Foca Lisboa/UFMG |
Durante toda a manhã desta quarta, 6 de novembro, a professora Maria Manuela Carneiro da Cunha, da Universidade de São Paulo (USP), conversou com a comunidade da UFMG sobre um programa de cooperação entre cientistas acadêmicos e os chamados “conhecedores tradicionais” – em especial os indígenas. A conferência, denominada Conhecimento científico e conhecimentos tradicionais, integra a programação do Colóquio Davi Kopenawa e a Hutukara: um encontro com a cosmopolítica Yanomami, que acontece durante toda a semana na Universidade, com ampla programação. Em sua apresentação, que fez lotar o auditório Luis Pompeu da Faculdade de Educação (FaE), a antropóloga destacou que aquela era uma das primeiras vezes que, em vez de falar majoritariamente a cientistas – “que precisam ser convencidos da importância do conhecimento tradicional” –, dirigia-se também a um grande número de índios, povo que tradicionalmente empunha a bandeira do conhecimento tradicional. Maria Manuela detalhou a proposta que fez ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para a criação de um programa focado na valorização do conhecimento tradicional e na criação de uma economia na Amazônia que seja compatível com o conceito de “floresta em pé”. “Fizemos a proposta ao Ministério, que parece ter gostado do projeto, e o incluiu no seu programa para o período de 2010-2014. A ideia é que o projeto resulte em editais anuais, e que fomente distribuição equitativa de poder e de recursos”, explicou. “Mas sabemos que quando muda governo, muda política; se muda o secretário, muda a política. Então a gente não tem nenhuma segurança de que isso vai se reverter em algo permanente. Mas estamos trabalhando para isso”, enfatizou. Segundo Manuela, as duas partes da proposta tiveram níveis distintos de aceitação. “Para uma economia compatível com a floresta em pé, nada mais óbvio que uma aliança com as populações tradicionais, que têm o know-how para nos levar a soluções comuns. Essa parte está sendo aceita com menos dificuldade. Já a questão da valorização dos conhecimentos tradicionais tem enfrentado mais resistência”, apontou. A antropóloga usou o exemplo da agricultura para exemplificar a importância dessa valorização. Manuela citou a questão da variedade de tipos de alimentos, como no caso da mandioca. Ela chamou a atenção para a necessidade de que se apoiem as iniciativas oriundas do conhecimento tradicional indígena, que colabora para a preservação da variedade na roça, e não nas estufas científicas. “Cientistas pensam em fazer o levantamento do conhecimento tradicional e guardar esse conhecimento para futuras pesquisas. Congeladas, as sementes não evoluem, não se adaptam às mudanças do meio ambiente, do solo, do ar. Cientistas desconhecem que o conhecimento tradicional só se sustenta como processo vivo, sempre em transformação. Isso é muito difícil de entrar na cabeça de biólogos, por exemplo”, disse. A programação do Colóquio Davi Kopenawa e a Hutukara: um encontro com a cosmopolítica Yanomami segue até sexta-feira, dia 8. Nesta tarde, desde as 14h, Davi Kopenawa ministra a conferência Conhecimento e xamanismo no auditório Neidson Rodrigues, na FaE. Os interessados ainda terão a oportunidade de ouvi-lo falar amanhã, em uma nova conferência sobre o livro La chute du ciel, obra que Kopenawa publicou em 2010 com o antropólogo francês Bruce Albert, que trabalha junto aos Yanomami desde 1975. Confira abaixo a programação do restante da semana: Dia 7 Dia 8
14h - Roda de conversa sobre a tradução do livro La Chute du Ciel
Davi Kopenawa com Beatriz Perrone-Moisés (USP)
Local: Auditório Luis Pompeu – FaE
14h – Mesa-redonda sobre cosmopolíticas
Renato Sztutman (USP) e Eduardo Vargas (UFMG)
Local: Auditório Luis Pompeu – FaE