Universidade Federal de Minas Gerais

Luiza Ananda/UFMG
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Zélia Lobato (segunda à esquerda) e equipe: pesquisa aplicada

Estudo da Escola de Veterinária sugere que o 'Vaccinia virus' pode ser transmitido pelo consumo de leite contaminado

segunda-feira, 15 de junho de 2015, às 15h09

A possibilidade de transmissão do Vaccinia virus (VACV) pelo consumo de leite contaminado é objeto de artigo de pesquisadores da UFMG, recém-publicado na revista acadêmica Plos One, editada pela Public Library of Science dos Estados Unidos. O estudo alude a pesquisas anteriores que revelavam a presença de anticorpos do vírus em seres humanos que não tinham contato com vacas afetadas, o que sugere que outras vias de transmissão são possíveis, como o consumo de leite e de derivados contaminados com o vírus.

“Há algumas vias de transmissão do VACV, o causador da vaccínia bovina (VB), totalmente estabelecidas”, esclarece a professora Zélia Lobato, do Laboratório de Pesquisa em Virologia Animal (LPVA), do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, da Escola de Veterinária da UFMG. Ela cita, por exemplo, o contato do ordenhador com lesões nas mãos com as tetas da vaca doente.

A VB também é transmitida da vaca para o bezerro no ato da mamada. O artigo, que tem como primeira autora a doutoranda Izabelle Silva Rehfeld, descreve que anticorpos neutralizantes foram detectados entre o vigésimo e o trigésimo dia após a infecção em 50% dos camundongos infectados com leite experimentalmente contaminado com VACV.

“Os resultados revelaram que leite contaminado pelo vírus pode ser o caminho para transmissão nos camundongos testados, apresentando distribuição sistêmica e eliminação viral pelas fezes e mucosa oral, embora sem apresentar nenhum sinal clínico”, afirma a professora. Outra linha de pesquisa em andamento avalia o efeito da maturação do queijo na viabilidade do vírus.

Essas linhas de estudo integram vasto campo de investigação desenvolvido na UFMG desde o início dos anos 2000, em parceria entre grupos da Escola de Veterinária e do Instituto de Ciências Biológicas, liderados, respectivamente, pelas professoras Zélia Lobato e Erna Kroon.

A zoonose não letal causada pelo VACV, sem tratamento específico, afeta gado leiteiro e seres humanos, com impacto econômico e na saúde pública. A VB se caracteriza por ulcerações na pele, que duram de 15 a 20 dias, até a cicatrização total, tanto no homem quanto no animal.

Enquanto a equipe da professora Erna Kroon se concentra nos estudos das características moleculares e fenotípicas do VACV e em alguns aspectos da patogenia da VB, Zélia Lobato e seu grupo trabalham com a pesquisa aplicada, que inclui levantamentos epidemiológicos em propriedades rurais, infecção experimental de bovinos, presença e viabilidade do vírus em produtos lácteos.

Na linha de prevenção contra a VB, a aluna de doutorado Ana Carolina Diniz Matos, orientada pela professora Zélia Lobato, está realizando as etapas finais de sua tese que consiste em desenvolvimento de vacina para bovinos. Testada em camundongos e depois em novilhas, a vacina protegeu 100% dos animais submetidos ao experimento. “Foi feito o acompanhamento da parte clínica, da resposta de anticorpos produzidos e da imunidade celular”, ­informa a professora.

Controle em fazendas
Levantamento que resultou na tese de doutorado de Marieta Cristina Madureira determinou o perfil das fazendas onde ocorre a VB: são, em sua maioria, propriedades de pequeno e médio portes que utilizam ordenha manual e reúnem rebanhos mestiços. O estudo também observou queda em torno de 25% na produção do leite e prazo médio de 30 dias para a recuperação da produtividade.

Com relação à transmissão entre fazendas, Marieta Madureira concluiu que ela ocorre pela compra de animais doentes, por meio de ordenhadores infectados e pelo manuseio de latões que abastecem tanques de expansão comunitários, os quais conservam leite refrigerado de várias propriedades.

Outros aspectos foram observados no trabalho de campo realizado em diversas áreas da região Sudeste, mas havia questões que só poderiam ser avaliadas em experimento prático desenvolvido em ambiente isolado e biologicamente controlado.

A pesquisa de grande porte, da qual já resultaram duas teses, duas dissertações e um pós-doutorado, feita em parceria com o Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (Lanagro-MG), do Ministério da Agricultura, reproduziu experimentalmente a doença em vacas que produziam leite.

“Inoculamos o vírus que tínhamos isolado em parceria com a professora Erna Kroon”, comenta Zélia Lobato. Segundo ela, a intenção era descobrir, por exemplo, se as partículas virais viáveis, isto é, capazes de se multiplicar, encontradas no leite das vacas naturalmente infectadas, resultavam da contaminação do processo de ordenha. “O experimento revelou que o leite sai do úbere já contaminado porque a VB produz uma infecção sistêmica, apesar de só apresentar lesões nas tetas”, informa.

Entre as várias conclusões resultantes da pesquisa está a certeza de que o vírus continua presente no leite até 33 dias após o início da infecção e no sangue e nas fezes do animal por, pelo menos, 60 e 67 dias, respectivamente. Também foi possível observar que os animais ficaram totalmente curados, sem lesão, 22 dias depois da infecção e que animais reinfectados adoecem de forma diferente, com lesões mais brandas, que desaparecem em seis dias.

“Vimos nesse experimento a oportunidade de produzir queijos com leite naturalmente contaminado e observamos que o vírus persistia no queijo produzido com leite cru e no soro do queijo”, relata a professora Zélia Lobato.

Os pesquisadores ainda não conseguiram perceber correlação entre a ingestão do leite contaminado com vírus e o surgimento da doença em humanos. A professora da Escola de Veterinária comenta que, em regiões de surto de VB, seriam esperadas notificações de casos de lesões na boca, faringe ou esôfago de humanos, devido à ingestão do vírus, como ocorre, em casos já relatados envolvendo uma subespécie do VACV que acomete búfalos na Índia.

“Não se observa no serviço de saúde brasileiro, nas regiões de surto, aumento do número de comunicações”, pondera Zélia Lobato. Uma das razões, infere a professora, é o hábito de ferver o leite ou a ingestão do leite pasteurizado, o que inativaria o vírus.

Coordenado pela professora Zélia Lobato, o Laboratório de Pesquisa em Virologia Animal, onde são desenvolvidos os estudos sobre o VACV, reúne os pesquisadores Maria Isabel Maldonado Guedes, Izabelle Silva Rehfeld, Ana ­Carolina Diniz Matos, Érica Azevedo Costa, Júlio César Câmara Rosa e Daniel Vieira.

(Ana Rita Araújo/Boletim 1908)

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