A participação da comunidade médica na ditadura militar, iniciada em 1964, e a preservação dos direitos humanos no atendimento à população são temas do seminário Médicos e estudantes de Medicina durante a ditadura militar: questões éticas à época e na atualidade, que será realizado nesta quinta, 26, a partir das 18h30, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG.
Iniciativa da disciplina Seminários em Bioética: ensino, pesquisa e assistência, do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical, o evento terá a exibição do documentário Retratos de identificação, que revela a história da prisão de quatro ex-guerrilheiros que lutaram contra a ditadura militar e descreve as torturas a que foram submetidos. Entre eles, estava a ex-aluna da Faculdade de Medicina da UFMG Maria Auxiliadora Lara Barcellos, a Dôra.
Ao mesmo tempo em que parte dos médicos e estudantes de medicina resistia à ditadura militar, outros apoiavam o regime, segundo o coordenador do evento, professor Dirceu Greco, do Departamento de Clínica Médica. “Muitos médicos e estudantes de medicina lutaram contra a ditadura militar, mas, infelizmente, alguns profissionais foram além do seu papel de salvar vidas. Alguns deles participaram do regime da pior forma, facilitando e acobertando torturas com falsos atestados de óbito e exames de corpo de delito”, explica Greco.
Havia ainda aqueles que usavam os conhecimentos e habilidades profissionais da medicina para o apoio técnico ao processo de tortura. Porém, segundo o professor, situações assim não ficaram no passado. “Temos, por exemplo, o caso da prisão de Guantánamo, em Cuba”, comenta. Nessa prisão, médicos americanos participaram e facilitaram sessões de tortura contra presos suspeitos de terrorismo.
“Se situações como essa ainda acontecem, é preciso urgentemente discutir as questões éticas da medicina”, acentua. Para Greco, na faculdade os alunos aprendem a parte técnica da medicina, mas o papel do médico na sociedade precisa estar sempre em foco.
Filme
O documentário Retratos de identificação traz um conjunto de fotografias da Polícia Federal que retratam presos políticos durante a ditadura (1964-1985). As histórias retratadas são de Antônio Roberto Espinosa, ex-comandante da organização VAR-Palmares, Reinaldo Guarany, do grupo tático armado ALN, e dois ex-estudantes de medicina: Chael Schraier, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, e Maria Auxiliadora Lara Barcellos, aluna do curso da UFMG.
Para Helvécio Ratton, um dos debatedores do encontro, conhecer o passado é fundamental para pensar o futuro, “especialmente em momentos como os de hoje, quando grupos pedem o retorno dos militares ao poder, sem saber de fato o que se passou durante aqueles anos”, explica o cineasta.
Ratton conta que Dôra, como era chamada Maria Auxiliadora, era sua parente e companheira de militância. Ressalta que histórias como a dela precisam ser conhecidas. “Ela, assim como muitos outros que enfrentaram a ditadura, é um sujeito importante na construção da democracia brasileira”, diz. Marta Leandro, editora do filme, também participará do debate.
(Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina)