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“E esse Vale é maravilhoso, é um país o Vale”

Por Polo Jequitinhonha em

De chapéu e colete, com um sorriso bem expressivo, Manoel adentra ao estúdio de gravação da rádio Terceiro Andar na Fafich, UFMG. Mais conhecido como Rubinho do Vale, este cantor e compositor, nascido na cidade de Rubim, região do Vale do Jequitinhonha, é um ícone da música popular do Brasil e fiel representante de sua terra.

Filho de Seu Caçula e Dona Zinha, viveu a infância na roça. Ao terminar a oitava série ganhou seu primeiro violão. Embora não soubesse nenhuma nota, e muito menos afinar o instrumento, Rubinho prestava cuidadosa atenção quando amigos e colegas tocavam. Ele corria para casa e tentava repetir os movimentos até aprender, pelo menos, um tom.

No início de 1976, foi aprovado no vestibular da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto para o curso de Geologia. Durante as noites de violão e farras na república Sinagoga, ganhou o apelido de Rubim. Mais tarde, em novembro de 1979 aconteceria um evento que definiria para sempre a vida de Manoel: o Primeiro Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha. Em Itaobim, Rubinho começava a tocar e espalhar seu canto por todo o Vale.

Cores. Rubinho e seu carisma. Foto: Lori Figueiró.

Com uma voz cálida, ele nos conta parte de sua história:
“Nos anos 80 encarei essa estrada e decidi viver da música, pela música e para a música. Desde o começo, assumi que eu queria cantar o Jequitinhonha, e ainda quero falar do Vale do Jequitinhonha. Coloquei isso como prioridade para minha vida, ser artista e ser um portavoz.”  

Apaixonado por sua terra, o artista carrega o Vale não apenas nas canções, mas também no nome, que no começo era só Rubim, por causa da sua cidade, depois ficou Rubinho. O “do Vale” veio um pouco depois. “Até hoje, cada vez mais, sinto que é necessário e importante para mim penetrar esse universo que é o Jequitinhonha”, diz o cantor.

Rubinho, que começou sua carreira cantando em festivais, foi vencedor de vários. Obteve o primeiro lugar no Festival da Canção de Minas Novas em 1980 e na edição seguinte em Almenara. Também foi primeiro lugar duas vezes no Festivale, das cidades de Pedra Azul em 1981 e de Itaobim em 1982.

Por sua trajetória artística, recebeu muitas homenagens como a “medalha do Aleijadinho”, outorgada pela prefeitura do Ouro Preto, a “medalha do Mérito da educação” entregue pelo governo de  Minas Gerais, e o “Grande Colar do Mérito Cultural” entregue pela câmara municipal de Belo Horizonte. Em 2003, ele recebeu do então ministro da cultura, Gilberto Gil, e do presidente Lula a ”Medalha da Ordem do Mérito cultural”, junto a compositores como Antônio Nóbrega e Chico Buarque.

Dentre os vários reconhecimentos a sua obra, um deles foi singular. É que no último 7 de setembro, algumas escolas de diferentes cidades do Vale fizeram uma homenagem para o cantor. “Fico muito feliz com aquele reconhecimento e por isso eu digo, quero ser um porta voz, para que assim as pessoas possam me ter como espelho e eu também possa me espelhar nelas.”

“Sobre o ditado “santo de casa não faz milagre”, o legal é que eu fui reconhecido primeiro na minha terra. Não faz sentido ser reconhecido em outros lugares se eu não sou reconhecido na minha terra, porque é lá que eu respiro, e de lá que eu falo. E vou para fora, mas é como se estivesse cantando de lá.”

Cultura. Apresentação de Rubinho do Vale. Foto: Site oficial do artista.

Ao que parece, Rubinho nunca deixa de sorrir. E cada vez que fala do Vale vemos refletido em seus olhos o carinho, por sua cidade e por toda a região. A conversa vai terminando pouco a pouco, mas não sem antes fazer uma última observação:

“Eu amo todas as artes do Vale, como os grupos de cultura popular e sobretudo o artesanato, pelo qual sou apaixonado. Eu me acho um artesão da música, a diferença é que uso um vilão que é feito em fábrica, um estúdio, e os discos, mas minha música, na essência é artesanal. E esse Vale é maravilhoso, é um país o Vale.” 


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