Fotos de Thais Coimbra |
Centenas de pesquisadores das “artes da presença” reuniram-se na noite desta sexta, 31, no campus Pampulha, para a abertura do 8º Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas (Abrace). O evento, que segue até a próxima terça, 4, tem como tema Arte, corpo e pesquisa na cena: experiência expandida. O encontro inaugural contou com palestra do professor Jorge Larrosa Bondia, da Universidade de Barcelona. O Congresso foi aberto oficialmente pelo pró-reitor adjunto de Pós-graduação da UFMG, Humberto Stumpf. Bya Braga, diretora da Escola de Belas-Artes (EBA), destacou que a pesquisa em artes cênicas celebra a “criação de algo que nos diferencia no mundo”. Defendeu que não se deve ter medo do desconhecido e da transformação e que é preciso renovar repertórios continuamente ao se tratar as artes cênicas como caminho de conhecimento. A professora Mariana Muniz, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes, exaltou o congresso como importante espaço de discussão das políticas de pós-graduação, estabelecimento de redes e fortalecimento das artes cênicas. Ao fechar a solenidade de abertura, o professor Arnaldo Alvarenga, que encerra gestão de dois anos à frente da Abrace, afirmou que a instituição é fruto do esforço e do desejo de todos os seus integrantes e destacou a programação do evento, que conta com participação de pesquisadores estrangeiros e lançamento de 32 novos títulos, além da realização de grupos de trabalho e oficinas. Essa crise seria, segundo ele, “o intervalo em que estamos perdendo uma língua, em que experimentamos que a língua que tínhamos não é mais dizível, se faz impronunciável. Nesse intervalo, não gostamos do que fazemos, mas não sabemos o que vamos fazer. Estamos à espera de uma outra língua, que talvez seja impossível porque não somos capazes de imaginá-la”. Larrosa definiu como “palavra muda” uma nova língua possível, em forma de vibração que “trabalha sobre a língua perdida”. Ele acrescentou que a língua de que ele trata pode ser encarada como a maneira de estar no mundo. O professor espanhol explicou a categoria experiência, criada por ele para explorar a crise criativa. “Construí a experiência como categoria vazia, uma espécie de quebra ou ponto cego que se passa quando não sabemos o que se passa, sobretudo porque não depende de nós, de nosso saber ou de nossa vontade”, disse Larrosa, que fez sugestões de metodologia para trabalhar a experiência do estudante no ensino das artes.
'Artista mudo'
Jorge Larrosa Bondia tomou como ponto de partida de sua apresentação o texto clássico A carta de Lorde Chandos, de Hugo von Hofmannsthal, que ele classifica como “crônica de um emudecimento”. A experiência do personagem principal, que perde a fala, é transportada pelo professor espanhol para o campo das artes. “Quando o artista perde seus recursos retóricos, sua língua estética, é hora de explorar essa crise criativa”, disse o filósofo da educação, que acaba de lançar no Brasil o livro Tremores – escritos sobre experiência (editora Autêntica).