Foca Lisboa/UFMG |
“Sou defensor enfático de que o sistema econômico deve estar a serviço da humanidade. Portanto, ciência e tecnologia devem estar a serviço da humanidade. Não é uma coisa simples, porque o mundo compete, e isso é usado como arma da competição, e não na busca da humanidade”, afirma o reitor da UFMG, Clélio Campolina, ao anunciar tópicos de sua abordagem em conferência na tarde de hoje, 30, às 17h30, no auditório 1 da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG. Campolina participa do Encontro Nacional de Economia Política (Enep), que teve início na última terça, 28, e se estende até amanhã, 31 de maio. O tema da conferência é Crise global, mudanças geopolíticas e inserção do Brasil. De acordo com o reitor, que é professor aposentado da Face, sua exposição vai situar os elementos que configuram o poder mundial, com ênfase, além do poder econômico, no poder militar, na cultura e na luta geopolítica. “A questão da luta pelo controle do território já está na tradição da geografia política, mas ainda há pouca ênfase na análise econômica. Meu esforço teórico é o de mostrar os aspectos da dominação territorial como um dos elementos na estruturação do poder mundial”, explica Campolina. A conferência também vai abordar razões e consequências das crises dos dois sistemas centrais: a do socialismo, representada pelo desmantelamento da União Soviética, e a do capitalismo, no Japão, na União Europeia e nos Estados Unidos. “A crise dos dois sistemas centrais corresponde a uma mudança no cenário mundial, conjugando-se com a emergência de um conjunto de outros países”, lembra Clélio Campolina, para quem um ótimo exemplo dessa situação é a ampliação gradativa do grupo que começou como G-6 e hoje atende por G-20, incluindo nações como Brasil, México, China, Índia, Arábia Saudita e Austrália. A respeito da crise nos países capitalistas, o reitor da UFMG afirma que os Estados Unidos mostram sinais claros de grande força de recuperação. “Eles têm população e território, um quarto da produção da riqueza mundial, ciência, tecnologia e a mais poderosa máquina de guerra do planeta. O Japão também começa a se mover, o problema está na solução europeia, que não é simples de visualizar”, diz Campolina. Vantagens e problemas do Brasil Na lista das vantagens, Campolina inclui território e população, idioma único, base produtiva heterogênea, mas com áreas sofisticadas. “Temos a Embraer, que compete no mercado mundial, a Petrobras, uma agricultura moderna e um sistema bancário robusto e eficiente”, ele enumera. A relação das desvantagens competitivas é liderada pela desigualdade social e por um enorme déficit educacional, além de grande deficiência da infraestrutura e dos problemas gerados por uma urbanização excessivamente rápida. “O grande elemento estruturador para dar viabilidade ao Brasil é a concentração em educação, ciência e tecnologia. E o maior problema está nos segmentos fundamental e médio. Nessa área, é urgente resolver a questão do financiamento e reconhecer o papel do professor sobretudo por meio de remuneração justa”, afirma Campolina. Ele acrescenta que é preciso também um grande esforço em ciência, como fundamento do desenvolvimento tecnológico. “Mas falo de uma ciência – e esse é o grande desafio do mundo – que não esteja voltada apenas para a competição. Impera hoje o que [o pensador português] Hermínio Martins chama de gnosticismo tecnológico, as pessoas acham que a tecnologia é solução para tudo. É a competição pela competição, um consumismo exagerado. A tecnologia é fundamental, mas tem que servir ao homem, e não o contrário", conclui Clélio Campolina.
Em sua apresentação, ele vai ressaltar a oportunidade que se abre a outros países, como o Brasil. E que, se o país pode se beneficiar, por um lado, de uma série de vantagens, por outro sofre com problemas sérios, que dificultam inserção positiva no cenário global.