Mostra Virtual: Leonardo Batista de Jequitinhonha-MG

Por Laura Melo em

Mostra Virtual dos Artesãos do Vale do Jequitinhonha

Leonardo Batista dos Santos nasceu em Belo Horizonte, porém foi criado na cidade de Jequitinhonha, no Baixo Vale do Jequitinhonha.

Revisitando suas memórias, o artesão conta – com fala mansa, pouca – que, na época em que nasceu, as mulheres eram muito submissas aos maridos, e uma mulher separada do marido era estigmatizada; condição que era considerada uma grande vergonha para os pais dela.

A história que ele ouviu de seus pais adotivos é de que sua mãe biológica retornou de Belo Horizonte para Jequitinhonha já separada e o levou, ainda criança, para a casa dos pais dela. O avô de Léo não o aceitou em casa devido à situação da mãe. E o artesão acredita que, em função da situação de submissão da avó, ela consentiu que o neto fosse abandonado “na rua”. 

Antes de ser adotado, Leonardo lembra que uma família de descendentes de alemães residente na cidade o acolheu em casa para criá-lo. Acometido por uma enfermidade, seu corpo se encheu de feridas e, em razão da dificuldade de acesso a atendimento médico, desconhecendo a natureza das feridas, foi novamente abandonado pelo casal. Leonardo ficou na rua por algum tempo até ser adotado por Elsa Pereira – D. Elza Có –, que já criava seis filhos.

Foi com sua mãe adotiva, a quem carinhosamente chama de “minha dama de ferro”, que Leonardo aprendeu o ofício do artesanato com o barro. Aos 7 anos de idade, observando a mãe moldar o barro para fazer panelas, ele pegava o barro e fazia seus próprios brinquedos, bois e carrinhos. Iniciava-se ali, de forma lúdica, seu trabalho com cerâmica.

Leonardo conta: “Minha mãe fazia panelas e vendia para inteirar o toucinho, a farinha com feijão catador para a gente comer”. O jovem artista cresceu nesse ambiente de fraternidade. A hospitalidade é uma das características mais marcantes e lindas do povo do Vale. Independentemente das carências financeiras, há sempre uma mandioca cozida, um feijão ou um arroz bem temperado para dividir.

Dona Elsa Pereira de Andrade conta hoje seus 85 anos, teve 12 filhos e criou muitos outros adotivos. Até hoje, ela organiza o boi de janeiro da cidade de Jequitinhonha e faz parte do reisado. Um exemplo de vida para o jovem artesão, que tem suas peças comercializadas em várias regiões do Brasil. 

A inspiração para fazer sua arte, em especial as estátuas de São Francisco, ele conta que advém da própria vida de São Francisco, um homem rico que deixou tudo para viver para Deus e cuidar dos pobres. Suas peças apresentam São Francisco em cenas diversas, ligadas à natureza e aos animais, sempre impregnadas de singeleza e emoção.

Leonardo afirma que o ofício de artesão foi um dom que recebeu de Deus. Diz que nunca teve um professor, e sim o privilégio de aprender com “Didi”, um grande artesão da cidade de Jequitinhonha que lhe ensinava algumas “coisas”.

As coisas que aprendeu foram sendo lapidadas a cada nova peça. Um trabalho que encanta por sua beleza singular.

*Texto de Deise Barreto Silva do livro Sabença.

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Telefone: (33) 99937-1123

Artesanato.Fotos das peças de artesanato. Fotos: Acervo pessoal do artista.


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