Os “papelinhos”, como eram chamados os panfletos manuscritos que circularam nas ruas do Brasil e de Portugal às vésperas da Independência, revelam que, a poucos meses do Grito do Ipiranga, a ideia de um país independente estava longe de ser consensual. Trinta e dois panfletos, produzidos tanto por brasileiros autonomistas quanto por partidários da monarquia portuguesa, foram reunidos pelos historiadores José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcelo Basile na obra Às armas, cidadãos!, recém-publicada pela Editora UFMG em coedição com a Companhia das Letras. A obra está à venda nas livrarias da UFMG ao preço de R$ 42. Os documentos compilados pelos pesquisadores reconstituem os principais acontecimentos que resultaram no Sete de Setembro de 1822: a repercussão da Revolução Liberal do Porto, o regresso do rei d. João VI a Lisboa, as agitações militares em diversas províncias do Brasil e, por fim, a deflagração do movimento independentista centrado na figura do príncipe Dom Pedro. “Distribuídos de mão em mão, afixados nos postes ou lidos em voz alta para um público eletrizado e buliçoso”, segundo descreve o texto de apresentação da obra, tais panfletos revelam a atmosfera bélica que predominava na época, como este manuscrito pró-Coroa que circulou na Bahia: “Viva El-Rei Dom João, toda a Família Real, e a nova Constituição e morra tudo quanto é Ladrão.” Os organizadores Lúcia Bastos é doutora em história social pela USP e professora de história moderna na Uerj, enquanto Marcello Basile, doutor em história social pela UFRJ, é professor de história do Brasil na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
José Murilo de Carvalho é doutor em ciência política pela Universidade de Stanford. Foi pesquisador e professor visitante em diversas universidades estrangeiras. Professor do Departamento de História da UFRJ, é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2004.