O seminário Brasil contemporâneo: política, cultura e economia reuniu na manhã desta terça-feira, 11, no campus Pampulha, os professores Mariano Francisco Laplane (Unicamp) e José Murilo de Carvalho (UFRJ), que discutiram como essas dimensões estão inseridas na agenda de debates da opinião pública e no dia a dia da Universidade. O evento aconteceu na Sala de Sessões, no 4º andar da Reitoria. O painel foi conduzido pelo professor João Antônio de Paula, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Além dos professores convidados, compuseram a mesa o reitor Clélio Campolina e o futuro reitor Jaime Arturo Ramírez. Laplane levantou reflexões sobre como as questões econômicas são conduzidas atualmente no debate público. “A discussão acontece de maneira superficial e fugaz, com tendência à radicalização e mudança constante dos focos de análise". Segundo ele, isso pode ser explicado, em parte, pela multiplicação dos atores no debate – que inclui bancos, agências de mercado e mídia – e a configuração destes agentes numa sociedade complexa. Para o professor, essas divergências surgem dos embates entre governo e mercado, já que o primeiro, através de estabelecimento de uma nova política econômica, estaria empenhado em combater um “rentismo parasitário”, ou seja, diminuir os ganhos provenientes da especulação financeira no mercado de capitais. Laplane também fez considerações sobre a economia mundial e a situação do Brasil neste cenário. O professor acredita que o país pode ter um papel importante na recuperação do mercado, que ainda sofre reflexos da crise de 2008. “A crise mundial não está resolvida, pois as bases dos desequilíbrios não foram removidas. No caso do Brasil, temos uma transição a completar. Precisamos avançar do rentismo para o empreendedorismo”, pontuou. Economia, política e a ditadura Ao definir o movimento como "um golpe civil-militar", Carvalho enfatizou que deve ser levado em conta o apoio de diversos segmentos e atores sociais, como os governadores dos estados, a Igreja e grande parte da imprensa e da sociedade civil, por meio das marchas nas ruas. "O único período estritamente militar compreende os anos de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5, e 1979 (ano de reestabelecimento do pluripartidarismo no Brasil)”, disse. Nestes 50 anos, Carvalho avalia que foram muitas mudanças ocorridas no perfil da sociedade brasileira, com aumento da população e o grande contingente de pessoas vivendo em áreas urbanas. Com um olhar voltado para o período, o professor aponta o que foi acrescentado e o que falta ser desenvolvido na política brasileira. “Nossa herança negativa foi a falta de liberdade democrática e a criação de uma elite política durante o período", avalia. Como herança positiva ele aponta o fim das radicalizações entre as forças de disputa de poder. "Acrescentamos à política brasileira 30 anos de democracia, rotatividade de governos, instrumento e processos de avaliação pacíficos – como o impeachment, estabilidade monetária e liberdade de questionamento civil. Para o futuro, falta ainda um acerto de contas com este período, além de uma reforma do modelo de representação política”, concluiu.
Sobre as análises acerca do desempenho econômico do Brasil na última década, Laplane (em foto de Foca Lisboa/UFMG) comentou que o debate é marcado por momentos de euforia e depressão, tanto no mercado interno quanto no exterior. "Apesar de um resultado não tão bom nos últimos três anos, podemos considerar que há um cenário econômico estável, não está ruim”.
O segundo painel foi conduzido por José Murilo de Carvalho, ex-professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) que em 2001 foi agraciado com a medalha de honra UFMG Ex-aluno, concedida a egressos da instituição que tenham atuação de destaque na sociedade.
Carvalho (em foto de Foca Lisboa/UFMG) fez uma análise sobre os 50 anos do golpe militar de 1964, que serão completados neste mês de março. Segundo o professor, o contexto da época era composto pela soma de pressões diversas sobre o sistema político e a existência de uma dinâmica de polarização entre os setores de influência na sociedade.