A fecundidade no Brasil sempre foi muito precoce. Segundo Carvalho, as mulheres brasileiras costumavam constituir proles numerosas ainda muito jovens, na faixa de 15 a 24 anos. Com o surgimento da pílula anticoncepcional e de outros métodos contraceptivos, as mulheres, no entanto, passaram a postergar a gravidez para se dedicar aos estudos e ao trabalho. Não ter filhos também se tornou comum. Com isso, a partir da década de 1970, já é possível observar um declínio da taxa de fecundidade no país. “Na década de 1960, era comum ter muitos filhos; a média era de 5,8 nascidos vivos por mulher. Em 2010, esse número caiu para 1,9 filho, e a projeção para 2030 é de que cada mulher tenha apenas 1,51 filho", estimou o professor. Ele ressaltou ainda que, apesar da crença de que apenas a classe média está reproduzindo menos, o declínio é generalizado e irreversível e indica mudança de grande impacto na estrutura etária da população. “As pessoas estão vivendo mais, isso é fato. Mas como ninguém mais quer ter muitos filhos, o número de jovens está cada vez menor. As gerações estão diminuindo a cada ano, a ponto de não conseguirem repor a população. Se há algumas décadas o medo era acolher uma superpopulação, hoje a preocupação é com a falta dela”, alertou. Economia em crise De acordo com o professor, a geração atual é a mais prejudicada pela nova realidade, pois terá de se esforçar muito mais para viver bem. “Eles não podem sonhar com a mesma vida dos pais porque não terão acesso aos mesmos benefícios, como aposentadoria. Outro problema é que a taxa de desemprego está baixa agora porque o número de jovens que ingressam no mercado de trabalho é menor, mas ainda faltam vagas para os novos profissionais”, disse. Apesar dos problemas ocasionados pela mudança na concentração etária da população brasileira, Carvalho ressaltou que os números podem indicar novos caminhos para o desenvolvimento do país. “A demografia é uma ciência estável, permite que sejam pensadas políticas públicas em longo prazo. Como o número de crianças e adolescentes está diminuindo, agora é uma grande oportunidade para investir na juventude e formar gerações de profissionais mais capacitados. É tudo uma questão de planejamento”, finalizou o professor. “A população brasileira está ficando velha, e isso vai afetar profundamente a estrutura do nosso país.” Esse alerta foi dado pelo professor emérito da UFMG José Alberto Magno de Carvalho [em foto de Silvia Dalben/divulgação], um dos pioneiros dos estudos populacionais no país. Amparado por dados do censo e de outras pesquisas, ele abordou as consequências desse envelhecimento na palestra O novo padrão demográfico brasileiro, realizada na manhã desta quarta-feira, 11 de fevereiro, no Conservatório UFMG.
Magno de Carvalho explicou que, apesar da alta longevidade ser um bom indicativo de qualidade de vida, o envelhecimento da população afeta a estrutura do país em vários aspectos. “Um exemplo é o aumento no número de aposentados e pensionistas, que acaba pesando no orçamento nacional e afetando o sistema de previdência social.”