De acordo com Patrus, a instabilidade política pode ser “criativa, anunciadora”. Ele pregou a normatização do capitalismo no Brasil, que classificou de “selvagem, apesar de todos os avanços, a começar pela Constituição de 1988”. Condenou a especulação imobiliária que “prevalece sobre os direitos dos camponeses que não têm terra e das famílias que não têm casa” e defendeu que “o dinheiro deixe de ser o valor dominante, em favor de relações humanas mais justas”. O ministro de Desenvolvimento Agrário mencionou suas viagens recentes ao interior do país para garantir que, depois de quatro anos de seca no Nordeste, não há retirantes e flagelados como em décadas passadas. “No sertão central do Ceará, a agricultura familiar floresce. Foram construídas 1,2 milhão de cisternas no semiárido. E os benefícios sociais, muito deles vinculados à Constituição de 88, aliados às políticas recentes, têm sido eficazes”, afirmou Patrus, que elogiou a iniciativa do evento. “Precisamos construir espaços como esse, de debate, respeitar opiniões diferentes, como forma de contraposição à violência de manifestações sectárias.” Depois de lembrar que a palavra crise, nos dicionários, está ligada, entre outras, à ideia de conflito, o ministro enfatizou que não há por que ter medo do conflito. “Ele está em nós, o que precisamos é canalizar nossos esforços pelos caminhos da democracia”. ‘Morte simbólica da política’ Pesquisadora das novas mídias, a professora da UFMG Regina Helena Alves da Silva denunciou a “colonização” das redes sociais por grupos que atacam ou defendem sem argumentos. “É o fim da possibilidade do debate, indício da morte simbólica da política. Há uma profunda crise da democracia, encobre-se o dissenso que nasce da participação da maioria. E falta projeto”, disse Regina Helena. Segundo a pesquisadora, governo e oposição fizeram pouco caso das manifestações de 2013, que representaram a “imensa politização do mal-estar e da insatisfação”. Ela destacou que consegue ver na situação atual “uma oportunidade de redesenhar os contornos da democracia, dando a ela uma nova legitimidade, e sair com algum tio de projeto para o futuro”. A professora Esther Solano, professora de Relações Internacionais da Unifesp, pregou um “exercício de imaginação heterodoxa para fugir da receita neoliberal”. Afirmou também que a democracia é uma “máquina envelhecida, refém de forças econômicas”. A pesquisadora espanhola abordou a crise de valores marcada por fundamentalismos e por “um primitivismo que não deixa espaço para a inserção social”. Defendeu que todos devem assumir o papel de cidadão e fazer política, porque “direitos que foram duramente conquistados podem ser destruídos com facilidade”. A mesa teve mediação da cientista política Juliana Frattini. Fotos de Foca Lisboa/UFMG
“É por meio da democracia participativa, do exercício dos direitos e deveres da cidadania que o Brasil poderá resgatar a enorme dívida social acumulada. Como as demandas são maiores que os recursos, as pessoas é que devem decidir”, disse agora há pouco, na UFMG, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias. Ele participou de mesa sobre democracia e crise no colóquio Qual a saída para a crise política?.
Outro participante da mesa, Xico Graziano, vinculado ao Instituto Fernando Henrique Cardoso, começou listando as dimensões da crise, que para ele é econômica, política, de gestão e ética. “Caímos violentamente 18 posições no ranking da competitividade mundial, os mecanismos de decisão estão confusos e a gestão é ineficiente. Além disso, a meritocracia perdeu valor no Brasil", disse Graziano. “A saída para a crise passa pela ousadia, por deixar os marcos da política tradicional para criar algo novo.”
A partir da esquerda, Xico Graziano, Juliana Frattini, Patrus Ananias, Regina Helena e Esther Solano