Fotos: Matheus Espíndola/UFMG |
A institucionalização das políticas de igualdade por meio da criação de pró-reitorias, coordenadorias ou diretorias é fator decisivo para que as ações afirmativas nas universidades públicas garantam a efetiva inclusão de estudantes de camadas sociais desfavorecidas. A avaliação foi feita na noite desta quinta-feira, 2, pelo secretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Crispim Sena Barros, na abertura do primeiro Fórum de Ações Afirmativas de Minas Gerais, no auditório da Reitoria da UFMG. Como exemplo, o secretário citou a criação, no ano passado, da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UFMG. “Foi um avanço substancial para uma área [que até então funcionava como diretoria], que já lidava com assuntos relacionados à questão estudantil", afirmou Ronaldo Barros, que representou no evento a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes. O secretário lembrou que a presença de estudantes negros na universidade brasileira aumentou 233% na última década e que o grande desafio agora é manter esse estudante em sala de aula e ampliar seu acesso à pós-graduação. Ronaldo Barros também analisou a situação racial no país, que, em sua visão, ainda é muito desfavorável aos negros. "Ainda existe grande resistência de alguns setores em se discutir as sequelas que a escravidão deixou no país", afirmou. Para ele, a inclusão de jovens negros nas universidades é fundamental para mudar esse quadro. “No dia em que as instituições de ensino cumprirem, de fato, o que a lei manda, assegurando o acesso e, especialmente, a permanência dos estudantes negros, aí, sim, veremos a vitória do povo negro”, disse. A vice-reitora Sandra Goulart Almeida [foto] destacou o papel da escola na construção de uma nação mais justa. “É o lugar onde o projeto de um país igualitário ganha força", afirmou. “É preciso coragem para promover as discussões necessárias e efetivar as mudanças”, acrescentou. O pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis, Rodrigo Ednílson de Jesus, disse que as políticas afirmativas devem ser pautadas “nas pessoas, em suas angústias e nos seus saberes”. E completou: “Precisamos afirmar as potências, historicamente desprezadas, das minorias”. Engajamento e ocupação “Para negros, indígenas, trabalhadores rurais e outras minorias, ascender ao universo acadêmico é uma atitude ousada, de engajamento e ocupação. Lutamos contra o esquecimento", afirmou Amarildo. Apesar de reconhecer que a questão do acesso de negros à universidade registrou, nos últimos anos, conquistas “legais, práticas e conceituais”, Cláudia Marques afirmou que ainda existe “um abismo” a ser superado para que o acesso e permanência sejam alcançados em sua plenitude. A professora questionou a efetividade do Programa Bolsa Permanência [auxílio financeiro do governo federal a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, indígenas e quilombolas]. “É preciso mais do que a oferta de bolsas para jovens quilombolas, que, em sua maioria, nunca tiveram referências sobre o ensino superior e mal conseguem sair da comunidade. Quantos quilombolas hoje desfrutam desse benefício? Como é a divulgação desse programa? Há algum acompanhamento? Tudo isso precisa ser repensado", defendeu Cláudia Marques. Impactos A programação prossegue hoje e amanhã com apresentações de experiências de políticas afirmativas em curso, em instituições mineiras, e reuniões de grupos de trabalho. Hoje, às 10h, no auditório da Reitoria, os professores André Lázaro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e Adilson Pereira dos Santos, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), discutem, em mesa-redonda, a situação do ensino superior no Brasil e em Minas Gerais. Confira a agenda.
Convidados da mesa inaugural do Fórum, os professores Amarildo Horácio (da Secretaria de Educação de Minas Gerais) e Cláudia Marques (do Programa de Ações Afirmativas da UFMG), oriundos, respectivamente, de um assentamento de trabalhadores sem-terra e da comunidade quilombola dos gurutubanos, do Norte de Minas, relataram suas experiências e analisaram as políticas brasileiras de inclusão.
O Fórum reúne na UFMG gestores de instituições de ensino superior sediadas em Minas Gerais e das redes de ensino médio, pesquisadores e lideranças estudantis e dos movimentos sociais para discutir o impacto das ações afirmativas nas universidades, no ensino médio e nas comunidades de origem dos jovens contemplados por essas políticas.