Universidade Federal de Minas Gerais

Profissionais de saúde mental ignoram abordagem sobre sexualidade no cuidado a seus pacientes, aponta pesquisa

quarta-feira, 28 de maio de 2014, às 8h12

Marina%20Celly.jpg A elevada prevalência de infecções sexualmente ­transmissíveis (ISTs) entre portadores de transtorno mental serve de alerta: essas pessoas têm vida sexual ativa e alguma coisa precisa ser feita para protegê-las. Foi esse o ponto de partida da tese de doutorado defendida por Marina Celly Martins Ribeiro de Souza [em foto de Rosânia Felipe] na Escola de Enfermagem, no dia 9 de maio.

O objetivo do estudo foi compreender as representações de profissionais que atuam nos serviços de saúde mental da rede pública de Minas Gerais sobre a sexualidade de pessoas com transtornos mentais.

Por meio de seis grupos focais realizados com 54 trabalhadores que atuam em serviços públicos de saúde mental de Minas Gerais, a pesquisa concluiu que a maioria não promove ações específicas sobre sexualidade com os usuários. “Muitos profissionais relatam que essa dificuldade vem desde a formação profissional. Na formação acadêmica oferecida pelas universidades, não há, de forma geral, uma abordagem permanente sobre a sexualidade que os habilite a lidar com esse aspecto no cuidado em saúde”, relata Marina Celly.

Entre os participantes da pesquisa, figuraram psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, dentistas, administradores e terapeutas ocupacionais. “Os profissionais parecem se engajar prioritariamente no tratamento do transtorno mental e não consideram outras demandas dessas pessoas, entre elas, a promoção da saúde sexual”, afirma a pesquisadora.

Outra razão pela qual o assunto é deixado de lado nos atendimentos está atrelada à própria vivência da sexualidade por parte dos profissionais: “Se é um tabu para eles mesmos, não há abertura para o diálogo com o usuário”, argumenta Marina.

O estudo também se propôs a descortinar as dificuldades vivenciadas por esses profissionais. Entre as queixas recorrentes está a sobrecarga de trabalho: “Alegaram que não têm tempo sequer para o cuidado, por isso a sexualidade é relegada ao segundo plano”, resume a autora do estudo.

Integralidade
Uma das diretrizes que orientam o Sistema Único de Saúde (SUS) diz respeito à concepção de que cada pessoa tem múltiplas demandas e, por essa razão, precisa ser cuidada integralmente. “Embora o paciente tenha um transtorno mental, suas outras ­necessidades clínicas e psicossociais também devem receber atenção. Esse é o princípio da integralidade”, sustenta Marina Celly Souza.

A pesquisadora também vê a questão da sexualidade como parte integrante dos ­direitos humanos, “o que pressupõe sua vivência como prerrogativa do ­sujeito, tornando essa abordagem essencial nos serviços de saúde, incluindo os de saúde mental”.

A tese de Marina Celly resultou na construção­ de duas ­categorias teóricas. A primeira, Roteiros ­culturais e formação acadêmica, revelou que os ­trabalhadores da ­saúde mental têm representações ­fundadas em sua ­própria vivência. “No que diz respeito às representações sobre ­sexualidade, parece-nos que a formação profissional não foi capaz de suplantar as do senso comum”, afirma.

A segunda é o que denomina de Promoção da saúde sexual e vulnerabilidade. “Apesar das pessoas com transtornos mentais estarem, em geral, em condição de maior vulnerabilidade social, observa-se que isso não é fator determinante para o investimento em ações de promoção da saúde sexual”, conclui a recém-doutora.

Tese: Representações de profissionais da saúde mental sobre sexualidade de pessoas com transtornos mentais
Autora: Marina Celly Martins Ribeiro de Souza
Orientadora: Maria Imaculada de Fátima Freitas
Defesa: 9 de maio no Programa de Pós-graduação – Doutorado em Enfermagem
Financiamento: Fapemig, Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS) e Secretaria de Saúde de Minas Gerais

(Matheus Espíndola/Boletim 1865)