Foto: arquivo pessoal |
Amanhã (sexta, 8), o professor Paulo Henrique Martinez, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), estará no campus Pampulha para discutir estratégias de estudo, pesquisa e ensino sobre os temas da cidadania e do meio ambiente no país. A palestra acontece às 17h30, na sala 3023 da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O pesquisador defende a não prevalência do desenvolvimento sobre o meio ambiente, e também critica a supervalorização da questão ambiental em detrimento do progresso socioeconômico. “Os dois são necessários, e o importante é que nessa equação prevaleça a cidadania”, comenta. A palestra Cidadania e meio ambiente no Brasil: questões de pesquisa e ensino é promovida pelo grupo de pesquisa História Política – Culturas Políticas na História, e tem apoio do Programa de Pós-graduação em História. Paulo Henrique Martinez atua na área de história ambiental – ciência que estuda a interação humana com a natureza ao longo dos tempos – e preocupa-se, principalmente, com a crise ecológica e a tomada de consciência ambientalista que vem ganhando força desde os anos 60 do século passado.
A equipe do portal UFMG conversou brevemente com o pesquisador sobre alguns dos temas que serão tratados na conferência. Confira a entrevista.
Quais são as questões atualmente colocadas na pesquisa e no ensino quanto à relação entre cidadania e meio ambiente?
Inegavelmente, a principal questão ambiental e da cidadania no Brasil neste momento, e acredito que nos próximos anos, está na exploração do petróleo em águas profundas, o chamado Pré-sal. Esta situação nos coloca diante de situações bastante preocupantes.
De um lado, tende-se a promover a renovação e o fortalecimento da indústria petrolífera, naval e automotiva, geração de empregos e receitas; de outro, há os conhecidos efeitos desastrosos: aquecimento global, poluição atmosférica, vazamentos e contaminação de solos e águas etc. A estas consequências, somam-se outros desequilíbrios, regionais, demográficos e econômicos, relacinados a atração e concentração de investimentos, mão de obra, população e infraestrutura em áreas já densamente ocupadas e com sérios problemas sociais e ambientais, que são as metrópoles do centro-sul do Brasil.
Como o senhor avalia a relação entre política e meio ambiente no Brasil?
É triste constatar que o modelo de desenvolvimento econômico adotado no Brasil, nos últimos 20 anos, não contempla as questões ambientais. Estamos reféns de um padrão fordista de busca do crescimento incessante da economia, no qual a produção e o consumo de bens e serviços são absolutamente fechados a qualquer solução de problemas ambientais. Aliás, estes são decorrência deste modelo econômico. São padrões insustentáveis em que a condição de produzir mais é a condição de consumir mais. Nesta equação, direitos sociais, salários, normas ambientais e sanitárias e direitos do consumidor representam custos marotamente identificados como obstáculos ao crescimento econômico. No Brasil do século 21, consumir melhor deveria ser a condição para produzir melhor, isto é, com menor impacto sobre o meio ambiente, preservação da qualidade de vida, evitando a monstruosa exploração do trabalho e cuidando das condições de moradia, transporte, saúde e educação da maioria da população. Cidadania e meio ambiente estão intimamente relacionados na construção do futuro sustentável para todos os brasileiros.
Qual o papel dos museus e como eles podem contribuir na relação entre cidadania e educação ambiental?
Os museus têm poder de atração e de comunicação extraordinário. Eles podem atuar com uma plataforma de ações que promovam a preservação do meio ambiente, educação ambiental e cidadania a partir de acervos, coleções e exposições extremante variados: históricas, de ciência e tecnologia, artes, etnográficos, da imagem e do som, arqueológicos, ecomuseus e mesmo os museus de culturas militares. Eles podem abordar temáticas oportunas para projetar um espírito de confiança no futuro e de desenvolvimento humano baseado na sustentabilidade, na promoção da biodiversidade, igualdade social, distribuição de renda e terra, do poder político e da cultura. Ou seja, os museus podem desempenhar papel educativo fundamental na construção de uma sociedade democrática, com justiça social e sustentabilidade ambiental no Brasil e na América Latina.