A Faculdade de Educação recebe, a partir desta quarta-feira, 28, pesquisadores brasileiros e estrangeiros que vão discutir metodologia e resultados da pesquisa Trabalho docente na educação básica no Brasil, que traça perfil dos professores de educação básica em oito estados brasileiros. Realizado de 2009 a 2015 pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado), o estudo utilizou métodos quantitativos e qualitativos para conhecer, de forma mais aprofundada, as condições de vida e de trabalho desse grupo profissional, com o objetivo de subsidiar a formulação de políticas públicas no país. O seminário internacional Trabalho docente para uma educação democrática e inclusiva terá início às 17h30, com mesa de abertura e apresentação cultural. Às 18h30, será realizada a conferência Indicadores de qualidade do trabalho docente para uma educação democrática e inclusiva, com João Barroso (Portugal) e Flávia Terigi (Argentina). De acordo com os organizadores, o evento será transmitido ao vivo pela internet. A programação pode ser consultada no site do Gestrado. Evidências Ela explica que a principal ferramenta no país para avaliar a qualidade da educação é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), baseado no desempenho dos alunos na Prova Brasil e em resultados de aprovação e de evasão levantados no censo escolar. “Não temos indicadores sobre o trabalho nas escolas, em que condições ele está ocorrendo e em que poderia melhorar para se alcançar uma educação mais democrática e inclusiva”, argumenta a pesquisadora. “É fundamental ressaltar indicadores como a satisfação, por exemplo, que está diretamente relacionada a fatores como carreira, formação e remuneração, além das próprias condições da unidade educacional, destacando-se a quantidade de alunos nas turmas", acrescenta a professora Dalila Andrade Oliveira, coordenadora da pesquisa e do Gestrado. Em sua opinião, o Brasil precisa desenvolver outras referências para pensar a qualidade da educação que não se fundamentem unicamente no desempenho dos alunos. Os indicadores desenvolvidos no âmbito desta pesquisa relacionam-se à inserção na carreira; desenvolvimento do trabalho coletivo e colaborativo; controle e autonomia no exercício profissional; satisfação profissional; condições do local de atuação (sala de aula e unidade educacional). A pesquisa ocorreu em duas fases, de 2009 a 2015, que incluíram aplicação de questionários entre docentes da educação infantil, do ensino fundamental e médio das redes públicas municipais e estaduais em oito estados: Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás e Pernambuco. Na segunda fase, foram realizados 42 grupos focais envolvendo 380 docentes, entrevistas com diretores escolares e observações em 25 unidades educacionais. Com os dados obtidos, foi possível traçar perfil socioeconômico e cultural, mapear aspectos como divisão técnica do trabalho na escola, emergência de postos, cargos e funções derivados de novas exigências e atribuições, bem como as atividades desenvolvidas pelos docentes. A pesquisa também revelou as condições de trabalho dos docentes – meios físicos, recursos pedagógicos, acesso à formação continuada, à literatura específica, às tecnologias e a outros bens culturais para o desenvolvimento de seu trabalho –, formas de contratação, condições salariais e de carreira em diferentes redes de ensino e necessidades de formação continuada. Os dados demonstram, por exemplo, que 82% dos docentes da educação básica brasileira são do sexo feminino, 67% têm filhos e 47% são os principais provedores da renda familiar. Apesar de 84% dos professores que responderam à pesquisa possuírem formação em nível superior, os salários recebidos se concentram na faixa de dois a três salários mínimos, e 47% dos respondentes estatutários não estão integrados a nenhum plano de cargos e salários. Além disso, 37% trabalham em duas unidades educacionais, e 10% desse universo trabalham em três ou mais unidades educacionais. Entre as dificuldades relatadas pelos docentes, estão o excessivo número de alunos por turma e a prática de levar atividades para serem realizadas em casa. A pesquisa publicou uma série de livros em que os resultados dos estados são analisados separadamente e em conjunto. O levantamento gerou dois bancos de dados, que já suportaram dissertações e teses e que podem ser acessados por pesquisadores de todo o país. A pesquisa Trabalho docente na educação básica no Brasil contou com o apoio da Secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
A análise dos dados sobre a situação funcional dos profissionais da educação básica indica “um cenário preocupante em que urgem medidas que possam garantir as condições necessárias ao pleno desenvolvimento da docência”, comenta a professora Lívia Fraga, uma das coordenadoras da pesquisa.