A que conclusões é possível chegar ao se ler ou ouvir reportagens sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro? Estudos desenvolvidos por especialistas em análise do discurso demonstram que a mídia pauta a opinião pública – e que as abordagens de temas como esse são muitas vezes enviesadas, o que leva a entendimentos incompletos. Com o intuito de promover a reflexão sobre essas questões, a professora Glaucia Muniz Proença Lara, da Faculdade de Letras, fará uma comunicação nesta sexta-feira, dia 16, na Fale, com o seguinte tema: O dito e o silenciado em reportagens sobre tráfico de drogas no Rio de Janeiro. A exposição acontece na sala 4004, às 14h, e integra o seminário de pesquisa do Núcleo de Análise de Discurso da UFMG (NAD), coordenado pelo professor Wander Emediato. Em sua fala, Glaucia fará uma síntese de uma das abordagens feitas pela doutora Carla Leila Oliveira Campos na tese O processo de construção das narrativas midiáticas como marca da ideologia no discurso: uma análise de histórias sobre a criminalidade associada ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro. A tese foi orientada por Glaucia e defendida pela pesquisadora junto ao Programa de Pós-graduação em Linguística (Poslin) em 2012. Na tese, foi analisado um conjunto de três reportagens de três revistas semanais – Veja, Istoé e Carta Capital – sobre a ocupação do Morro do Alemão em 2007, ocasião em que foi demonstrado como as abordagens feitas nas revistas colaboram para uma perspectiva parcial e tendenciosa dos acontecimentos. “A tese mostra que, na mídia, falou-se muito em ‘combate à criminalidade’, no uso da força do Estado, inclusive a força militar. No entanto, não se falou nos motivos que levam as pessoas à criminalidade, que é a ausência do Estado, a falta de assistência por parte do Estado. Nesse tipo de reportagem, não se busca explicitar as origens do crime”, explica Glaucia. Nesse sentido, o objetivo é demonstrar como as relações estabelecidas pela mídia entre texto e conjuntura social procuram construir e legitimar determinados sentidos, ao tempo em que desconstroem e deslegitimam outros – muitas vezes por meio do silenciamento. “Esse foi um dos principais temas silenciados: os motivos que levam as pessoas à criminalidade. Na mídia, perspectivas relevantes como essa não são abordadas”, pontua. Para Glaucia, quando sustentam um discurso que associa as origens da criminalidade à impunidade (sem levar em conta o contexto complexo em que a criminalidade se insere, como a omissão do Estado), e que prega o uso da força policial e até mesmo militar em seu combate, as reportagens inviabilizam e silenciam outros dizeres. A participação no seminário é gratuita. A tese de Carla Leila Oliveira Campos pode ser acessada por meio deste link.