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Agricultura Familiar: a base econômica do Vale do Jequitinhonha

Por Polo Jequitinhonha em

Esmero. Ligação com a terra é mais forte na agricultura familiar. Foto: FETRAFSC.

A atividade do setor agrícola é uma das mais importantes para a economia nacional. Para termos uma ideia de seu impacto, ela compõe mais do 5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, de acordo com o último Censo Agropecuário, 90% dos municípios brasileiros com menos de 20 mil habitantes têm a agricultura familiar como base econômica.

Esse tipo de atividade possui uma série de peculiaridades, sobretudo nas dinâmicas de organização da propriedade. A terra é administrada pela próprias famílias empreendedoras, que utilizam sua mão de obra no plantio, manutenção e colheita da lavoura. Outra característica fundamental é que, além da produção de alimentos para a subsistência, a atividade agrícola é a principal fonte geradora de renda para os núcleos familiares.

Segundo o coordenador-geral de Monitoramento e Avaliação da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), Régis Borges de Oliveira, a relevância da agricultura familiar vai além da economia e da geração de renda. Ele destaca a questão cultural desse modelo de produção, já que o agricultor familiar tem uma relação mais próxima com a terra devido à tradição familiar.

Minas Gerais é o segundo maior estado do Brasil em concentração de núcleos de agricultura familiar, de acordo com os primeiros dados do Censo Agropecuário, quantificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse sentido, as regiões do Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha representam 9% da produção do estado, contando com cerca de 78 mil agricultores. Essa produção representa a principal base econômica das famílias do Jequitinhonha, como ressalta o diretor de políticas agrícolas de Minas Gerais, Marcos Vinícius: “Ao analisarmos os dados econômicos do Vale, vemos que a base provém da agricultura e pecuária, e a maioria desses produtores são agricultores familiares”.

Impactos ambientais

Marcus Vinícius destaca ainda os efeitos da agricultura familiar para a conservação ambiental e para a saúde: “São alimentos de maioria agroecológica e não usam veneno. Em segundo lugar, a atividade busca a preservação e a proteção das nascentes”. Esse padrão de consciência ambiental, defende o diretor de políticas agrícolas, está ligado diretamente à sustentabilidade: “a  maioria desses agricultores trabalha muito nessa lógica, porque eles moram, vivem ali. Então, se eles destruírem as nascentes, as águas, como ficariam seus filhos? Como eles iriam sobreviver?”, pondera.

Principais desafios

Elda Coelho Sales Lacerda, mora em Jordânia e, “desde sempre”, trabalha na agricultura familiar. Junto com seu marido, filhos e vizinhos cultivam hortaliças, mandioca e “tudo o que possa ser produzido”, assegura. Elda participa da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Jordânia (AMTRJ). Atualmente, a associação é composta por 18 mulheres, que têm como objetivo superar juntas as dificuldades da agricultura familiar.

“Acho que um dos maiores problemas é na hora de comercializar os produtos”, menciona a agricultora. O local mais comum de vendas é geralmente as feiras. No caso da AMTRJ, elas se juntam a cada semana na Feira Livre do centro Jordânia para venderem seus produtos. Por outro lado, Elda também ressalta a dificuldade de alguns produtores em chegar ao local, o que gera demora e perda de vendas: “você pode ver que há produtores maiores, que chegam mais rápido e conseguem um maior número de compradores. Para nós, as vezes é muito difícil chegar, pois algumas companheiras moram bem longe”.

Também há obstáculos em achar novos pontos de venda devido às precariedades sanitárias da produção, entre elas a falta de assistência técnica especializada e a carência de estrutura. Além disso, Marcus Vinícius destaca que outro ponto crítico é o acesso à água, principalmente durante a estiagem: “Precisamos de políticas públicas para tratar a questão hídrica e atuar na preservação das nascentes, na construção de pequenas barragens e sistemas de irrigação. Precisamos de muitos projetos para auxiliar o produtor”, defende.

Para superar as dificuldades, Elda salienta a necessidade de união entre os trabalhadores da agricultura familiar. “Seria bem melhor se a gente se unisse, mas temos dificuldade de nos juntar”, conta. “Precisamos de mais pessoas informadas, a gente anda muito no escuro, necessitamos de mais capacitação para fazer valer nossos direitos”, conclui.

Para ver a localização dos produtores familiares de Minas Gerais, clique aqui.


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