Hoje, um usuário do sistema de saúde mental conta com atendimento completamente distinto do que era oferecido antes dos anos 1980, tempo em que a assistência às pessoas com sofrimento mental era marcada por violência e desrespeito aos direitos humanos. No próximo dia 15 de setembro, segunda-feira, às 14h, o auditório Luiz Bicalho da Fafich recebe o 1º Encontro Conexão Brasil-Itália, evento que vai celebrar a mudança da política de saúde mental brasileira em direção aos direitos humanos. No Encontro, aberto ao público, será apresentado o resultado da pesquisa A História da política de saúde mental: Minas Gerais e conexões com a Itália, resultado de investigação que durou três anos. Em seguida, haverá debate com convidados e participantes da pesquisa e o registro de depoimentos sobre a questão da saúde mental. “Penso neste evento como uma celebração da memória dos que chamo de ‘menestréis da insensatez’. Receberemos várias lideranças e militantes da reforma psiquiátrica, como Miriam Abouy-id, uma das principais lideranças da luta antimanicomial”, lembra Maria Stella Brandão Goulart, professora do Departamento de Psicologia da Fafich e coordenadora do Programa de Extensão à Saúde Mental (Pasme), que promove o evento. O Encontro também contará com a participação de Ernesto Venturini, que vai falar sobre sua trajetória de atuação em prol da reforma psiquiátrica brasileira. “Ele foi o responsável por fechar a Barbacena que existia na Itália. É um herói da reforma psiquiátrica italiana que colaborou muito conosco a partir dos anos 90. É um grande amigo da reforma psiquiátrica brasileira”, informa Maria Stella Goulart. O ano em que a dor cessou No ano em questão, foi realizado o 3º Congresso Mineiro de Psiquiatria e lançado o filme Em nome da Razão, de Helvécio Ratton, que denunciava o cotidiano dos pacientes internados no Hospital Colônia de Barbacena. Além disso, o jornal Estado de Minas publicou naquele ano uma série de reportagens denominada Nos porões da loucura. “De lá para cá, os direitos dos cidadãos que se encontram nessa situação se expandiram de forma radical. Antes, eles não tinham direito algum. O ‘final do corredor’ era de fato a morte”, lembra Stella Goulart. Hoje, em contrapartida, a internação em hospitais psiquiátricos só ocorre em casos extremos. “Nesse sentido, o objetivo de realizarmos um evento como este é a memória. Porque temos de ser capazes de lembrar. Não podemos nos esquecer da violência que reinava como regra no Brasil até os anos 1980”, finaliza a professora. Outras informações sobre o Encontro podem ser obtidas pelo e-mail conexaobrasilitalia@gmail.com.
O ano-chave para a mudança na política de saúde mental brasileira é 1979, quando ocorreram três eventos decisivos para a mudança da percepção sobre como deve ser a assistência oferecida a pessoas com sofrimento mental.