Ronaldo Guimarães |
Nesta semana, e até o dia 17 de outubro, o saguão da Reitoria segue abrigando a Semana nacional de poesia de vanguarda, evento que, 50 anos depois, reedita a exposição homônima realizada nos idos de 1963. Na ocasião, por iniciativa do poeta mineiro Affonso Ávila, reuniram-se na UFMG os principais nomes da vanguarda literária do país, em uma mostra das obras desses poetas em poemas-cartazes (O BOLETIM desta semana contém matéria sobre a exposição, que pode ser acessada a partir deste link). Paulo Schmidt é o responsável pela museografia e pelo design gráfico da reedição da mostra neste ano. Para ele, o fato de o aniversário de 50 anos da exposição ocorrer em um momento como o de hoje é uma curiosa coincidência. “O evento é atualíssimo. Neste ano, há toda uma confluência propícia à exposição. Os poemas da época, além da questão formal da poesia concreta (que ainda pode ser vista como uma estética de vanguarda), demonstram uma preocupação de amplitude social, política, algo que tem muito a ver com o momento político e social atual”, aponta, referindo-se às recentes manifestações. “Há um frescor da temática”, reflete. O Portal UFMG conversou com Paulo sobre a exposição. Além da mostra de poemas-cartazes, ela traz ao Brasil a ensaísta e crítica norte-americana Marjorie Perloff, professora emérita da Universidade de Stanford, nos EUA, para uma conferência no dia 10 com o tema Conceptual poetry and the question of emotion (Poesia conceitual e a questão da emoção). Confira abaixo o papo com Paulo Schmidt. Esta é a primeira vez que o evento de 1963 é relembrado com uma exposição? Qual é a história da Semana? O que a exposição de agora reúne? Quais poetas contemporâneos participam da exposição de agora? Quem são esses "herdeiros"? O que muda ao se retomar, meio século depois, todo esse material? Como o tempo age sobre esse conteúdo? Que poetas participaram da edição de 63? Semana nacional de poesia de vanguarda Conferência de Marjorie Perloff (Ewerton Martins Ribeiro)
Na verdade, em 1993 a Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte promoveu uma exposição no Centro Cultural UFMG comemorando os 30 anos da Semana nacional de poesia de vanguarda. Foi uma espécie de reconstituição, trazendo os pôsteres que foram expostos originalmente. Também houve debates, conferências; poetas da época, ainda vivos, participaram.
A correspondência entre os poetas Affonso Ávila e Haroldo de Campos mostra que a princípio a Semana seria apenas uma exposição dos irmãos Campos em Belo Horizonte. No planejamento, os poetas acabaram se decidindo por algo maior; por expor uma amostra mais ampla da poesia de vanguarda produzida no país, incluindo também poetas mineiros. No encerramento, esses poetas fizeram uma espécie de manifesto. Tudo isso está reunido na mostra de agora, acessível ao público.
Além de fotos e de reproduções dos poemas-cartazes da época, a mostra reúne algumas publicações que são correlatas a uma espécie de ethos relacionado à Semana: matérias que saíram em revistas estrangeiras, coisas que se desdobraram a partir do evento – além de uma pequena seleção de poetas “herdeiros” daqueles primeiros vanguardistas. A ponte, nesse caso, é Paulo Leminski, que visitou a exposição em 63, mesmo sem ter sido convidado formalmente. Ele veio assistir e acabou travando toda uma relação com o Augusto, o Haroldo e o Afonso, entre outros.
Composta por poemas-cartazes e vitrines, mostra é aberta ao público
Temos nomes como Arnaldo Antunes, Júlio Castañon Guimarães, Duda Machado, Carlos Ávila, Cláudio Nunes de Moraes, Guilherme Mansur, Ricardo Aleixo, Ronald Polito e Augusto de Campos com uma de suas produções mais recentes – além da obra do Leminski.
Na verdade, há toda uma coincidência propícia à exposição neste ano. Os poemas da época, além da questão formal da poesia concreta (que ainda pode ser vista como uma estética de vanguarda), têm uma preocupação de amplitude social, política etc., algo que tem muito a ver com o momento político e social que estamos vivendo hoje, com as manifestações. Nesse sentido, há um frescor da temática. É interessante lembrar que em 1963 vivia-se uma situação pré-golpe militar. Nas fotos da cerimônia de abertura, é possível ver o reitor discursando acompanhado de perto por um “fardado”.
Da turma de São Paulo, Décio Pignatari, José Lino Grünewald, José Paulo Paes, Edgard Braga, Ronaldo Azeredo, Pedro Xisto, Félix de Athayde, Wlademir Dias-Pino; vários ligados à revista Invenção. Já da turma de cá, de Minas Gerais, ligada à revista Tendência, tivemos Affonso Romano de Sant'anna, Laís Corrêa de Araújo, Henry Corrêa de Araujo, Libério Neves, Ubiraçu Carneiro da Cunha, entre outros, como o artista plástico Osmar Dillon, que vivia no Rio e entra na exposição em uma categoria meio à parte, com algo como poemas-charge. A mostra se pretendeu uma reunião mais ampla de toda uma produção sintonizada com essa ideia de vanguarda. Houve também uma seção com poesia japonesa, apresentando poemas de três autores, que foram traduzidos para o português.
Quando: Até 17 de outubro, no saguão da Reitoria
Quando: 10 de outubro, às 19 horas, no auditório da Reitoria