O objetivo do estudo foi compreender as representações de profissionais que atuam nos serviços de saúde mental da rede pública de Minas Gerais sobre a sexualidade de pessoas com transtornos mentais. Por meio de seis grupos focais realizados com 54 trabalhadores que atuam em serviços públicos de saúde mental de Minas Gerais, a pesquisa concluiu que a maioria não promove ações específicas sobre sexualidade com os usuários. “Muitos profissionais relatam que essa dificuldade vem desde a formação profissional. Na formação acadêmica oferecida pelas universidades, não há, de forma geral, uma abordagem permanente sobre a sexualidade que os habilite a lidar com esse aspecto no cuidado em saúde”, relata Marina Celly. Entre os participantes da pesquisa, figuraram psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, dentistas, administradores e terapeutas ocupacionais. “Os profissionais parecem se engajar prioritariamente no tratamento do transtorno mental e não consideram outras demandas dessas pessoas, entre elas, a promoção da saúde sexual”, afirma a pesquisadora. Outra razão pela qual o assunto é deixado de lado nos atendimentos está atrelada à própria vivência da sexualidade por parte dos profissionais: “Se é um tabu para eles mesmos, não há abertura para o diálogo com o usuário”, argumenta Marina. O estudo também se propôs a descortinar as dificuldades vivenciadas por esses profissionais. Entre as queixas recorrentes está a sobrecarga de trabalho: “Alegaram que não têm tempo sequer para o cuidado, por isso a sexualidade é relegada ao segundo plano”, resume a autora do estudo. Integralidade A pesquisadora também vê a questão da sexualidade como parte integrante dos direitos humanos, “o que pressupõe sua vivência como prerrogativa do sujeito, tornando essa abordagem essencial nos serviços de saúde, incluindo os de saúde mental”. A tese de Marina Celly resultou na construção de duas categorias teóricas. A primeira, Roteiros culturais e formação acadêmica, revelou que os trabalhadores da saúde mental têm representações fundadas em sua própria vivência. “No que diz respeito às representações sobre sexualidade, parece-nos que a formação profissional não foi capaz de suplantar as do senso comum”, afirma. A segunda é o que denomina de Promoção da saúde sexual e vulnerabilidade. “Apesar das pessoas com transtornos mentais estarem, em geral, em condição de maior vulnerabilidade social, observa-se que isso não é fator determinante para o investimento em ações de promoção da saúde sexual”, conclui a recém-doutora. Tese: Representações de profissionais da saúde mental sobre sexualidade de pessoas com transtornos mentais (Matheus Espíndola/Boletim 1865) A elevada prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) entre portadores de transtorno mental serve de alerta: essas pessoas têm vida sexual ativa e alguma coisa precisa ser feita para protegê-las. Foi esse o ponto de partida da tese de doutorado defendida por Marina Celly Martins Ribeiro de Souza [em foto de Rosânia Felipe] na Escola de Enfermagem, no dia 9 de maio.
Uma das diretrizes que orientam o Sistema Único de Saúde (SUS) diz respeito à concepção de que cada pessoa tem múltiplas demandas e, por essa razão, precisa ser cuidada integralmente. “Embora o paciente tenha um transtorno mental, suas outras necessidades clínicas e psicossociais também devem receber atenção. Esse é o princípio da integralidade”, sustenta Marina Celly Souza.
Autora: Marina Celly Martins Ribeiro de Souza
Orientadora: Maria Imaculada de Fátima Freitas
Defesa: 9 de maio no Programa de Pós-graduação – Doutorado em Enfermagem
Financiamento: Fapemig, Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS) e Secretaria de Saúde de Minas Gerais