O campus Pampulha – que já recebe 60 mil pessoas e 22 mil carros por dia – abrigará em breve 17 das 20 unidades acadêmicas da UFMG (hoje são 15). É o exemplo mais evidente da importância do planejamento físico nos territórios da UFMG. “É preciso conciliar dimensão e qualidade, propiciar os meios para atingir metas como a excelência, a internacionalização e a extensão. Além da Pampulha, estamos trabalhando para aprimorar a infraestrutura dos outros campi e equipamentos da Universidade”, disse o reitor Clélio Campolina, na abertura do seminário Planejamento físico dos campi, realizado esta tarde no auditório da Reitoria. Mais uma edição da série Fórum de Estudos Contemporâneos, o seminário promoveu também debate sobre a relação da UFMG e outras universidades com as cidades em que estão inseridas. “O crescimento da instituição e sua inserção no contexto urbano criam a necessidade de um esforço de reflexão e preparação dos nossos espaços físicos. Os meios materiais devem ser compatíveis com a ambição da instituição de oferecer contribuição decisiva ao país”, afirmou o pró-reitor de Planejamento, João Antonio de Paula. O evento foi marcado ainda pelo lançamento do livro Territórios da universidade: permanências e transformações, organizado pelos professores Maria Lucia Malard e Carlos Alberto Maciel, da Escola de Arquitetura da UFMG. A obra, que reúne textos de época e artigos atuais, conta a história do planejamento físico-territorial da UFMG e faz projeções para o futuro. Passado e futuro “Depois de 1949, ano da federalização da Universidade, os arquitetos passaram a protagonizar o processo, ao direcionar o Plano Pederneiras para o novo campus, que contrastava com os projetos de Oscar Niemeyer para o conjunto da Pampulha”, comentou Maria Lucia. Ainda segundo ela, a inauguração da Reitoria, em 1962, “fechou o ciclo nômade” da instituição e tornou irreversível a fixação na Pampulha. A partir do Plano Diretor aprovado em 1969, sob coordenação de Alípio Pires Castello Branco, o trabalho realizado na UFMG ganha projeção nacional e internacional. A exposição de Maria Lucia Malard revelou que uma fase importante foi deflagrada pelo projeto Campus 2000 e pela implantação do Reuni. “O olhar para as edificações passou a enfatizar aspectos como a sustentabilidade ambiental e outras questões que não tinham a mesma relevância no passado”, disse a professora. Sobre o futuro, ela destacou a elaboração dos planos diretores para os demais territórios e a requalificação de prédios acadêmicos mais antigos, e nunca remodelados, como os do ICB e o do ICEx. Jaime Almeida lembrou que o conceito de campus foi além daquele de cidade universitária, que tem na UFRJ um exemplar típico e que simplesmente reunia faculdades sob uma reitoria. Ele elogiou o modelo da UFMG, cujo campus principal, no seu entender, “segue uma concepção urbana”. De acordo com o professor da UnB, o chamado sistema básico, que vigorou durante o período de regime militar e garantia certa organicidade às instituições, foi abolido com a redemocratização, mas não encontrou substituto. “Em geral, faltam critérios técnicos para decisões políticas e institucionais relacionadas às construções, avaliação sistemática dos projetos, previsão de manutenção para as áreas construídas e abertas e mais apoio do MEC e das administrações centrais de várias instituições na área de projetos e construções”, disse Jaime Almeida. “Os campi estão regredindo e voltando a ser cidades universitárias, talvez pela dificuldade de administrar verdadeiras cidades." Novo campus no ABC A ideia inicial era construir uma universidade aberta, sem grades, e a dupla conseguiu realizar esse conceito em parte – uma praça garante o contato direto com a cidade. A opção pela verticalização se deveu à limitação do terreno e à intenção de oferecer espaços públicos. Um prédio que inicialmente seria destinado à moradia estudantil ganhou novas funções, uma vez que o campus está localizado na cidade, e chegou-se à conclusão de que seria possível encontrar opções de habitação próximas ao campus. “Áreas verdes pré-existentes foram preservadas. “Numa região árida como a metropolitana de São Paulo, foi importante manter essas áreas e aproveitá-las para o acesso ao campus”, disse Sandra Llovet. Na sequência, sob o tema A universidade e a cidade, debateram Wanderley Messias da Costa, professor da USP, e os professores da UFMG Roberto Monte-Mór (Faculdade de Ciências Econômicas) e Carlos Alberto Maciel, coordenador de projetos do Departamento de Planejamento Físico e Projetos (DPFP). O seminário foi organizado pela Pró-Reitoria de Planejamento e pelo DPFP.
Participante ativa de etapas cruciais do planejamento da UFMG, Maria Lucia Malard lançou mão de fotografias, mapas e plantas para resumir a trajetória desse trabalho. O caminho teve início na década de 20, época de criação da Universidade de Minas Gerais (UMG), com a marca da ausência de um campus central.
Entender para planejar
Para o arquiteto e urbanista Jaime Gonçalves de Almeida (foto), professor da Universidade de Brasília, é preciso entender a universidade para se fazer planejamento. A partir da experiência no acompanhamento da implantação da maioria dos campi nas universidades federais, na década de 70, Jaime criticou a opção frequente por edificações isoladas, que não considera o território como um todo – como no caso da própria UnB, segundo ele – e a raridade, no Brasil, do desenvolvimento orgânico e contínuo, a exemplo das universidades de Cambridge e Oxford.
Projetar o campus de uma universidade que ainda não tinha professores foi um problema crucial para os arquitetos Sandra Llovet e Claudio Libeskind, que conceberam a sede da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André (SP). “Não tivemos interlocutores que nos passassem antes as necessidades, o que gerou a demanda por uma série de mudanças mais tarde”, contou Libeskind.
A vice-reitora Rocksane Norton, o reitor Clélio Campolina e o pró-reitor de Planejamento, João Antonio de Paula