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Chapada do Norte: tradição e louvor dos Irmãos Pretos do Rosário

Por Bárbara Ribeiro em

História. Congado é uma das riquezas de Chapada do Norte. Foto: Reinaldo Freire.

O congado é uma rica manifestação cultural e religiosa, de raízes africanas, celebrada em muitas regiões do Brasil, e também no Vale do Jequitinhonha. Sua origem seria a lenda de Chico-Rei, majestade de uma tribo do Congo trazido forçadamente para o Brasil junto a outros negros para serem escravizados. Nos municípios mineiros, as celebrações acontecem em outubro, mês em que se homenageia Nossa Senhora do Rosário.

Uma das principais temáticas do evento, a coroação de reis e rainhas africanos, é representada através de danças de guerreiros, lutas e outros atos que retratam a resistência destes reinos contra os portugueses. O cortejo sempre acompanha a bandeira do santo de devoção ao som de cuícas, caixas, pandeiros e dos tradicionais tambores do Rosário que ecoam a cultura dos ancestrais.

No Vale do Jequitinhonha, essa cultura é representada por movimentos como a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que acontece em Chapada do Norte no segundo domingo do mês de outubro. Ela é conduzida pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos e, todos os anos, reúne milhares de pessoas vindas dos mais distantes locais para saudar a Virgem do Rosário.

Mantida a maioria de suas características por muitos anos, a festa foi declarada como Patrimônio Imaterial e Cultural do Estado de Minas Gerais, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), em maio de 2013. É válido lembrar que o Estado possui 853 municípios, quase todos eles com suas festas e celebrações, sendo Chapada do Norte o único a receber tal honraria, fruto de esforços da própria comunidade.

O ex-presidente e atual procurador-geral da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, Maurício Costa, conta que o evento faz parte da história de Chapada do Norte e acontece há 196 anos. “O pessoal, desde pequeno, passa o ano na expectativa pela festa. Ela mexe com o município e também com os povoamentos e comunidades vizinhos. A cidade se transforma!”

A comunidade participa de etapas importantes, como a escolha do rei e da rainha, que preparam tudo durante um ano. Os rituais envolvidos na festa são preservados há anos, e as pequenas alterações realizadas, por parte da Irmandade e da própria população, não desqualificam a celebração enquanto bem tombado, como explica a gerente de Patrimônio Cultural Imaterial do IEPHA, Debora Raíza.

O congado constitui uma forma de resistência, representatividade e visibilidade para a população de Chapada do Norte, que é de maioria negra. Nesse sentido, as principais características da festa são a devoção da população pela Virgem do Rosário, a manutenção das tradições africanas e os momentos culturais. “É uma junção da fé e da cultura”, diz Maurício.

Há também uma série de movimentos culturais e religiosos nos quais os chapadenses participam com muito empenho. Tudo começa com a alvorada, quando a Banda Filarmônica Santa Cruz sai tocando pela madrugada, anunciando a chegada do grande dia – “o domingo de festa” – e chamando as pessoas para participar. Depois vêm as novenas, a lavação da igreja, a distribuição de angu e a busca da Santa no córrego do Rosário. As noites, antes ocupadas pelos batuques nas casas dos reis, hoje dão lugar a shows de bandas musicais.


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