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Nº 1839 - Ano 40
07.10.2013

Tudo outra vez

Cinquenta anos depois, UFMG reedita semana de poesia de vanguarda com diálogo entre os concretistas e a vanguarda contemporânea

Ewerton Martins Ribeiro

Nos anos 1960, a poesia concreta se firmava como principal movimento de vanguarda no país – especialmente em São Paulo, com a projeção de nomes como Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Em Minas Gerais, o poeta Affonso Ávila fundara pouco antes, em agosto de 1957, a revista Tendência, que se tornaria uma das mais importantes do país ao colocar lado a lado grandes textos de crítica literária e a produção dos novos talentos da poesia nacional.

Foi também em um mês de agosto (o de 1963) que Affonso Ávila promoveu novo “happening” que movimentaria a cena literária do país: a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda no saguão da Reitoria da então UMG, trazendo a Minas Gerais os principais nomes da poesia brasileira. Foram sete dias de exposição de poemas-cartazes: os artistas se reuniram em debates, conferências e leituras abertas – entre eles, os irmãos Campos, que se tornaram parceiros de Affonso Ávila na empreitada.

Cinquenta anos depois, a UFMG realiza nova edição do evento com o intuito de pôr essa arrojada produção de meados do século passado em diálogo com a vanguarda atual, formada por nomes como Arnaldo Antunes, Júlio Castañon Guimarães, Duda ­Machado, Carlos Ávila, Cláudio Nunes de Moraes, ­Guilherme Mansur, Ricardo Aleixo, Ronald Polito e Augusto de Campos em suas produções mais recentes – além da obra de Paulo Leminski. A exposição começou no dia 30 de setembro e segue até 17 de outubro e contará com uma conferência da ensaísta e crítica norte-americana Marjorie Perloff, professora emérita da Universidade de Stanford, nos EUA.

Gênio não original

Denominada Conceptual poetry and the question of emotion (Poesia conceitual e a questão da emoção), a conferência de Marjorie será realizada nesta quinta-feira, dia 10, às 19h, com tradução simultânea. A escritora também lançará o livro O gênio não original: poesia por outros meios no novo século – obra em que estuda inclusive os poetas concretistas. “No livro, Marjorie aborda a obra de T. S. Eliot e os novos meios de poesia no século 21 – essa poesia repleta de citações, apropriações, reciclagens e repetições”, comenta o professor Wander Melo Miranda, da Faculdade de Letras (Fale) e coordenador da exposição. “Mas na conferência Marjorie deve falar sobre as manifestações desse tipo de poesia já no século 20 e o seu desdobramento até o século 21”, diz.

Ainda no dia 10 será lançado catálogo da exposição, em que foram reunidas as obras exibidas na edição de 1963. “Apesar de figurarem nos livros de cada autor, elas não haviam sido reunidas em um único volume”, afirma Paulo Schmidt, responsável pela museografia e pelo design gráfico da mostra. Ele destaca a atualidade do evento: “Há toda uma coincidência propícia à exposição. Os poemas da época, além da questão formal da poesia concreta (que ainda pode ser vista como uma estética de vanguarda), demonstram uma preocupação de amplitude social, política, algo que tem muito a ver com o atual momento político-social”, aponta ele, referindo-se às recentes manifestações.

A pesquisa e seleção de poemas foram realizadas por Myriam Ávila, professora da Faculdade de Letras e filha de Affonso Ávila. Entre os nomes que tiveram suas obras expostas na edição original, José Lino Grünewald, José Paulo Paes, Edgard Braga, Ronaldo Azeredo, Pedro Xisto, Félix de Athayde, Wlademir Dias-Pino, Affonso Romano de Sant’anna, Laís Corrêa de Araújo, Henry Corrêa de Araujo, Libério Neves, Ubiraçu Carneiro da Cunha, entre outros.

A promoção da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda é do Centro de Estudos Literários e Culturais (CELC) da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, com o apoio da ­Pró-reitoria de Planejamento.

Semana Nacional de Poesia de Vanguarda
Quando: Até 17 de outubro
Conferência de Marjorie Perloff
Quando: 10 de outubro, às 19 horas
Local: saguão da Reitoria