Duas docentes do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) passam esta semana a integrar o quadro dos professores eméritos da UFMG. Maria Auxiliadora Roque de Carvalho, do Departamento de Microbiologia, e Maria Norma Melo, do Departamento de Parasitologia, recebem o título em solenidade nesta sexta-feira, 9, às 17h30, no auditório do Centro de Atividades Didáticas (CAD1). “São professoras muito queridas. A homenagem do ICB equivale a dizer para aqueles que ainda estão na vida ativa: mirem-se no exemplo”, resume o diretor do Instituto, Tomaz Aroldo da Mota Santos. Segundo ele, o percurso e as contribuições das homenageadas revelam sua dedicação “a uma ampla gama de atividades universitárias”, como professoras, pesquisadoras e integrantes de órgãos colegiados. “Nesta caminhada docente, tive o privilégio de participar na Unidade e na UFMG de quase todos os órgãos da administração acadêmica, alguns dos quais em momentos distintos da estrutura organizacional”, relembra Maria Auxiliadora Roque de Carvalho. Tomaz Aroldo observa que ambas foram alunas da antiga Faculdade de Odontologia e Farmácia, de 1962 a 1965. Enquanto Maria Auxiliadora se graduou em Odontologia, Norma Melo concluiu Farmácia Química. Criados os institutos em 1968, deram continuidade às suas carreiras como docentes e pesquisadoras em dois Departamentos do ICB. “Entrei na UFMG como aluna e nunca mais saí”, comenta Norma Melo”. Outro ponto comum às trajetórias das duas homenageadas é a atuação como professoras voluntárias depois da aposentadoria. “A condição de professor voluntário ou de colaborador decorre da consciência de poder contribuir, de alguma maneira, na formação do estudante. É pelo privilégio de se poder fazer o que amamos, e que assim seja até quando a lucidez o permitir”, afirma Maria Auxiliadora, em meio à rotina em sala de aula e como orientadora. Nos projetos do seu grupo de pesquisa, executados e em andamento, com integração interdisciplinar, ela responde pela formação de recursos humanos, da iniciação científica ao doutorado. Ao falar do seu “imenso orgulho por continuar sendo da UFMG”, Norma Melo avisa que “enquanto a cabeça der conta e o corpo estiver funcionando”, vai manter suas atividades. “Tenho ainda dois alunos de doutorado, uma de iniciação científica e um de mestrado”, explica. Para Maria Auxiliadora, o amor à Instituição implica comprometimento em todas as atribuições assumidas, “e cada passo tem sua relevância na forma de enfrentar cada novo desafio”. Reconhecimento “Fiquei muito feliz, porque esse é um título importante, um reconhecimento com o qual a Universidade procura manter e chamar de volta pessoas que ficaram aqui por muito tempo e que contribuíram de alguma forma”, diz Norma Melo. Maria Auxiliadora explica que em sua vida optou pela Universidade porque acreditou e acredita na Instituição. “E nela me faço mais humana, ao ocupar-me do papel a que me propus”, completa. Cada uma em seu percurso, ambas tornaram-se pesquisadoras de destaque e, segundo Tomaz Aroldo, deram relevantes contribuições na própria formação do ICB e de seus programas de pós-graduação. “Jovens ainda, foram do grupo fundador do Instituto. Já na pós-graduação, pode-se dizer que foram fundadoras em dois sentidos: como alunas e depois como integrantes do corpo docente desses programas”, destaca o diretor do ICB, que também aponta “a atuação relevante na administração da Universidade, desde os departamentos aos órgãos de deliberação superior”. Cidadania Norma Melo também continua a gostar do contato com os alunos. “Falo que os estudantes de graduação são como pardais, chilreando lá embaixo. A gente passa, ouve e fica feliz”, brinca ela, comentando que o modo de ensinar mudou muito e se tornou mais interativo. “Penso que a Universidade é onde se aprende a pensar, construir, modificar e acolher aqueles que chegam e ser acolhida também por eles”. A professora lembra ainda que não basta ensinar a matéria que se está lecionando, mas ir além, “dar um pouco de cidadania, mostrar o que é a parasitologia no contexto de um país como o Brasil, onde não há saneamento básico, tratamento de água, infraestrutura para a saúde”. Em sua opinião, isso é fundamental para que os futuros profissionais “possam servir à sociedade da melhor maneira possível, tecnicamente e com cidadania”. Ética “Obviamente, os benefícios ou os ônus da exploração deste potencial dependerão da consciência crítica e dos valores que a sociedade humana pretender preservar”, diz, com a experiência de quem foi membro titular do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG de 2005 a 2011. Líder do grupo de pesquisa Bacteriologia de Anaeróbios e Oral, observa que a ciência tem seus limites, sendo único cada momento histórico. Em sua opinião, os valores do bem devem acompanhar a nossa percepção do mundo, “pois o bem do ser humano não existe fora do social”. Para ela, o irreversível avanço científico-tecnológico, em muitos aspectos essenciais, tem, também, aumentado as distorções sociais, ao concentrar riquezas e poder, “na medida em que consentimos ou ignoramos o descompasso da pesquisa, da ciência e da tecnologia com a ética”. Ela diz sentir que as implicações éticas do avanço do conhecimento não estão sendo abordadas com a devida atenção, e exemplifica, ao citar as implicações éticas da definição de marcadores genéticos microbianos, que poderão discriminar os indivíduos, estigmatizar, à semelhança do que ocorreu com o HIV. “Se o avanço científico e tecnológico é necessário e irreversível, cabe a todos nós, pesquisadores-docentes, enfrentar os desafios das transgressões éticas, assumindo comprometidamente, o papel de educadores”, alerta.
O título de Emérito é concedido pela UFMG aos docentes aposentados que se destacaram no exercício da atividade acadêmica, no ensino, pesquisa e extensão. Para o diretor do ICB, ao prestar a homenagem, o Instituto reconhece que tem entre seus quadros professoras que tiveram destacada vida acadêmica. “Feliz da instituição que tem eméritos”, observa.
Fotos: Foca Lisboa/UFMG
“Na área de pesquisa sempre procurei aquilo que fosse útil para a população, para o país”, afirma Norma Melo, ressaltando seu orgulho por ter trabalhado na vacina para leishmaniose tegumentar, sob o comando do professor Wilson Mayrink, além de ter preparado o antígeno de Montenegro, usado no diagnóstico da mesma doença. Liberada pelo Ministério da Saúde, a vacina imunoterápica (não profilática) é usada por pacientes com leishmaniose tegumentar. “O uso da vacina reduz o número de doses do medicamento e, portanto, a toxicidade do tratamento. Tenho muita alegria por ter participado desses dois projetos”, diz.
Encantada com a Microbiologia, que considera “uma ciência mágica”, Maria Auxiliadora Roque de Carvalho comenta que cada vez mais se reconhece o potencial extraordinário dos microrganismos do ponto de vista biotecnológico, em vários aspectos de interesse humano.