Fotos: Foca Lisboa/UFMG |
Cresce no Brasil o movimento dos “democratas ambíguos”, engrossado por pessoas que “apoiam a democracia, desde que associada ao desenvolvimento econômico”, diagnosticou a professora Helcimara Telles, do Departamento de Ciência Política da Fafich, e coordenadora do grupo de Pesquisa Opinião Pública, na abertura do colóquio Qual a saída para a crise política?, que ocorreu na manhã desta quarta-feira, dia 30. “Alguns segmentos consideram que atingir o desenvolvimento econômico é mais importante do que honrar a democracia. Por isso, propagam a ideia de impeachment da presidente”, afirma Helcimara. Durante sua exposição, a cientista política mencionou pesquisas realizadas pelo Grupo que comprovam a emergência do que chama de “antipartidarismo reativo”. Com base em entrevistas individuais, foi traçado um perfil médio da população que foi às ruas durante as principais manifestações ocorridas recentemente contra o governo federal. “Esses cidadãos protestam contra as políticas de bem-estar e inclusão social, apoiam a redução da maioridade penal e o porte de armas e consideram que pobres e nordestinos têm menos sabedoria para eleger seus representantes. Impera entre eles a indignação quanto à corrupção e os altos impostos”, resumiu Helcimara Telles. Boas perguntas, algumas respostas O diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, destacou que a crise é predominantemente política, mas gera reflexos na economia e na cultura. O chefe do DCP, professor Manoel Duarte Santos, lembrou que o país vivencia a principal polarização política, associada a grande problema econômico, desde 1988. “O debate não começa nem termina aqui. Espero que consigamos dar nossa contribuição”, disse. Promessa quebrada O cientista político e sociólogo Rudá Ricci, do Instituto Cultiva MG, avalia que “vivemos crise de representação”, uma vez que os partidos políticos são instituições monolíticas, que agem sempre na mesma direção. “Eles estão caducando por fragmentação de interesses. É um sistema de representação autocentrado, que não gera consenso”, definiu. Sem saída O colóquio, que está sendo transmitido ao vivo (com acesso pelo navegador Internet Explorer), recomeça às 14h com a mesa-redonda A democracia brasileira frente às possibilidades de saída para a crise. Com comentários da socióloga Juliana Frattini, a mesa terá como expositores o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, o diretor executivo do site Observador Político, Xico Graziano, do Instituto Fernando Henrique Cardoso, e o professor Antônio Lavareda, do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas, da Universidade Federal de Pernambuco. Também participarão do debate as professoras Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo, e Regina Helena, da UFMG. O colóquio é realizado com o apoio da Pró-reitoria de Extensão. Mais informações sobre o evento podem ser encontradas na página do Grupo Opinião.
“A UFMG não pode ficar em silêncio, pois tem papel importante a exercer durante o momento de crise política e econômica do Brasil”, disse a pró-reitora adjunta de Extensão, Cláudia Mayorga [foto]. “Do debate, surgirão boas perguntas e, quem sabe, algumas respostas”, previu.
Expositor da mesa Crise de representação ou crise de legitimidade?, o advogado público Júlio Pinto, professor do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados, disse que a crise, que não ocorre só no Brasil, mas no “sistema-mundo”, é de caráter “econômico-político-cultural”. “A raiva e a indignação foram geradas porque os movimentos antissistêmicos alcançaram o poder, mas não cumpriram promessa de transformar o mundo”, disse.
Na abertura de sua exposição, o cientista político Fábio Wanderley Reis, do DCP, foi enfático ao responder à pergunta que orienta o colóquio. “Não há saída para a crise. Ela precisa ser atravessada”, defendeu. Em sua avaliação, o impeachment defendido por setores da sociedade brasileira não é exatamente contra a presidente, mas “contra o conjunto de forças construídas nos últimos anos”.