Universidade Federal de Minas Gerais

Isabella Lucas/UFMG
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Raquel Rangel: amostra com mais de 2.600 estudantes de 175 escolas

Estudo do Cedeplar mede influência da qualificação do professor sobre o aprendizado de alunos da educação básica

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013, às 5h54

O nível de escolaridade dos professores e a contratação por meio de concurso público são os fatores que mais pesam no nível de aprendizado dos alunos de uma escola pública. É o que conclui estudo da pesquisadora Raquel Rangel de Meireles, doutoranda em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), desenvolvido com base em dados longitudinais sobre estudantes do quinto ao nono ano do ensino fundamental que tinham aulas de português e matemática com diferentes perfis de professores.

A pesquisa foi realizada por meio de questionários respondidos pelos professores e análise dos resultados das provas dos alunos de escolas da rede pública que participam do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), iniciativa voltada para o aperfeiçoamento da gestão escolar.

Com base em seis rodadas de coleta de dados em 175 escolas de educação básica de Rondônia, Pará, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso do Sul e Goiás foram analisados os desempenhos de 1.251 alunos de português e 1.430 de matemática. A análise cobriu 581 professores de português e 582 de matemática.

“Nosso objetivo era avaliar se professores com maior nível de qualificação afetam positivamente os ganhos de aprendizado dos alunos das escolas participantes do programa. A partir do resultado das provas dos alunos em cada uma das séries e do nível de qualificação do professor ao qual o aluno foi exposto em cada uma delas, é possível inferir o impacto de uma medida da qualidade do professor sobre o aprendizado escolar”, explica Raquel.

O resultado do trabalho foi publicado no final do ano passado no artigo Does teacher qualification influence student achievement gains? The case of Plano de Desenvolvimento da Escola in Brazil , apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Águas de Lindoia (SP), em novembro passado.

Nesta entrevista, a pesquisadora explica por que a qualificação dos professores tem papel fundamental no aprendizado dos estudantes.

Como surgiu a ideia de uma pesquisa que medisse a influência do nível de escolaridade do professor na qualidade de ensino?
Vários estudos sempre tentaram medir o que faz um bom professor. Há a necessidade dessa investigação para que os gestores de ensino saibam onde investir o dinheiro público. Com esse tipo de pesquisa, é possível apontar para o gestor da escola em quais áreas ele terá maior retorno em termos do aprendizado do aluno: em curso superior para professores, em formação, em infraestrutura etc.

Quais os principais fatores que interferem no aprendizado de um estudante?
Todo mundo está interessado em saber o que leva o aluno a aprender e quais fatores amplificam seu aprendizado sobre o conteúdo ensinado em sala de aula. Sabemos que a participação dos pais e um ambiente familiar favorável influenciam bastante. Além disso, ter uma boa escola com biblioteca, diretores ativos e bem preparados e salas de aula com tecnologia também ajuda. Mas o elemento que mais se destaca é mesmo o professor. Ele é quem mais influencia na aprendizagem do aluno.

O que diferencia um bom professor de um professor ruim? Somente a qualificação?
Há vários fatores. O bom professor de crianças precisa ter nível superior? Mestrado? Doutorado? Ter esses títulos vai melhorar sua didática? Sua experiência é mais importante que seus títulos? Está claro que um professor com doutorado é mais preparado para dar aulas em uma universidade, por exemplo. Mas esse título é essencial para um professor que lida com crianças? Não existe um consenso do que de fato torne um professor melhor que o outro, pois há outros fatores que interferem, como a estrutura familiar, por exemplo. É o conjunto de todos esses fatores que facilita ou dificulta o aprendizado.

Depois das análises dos questionários e relatórios com as notas dos alunos, quais foram as conclusões do grupo de pesquisa?
Dei início ao artigo nos Estados Unidos, quando terminava meu mestrado na Universidade de Stanford. Observando a literatura americana, verifiquei que, nos países desenvolvidos, as evidências apontam para o fato de que um professor ter ou não ensino superior ou uma maior qualificação não importa muito. O que importa é ele ter a técnica, a didática, o conhecimento da disciplina. Mas para um país em desenvolvimento como o Brasil, eu acreditava que o título contaria muito, porque nossa carreira de licenciatura não é atrativa para amenizar o efeito do diploma. Então se há um professor que está na carreira e tem um diferencial de formação, ele provavelmente será melhor que o outro porque correu atrás desse diferencial. Aqui, a paixão e a vontade de investir na sua formação já mostram quem realmente quer ser um bom professor.

Como foi medida a qualificação dos professores analisados?
Utilizamos um questionário com várias variáveis para medir o índice de qualidade do professor. Avaliamos seu nível máximo de instrução (se tinha curso superior, pós-graduação, mestrado e doutorado), o tipo de instituição que frequentou, se fez formação continuada e se foi aprovado em concurso público. Usamos a metodologia para testar quais variáveis são importantes. Constatamos que 68% deles tinham nível superior e 57% eram concursados. Já sabíamos que todas as variáveis tornavam um professor melhor, mas, para nossa amostra, as que apresentaram maior poder explicativo do ponto de vista estatístico foram o nível de escolaridade e se o professor era concursado ou não.

Por que essas variáveis pesam mais?
A conclusão do ensino superior é certamente um indicador de qualidade para as escolas que trabalhamos porque sinaliza que aquele professor tem um maior nível de conhecimento do que um professor que tem apenas o ensino médio, por exemplo. No caso do concurso público, o professor que passa pela seleção também tem provavelmente mais domínio sobre conteúdos do que um professor temporário, que não passou na seleção.

Como estudos como o seu podem ajudar no desenvolvimento de políticas públicas que melhorem o nível dos professores do ensino fundamental?
Precisamos conhecer bem as características dos professores para avaliar quais são suas melhores qualidades e o que deve ser melhorado. Estudos como o que desenvolvi indicam que é preciso investir em treinamento e em concursos públicos, que se mostraram pontos-chaves na melhoria da qualidade do ensino. Nos países mais desenvolvidos, os professores são mais qualificados e melhor remunerados. Além disso, os alunos também costumam ter menor nível de carência e necessidades socioeconômicas. Nosso problema educacional é multifacetado, mas o investimento na qualificação do professor deve ser um dos primeiros passos para alcançarmos um melhor nível de qualidade e equidade na educação.

(Luana Macieira)

(A íntegra do artigo, também assinado pelo professor Martin Carnoy, da Universidade de Stanford, EUA, está disponível aqui)

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