabelece esse tipo de parceria. Bryant afirmou que a aplicação de uma abordagem multidisciplinar ao desenvolvimento de novos materiais tem potencial de criar valor para o Brasil e para a empresa. “Visitei a UFMG em julho do ano passado, e fiquei muito impressionado com o que vi – o modo como a Universidade trabalha, como um time, tanto no Departamento de Engenharia Mecânica, que testa aviões, quanto no de Química, que desenvolve materiais biológicos”, relatou o vice-presidente da filial brasileira da organização de pesquisa avançada e desenvolvimento da Boeing. Segundo ele, a ideia é construir biomateriais que não prejudiquem o meio ambiente, para serem utilizados em partes internas das aeronaves, iniciativa que faz parte do investimento da empresa em questões ambientais. “Penso que a UFMG tem uma ótima oportunidade para nos ajudar com alguns dos novos materiais que queremos ver nos nossos aviões”, reiterou, ao explicar que, quando a Boeing vai a um país para desenvolver projetos de pesquisa, procura trabalhar “com os melhores dos melhores, que podem ser institutos de pesquisa, indústrias, universidades”. Além da Europa, a empresa tem centros de pesquisas também na Rússia, Austrália, Índia, China e agora no Brasil. O vice-diretor da Escola de Engenharia da UFMG, Alessandro Fernandes Moreira, será responsável por coordenar e supervisionar, por parte da Universidade, o planejamento e a execução das atividades de cooperação. Em sua opinião, além de atuar em conjunto no desenvolvimento de novos produtos, a UFMG tem condições de realizar os testes necessários, uma vez que produz protótipos de aeronaves e dispõe de um hangar em Conselheiro Lafaiete. Tecnologias verdes Já a chamada prototipagem multidisciplinar – prevista no acordo de cooperação – seria o esforço de unir pesquisas em aeronáutica, desenvolvidos na Escola de Engenharia, com a aplicação de biomateriais nas áreas de interesse da Boeing. Para Jorio, a iniciativa da Boeing ao procurar a UFMG demonstra o reconhecimento da excelência que existe na instituição para tratar desses assuntos. A professora Vanya Pasa, do Departamento de Química, conta que, na visita que antecedeu o evento desta quarta-feira, a equipe da Boeing mostrou interesse nas pesquisas com materiais inteligentes para o interior das aeronaves, a partir da utilização de fontes renováveis. “Vamos procurar trabalhar com tecnologias verdes para a indústria aeroespacial”, antecipa a pesquisadora, que também é coordenadora do Laboratório de Ensaios de Combustíveis da UFMG. Com relação aos combustíveis, Pasa antecipou a expectativa de que a Boeing mostre interesse pelo investimento no projeto de bioquerosene de aviação, que atualmente conta com o apoio da Agência Nacional de Petróleo e pesquisa oleaginosas do Cerrado, sobretudo a palmeira macaúba (Acrocomia aculeata). “Isso ainda não está acertado, já que inicialmente foi assinado protocolo de intenções a partir do qual serão delineados projetos”, advertiu.
De acordo com o professor Ado Jorio, diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) a UFMG tem desenvolvimento de biomateriais em vários departamentos, que estão em sintonia com a busca pela sustentabilidade, entre os quais a Química, a Física e o Instituto de Ciências Biológicas. “Aqui já existe muita pesquisa nessa direção”, disse.