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O ex-embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, fez uma análise, na manhã de hoje, dos papéis que os dois países vêm desempenhando no processo de reconfiguração da geopolítica global. “As duas nações estão buscando remodelar a arquitetura mundial e transformar a ordem internacional em uma ordem mais multipolar, com o poder distribuído de forma mais igualitária”, disse ele, durante a conferência de abertura da I Jornada de Estudos Chineses, que está sendo realizada nesta quinta-feira, no Centro de Atividades Didáticas (CAD2). “É um processo que está começando, tendo como marco a criação dos Brics”, pontuou ele, que chefiou a representação brasileira em Pequim entre 2008 e o início deste ano. Em sua explanação, Hugueney destacou o futuro das relações sino-brasileiras e o que chamou de “rebalanceamento” da estrutura econômica da segunda maior potência do planeta. “Nos últimos 40 anos”, disse, “a China viveu uma ascensão sem precedentes na história do mundo. O momento-chave dessa ascensão é 1978, quando surgiu a China moderna. O país se transformou na segunda economia mundial, no maior exportador, no grande centro manufatureiro do mundo. Nesse contexto, duas palavras se consolidaram como de ordem: reforma e abertura”, contextualizou o diplomata. Foca Lisboa/UFMG Já o segundo desafio enfrentado pela China é mais profundo, na avaliação de Hugueney. Trata-se de implementar, de fato, a reforma já diagnosticada e planejada com precisão há algum tempo. “Os chineses são mestres no planejamento. Mas agora é a hora de passarem de um modelo extensivo para um modelo intensivo: de um modelo quantitativo – que objetiva a taxa de crescimento do produto interno – para um qualitativo, que visa melhorar a distribuição de renda e a qualidade de vida”, diagnosticou. Identidade O reitor disse estar acompanhando de perto a transformação vivida pela China nas últimas décadas, principalmente em função das sete viagens que fez ao país desde 2000. Para ele, o Brasil não pode pensar o seu desenvolvimento social, político e econômico sem levar em consideração o case da China. “Apesar de sermos tão distantes geograficamente, temos uma identidade de interesse múltiplo, recíproco. A China é uma sociedade com uma história bem mais longa e rica que a nossa, e pode nos inspirar e ensinar muito. Prospecção O diretor Fábio Alves detalhou as primeiras atividades em desenvolvimento pelo Centro de Estudos Chineses. “Estamos realizando um mapeamento prospectivo do que existe na Universidade no que diz respeito a relações e produção de conhecimento com e sobre a China. São atividades que, se ainda não são tão significativas no plano quantitativo, no qualitativo – e do ponto de vista de distribuição por unidades acadêmicas – são muito interessantes”, disse. A primeira parte da cerimônia de inauguração do CEC, que teve como ponto alto a conferência do diplomata, foi finalizada com o lançamento da pedra fundamental do novo prédio do Centro de Internacionalização da UFMG e com o fechamento de uma cápsula do tempo a ser aberta em 2028. Nela foram inseridos jornais do dia, fotos, clipping de notícias, imagens arquitetônicas do prédio, convite do evento e edições do Boletim UFMG que tratam de temas ligados à internacionalização, entre outros documentos.
“A China cresceu com taxas de poupança e de investimento muito grandes. O investimento foi o grande motor do crescimento chinês. E, nesse sentido, a aposta chinesa na globalização funcionou. No entanto, esse processo, agora, claramente chega a um ponto de esgotamento. É preciso tirar o foco do investimento, aumentar o consumo doméstico e transformar esse consumo em um novo modelo de crescimento”, apontou ele, lembrando que o Brasil curiosamente enfrenta desafio oposto, já que precisa direcionar o foco para a poupança e para o investimento em infraestrutura.
Campolina destacou a transformação da ordem global diante da ascensão de países como China e Brasil. “É um cenário em que outros países passam a protagonizar uma nova ordem mundial. Nesse contexto, a parceria do Brasil com a China se mostra ainda mais fundamental – especialmente no sentido da construção de um mundo mais harmônico, igualitário, mais adequado para se viver”, disse.
Em sua abordagem, o diretor de Relações Internacionais, Eduardo Vargas, recapitulou os cinco centros de estudos internacionais criados recentemente – africanos, europeus, latino-americanos, indianos e agora chineses – e lembrou a construção do novo prédio do Centro de Internacionalização da UFMG, obra que já está contratada e em andamento – e com recursos assegurados. Vargas fez também uma exposição das futuras instalações do Centro de Estudos Chineses.