Fotos de Fernanda Wardil/UFMG |
Na tarde de ontem, 3, as professoras Heloísa Starling, do Departamento de História da UFMG, e Lilia Schwarcz, do Departamento de Antropologia da USP, ministraram a aula inaugural do segundo semestre da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Lilia e Heloísa falaram para plateia de calouros, docentes da UFMG e estudantes de ensino médio que lotaram o auditório Sonia Viegas. Na comunicação de pouco mais de uma hora, as autoras de Brasil: uma biografia atravessaram a história do país, do sistema escravocrata ao momento presente, na intenção de desvendar os dispositivos que influenciaram em sua constituição – e, por conseguinte, na constituição dos seus habitantes. “História é jogo de lembrar, mas também jogo de esquecer", afirmou Lilia Schwarcz. Nesse sentido, sua exposição foi pautada pelo interesse em lançar luz para os esquecimentos que compõem a nossa história e que acabaram colaborando, por vias tortas, para a formação do país. A chave de compreensão desse processo, na avaliação das duas historiadoras, está na fundação escravocrata do país. No entendimento de Lilia, mais do que um sistema, a escravidão é uma linguagem por meio da qual o país, ainda hoje, se constitui e segue o seu (dis)curso. Na aula, as autoras alcançaram a política contemporânea, em especial as recentes manifestações que tomaram as ruas do país. Heloísa Starling [foto ao lado] destacou o legado republicano dos protestos: “As manifestações de junho de 2013 foram importantes para revelar o descompasso entre o governo, o sistema político e as ruas. Por meio delas, exigiu-se o avanço de políticas sociais, especialmente nas áreas de educação e saúde, e a melhoria dos serviços básicos. Elas denunciaram de forma muito ruidosa a corrupção presente na máquina do Estado. E confirmaram o espaço público como um lugar privilegiado de manifestação política direta do cidadão”. A professora da UFMG demarcou a pergunta que, segundo ela, foi “escancarada” pelas manifestações. “Se o Brasil deseja começar uma história contemporânea das democracias modernas, o presente é o seu principal desafio. Por qual caminho o país vai seguir de agora em diante? Com qual agenda os brasileiros vão inventar o futuro? A democracia, sim, se consolida: estamos vendo-a logo aqui, em frente. Mas a república lembra um esboço que, infelizmente, não alcançou forma. Para existir república, é preciso exercitar uma linguagem: a linguagem do republicanismo”, diz Heloísa.
As autoras foram recebidas pela vice-reitora Sandra Goulart Almeida e pelo diretor da Fafich, Fernando Filgueiras