Em videoconferência realizada ontem (segunda, 14), no Auditório 2 da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), o físico Marcelo Gleiser falou da importância da divulgação científica para a sociedade moderna. Com o título Compartilhar o saber: necessário para a democracia, imprescindível para a ciência, a apresentação do físico abriu as atividades da formação transversal em Divulgação Científica da UFMG, oferecida a alunos de graduação como conjunto de disciplinas tematicamente articuladas que resultam em competência específica. Segundo o pesquisador, a sociedade brasileira tem muito interesse em se informar sobre ciência. “Há várias maneiras de conhecer o mundo em que vivemos, e a ciência é uma delas. A divulgação científica é essencial para que o conhecimento humano se expanda”, explicou Gleiser. O físico, que é professor na Dartmouth College (EUA), contou a história de Galileu Galilei, que ele aponta como um dos primeiros pesquisadores a entender a importância da divulgação científica. Naquela época, os estudos e experiências eram divulgados em latim, língua falada pelas elites e pouco conhecida pela maioria das pessoas que viviam na Itália nos séculos 16 e 17. “Galileu percebeu que, como quase ninguém falava latim, o conhecimento ficava restrito a uma minoria da população. Dessa forma, ele decidiu publicar seus estudos em italiano, língua que era mais acessível ao povo. Por isso, ele pode ser considerado um dos pioneiros da divulgação científica”, disse. O pesquisador ressaltou que a divulgação científica não está restrita ao ato de escrever sobre um assunto em linguagem mais simples. Para ele, a divulgação precisa estar inserida em um contexto. “A ciência ocorre em um contexto cultural, pois ela começa e termina na sociedade. O divulgador científico precisa contextualizar o estudo, assim ele será capaz de engajar as pessoas. Transmitir informação científica é criar o diálogo crítico”, afirmou. A conferência foi mediada pelo professor do Departamento de Sociologia da UFMG, Yurij Castelfranchi, que vai ministrar disciplina no curso de formação transversal. O professor destacou a importância do compartilhamento do saber científico. “A divulgação científica é necessária para a democracia. Albert Einstein percebeu a importância de o cientista sair do laboratório e se posicionar, participando da democratização do saber. O processo de construção do conhecimento científico deve ser apropriado pela sociedade”, concluiu. Formação transversal em divulgação científica O curso visa, ainda, proporcionar a aquisição de conhecimentos básicos sobre pesquisa científica e suas diferentes formas de produção nas várias áreas do conhecimento, preparando os alunos de forma que se sintam capacitados para explorar e discutir possíveis relações entre ciência, tecnologia e sociedade. Trajetórias Yurij Castelfranchi é graduado em física pela Università degli Studi La Sapienza (Itália), mestre em Comunicação da Ciência pela International School for Advanced Studies (Itália) e doutor em Sociologia pela Unicamp. Na Itália, foi docente de Ciência e Sociedade, Teorias da Comunicação da Ciência, Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de cinco livros, dois dos quais com tradução em diversos idiomas. Foi pesquisador no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp, docente de jornalismo científico, vice-diretor do Journal of Science Communication, colaborador da Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI).
Além de preparar estudantes para traduzir para não especialistas o conhecimento científico com o qual trabalham, o curso pretende incentivar incentivar talentos e carreiras profissionais de divulgadores do conhecimento produzido pela universidade.
Marcelo Gleiser é um dos cientistas brasileiros de maior renome internacional, com mais de 100 artigos publicados em jornais especializados e autor premiado de obras sobre ciência. Em agosto de 2006, publicou seu primeiro romance, o bestseller A harmonia do mundo. Conhecido por sua pesquisa em cosmologia e seu trabalho de divulgação científica, é professor titular de física e astronomia no Dartmouth College (EUA), onde detém a cátedra de Appleton Professor of Natural Philosophy. Doutor pelo King's College de Londres em 1986, mestre pela UFRJ e bacharel pela PUC-Rio, Marcelo fez pós-doutorado no Fermi National Laboratory e no Instituto de Física Teórica da Universidade da Califórnia. Sua pesquisa é financiada pela National Science Foundation (Nasa).