Mostra Virtual: Família de Dona Isabel de Santana do Araçuaí-MG

Por Laura Melo em

Mostra Virtual dos Artesãos do Vale do Jequitinhonha

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Santana do Araçuaí. Distrito de Ponto dos Volantes. Médio Vale do Jequitinhonha. Minas Gerais. Ali viveu Dona Isabel, um dos maiores ícones do artesanato brasileiro. Ali criou sua família e fez arte. Ali ensinou generosamente aos filhos e vizinhos a sabedoria e delicadeza de sua arte.

Ao se casar, em 1948, Isabel, uma jovem de 24 anos, muda-se com o marido para Santana do Araçuaí. Fica viúva muito cedo e precisa assumir a responsabilidade pelos quatro filhos. Isabel aprendera a trabalhar com o barro com a mãe, ainda criança. Gostava de fazer cavalinhos, panelinhas e brinquedos. Mas sonhava mesmo em ter bonecas. Foi então que modelou suas primeiras bonecas. Quando chegou a necessidade de sustentar sozinha seus filhos, a cerâmica utilitária foi a fonte de sustento de sua família

O reconhecimento nacional e internacional veio e a mulher delicada e generosa continuou na simplicidade que sempre a distinguiu. Foram prêmios, medalhas e exposições permanentes em importantes museus do país. Teve o carinho, a admiração e o reconhecimento do povo do Vale do Jequitinhonha. “Sua extrema generosidade levou-a a repassar seu saber a quantos a procurassem, com paciência, mas com exigência de mestre, formando, ao longo do tempo, verdadeira escola de cerâmica em Santana do Araçuaí.”

Assim, filhas e filho, nora e genro, neta e dezenas de vizinhos aprenderam com Dona Isabel os segredos do artesanato: o tipo de barro e o ponto certo para modelagem, a arte e a técnica da construção dos fornos de queimar, a sinalização do colorido das fumaças produzidas pela queima de folhas, as qualidades do barro branco de tabatinga e dos barros vermelhos do tauá, os oleios utilizados na pintura. A produção de diferentes tons de barro para utilizar nas fisionomias, no corpo e nas roupas e enfeites das bonecas. Os diferentes tipos de madeira para queima e seus efeitos sobre a peça, bem como a temperatura necessária para produzir os efeitos desejados. 

Os grandes herdeiros de sua arte são sua família. A saga de uma verdadeira mestra de ofício, que num processo de criar e recriar transmitiu sua arte aos seus aprendizes, de geração a geração. O filho Amadeu e sua esposa, Mercina, suas filhas Maria Madalena e Glória, juntamente com o seu marido, João. Sua neta Andreia, filha de Glória e João. Todos influenciados pela arte de Dona Isabel – de uma marca inconfundível –, com seus estilos próprios, eles vivem o encantamento e a dureza da vida de artesãos no Vale do Jequitinhonha, na construção de uma obra coletiva.

Madalena ressalta que é um trabalho que exige muita paciência e dedicação. Muito gosto pelo fazer. Começou acompanhando o trabalho da mãe, desde criança. Trabalhou com ela na produção de esculturas fazendo os corpos das bonecas, enquanto a mãe fazia as cabeças e finalizava as peças. Seus vasos e flores são de especial beleza. Faz também bonecas, bules, jogos de café.

Amadeu, que é artesão e agricultor, trabalhou ajudando a mãe na modelagem dos corpos das bonecas. Da mesma forma, trabalha hoje com sua esposa, Mercina, também grande ceramista, na oficina em sua própria casa. A produção da cerâmica possibilitou a compra de um terreno para a produção agrícola e retirada do barro que, generosamente, fornece a outros artesãos da localidade. A principal produção do casal são as bonecas, casais de noivos e animais como galinhas com flores. Peças muito elaboradas em detalhes e de grande beleza.

Glória começou a fazer peças ainda criança, com 7 ou 8 anos de idade. Fazia enfeites de presépios – cavalinhos, patos, lagartos – e levava com a mãe para vender nas feiras. Que alegria! Com o dinheiro comprava cadernos, lápis e lápis de cor para si e para a irmã Rita de Cássia. Aos 21 anos, conhece João, com quem veio a se casar mais tarde. João lhe pede para conhecer Dona Isabel e manifesta seu desejo em aprender a trabalhar com o barro. Somente mulheres eram aprendizes de Dona Isabel, mas ela aceita João como aprendiz e logo percebe no jovem grande talento e boa vontade. “Com o dinheiro do artesanato fizemos o casamento e sustentamos nossa família”, diz Glória.

Andreia é da terceira geração, considerada por Dona Isabel a certeza da continuidade de sua arte. Suas peças, inspiradas nas da avó, trazem, no entanto,  seu traço pessoal. E ninguém melhor que a própria Andreia para descrever sua trajetória:

“Quando eu me interessei por trabalhar com arte? Tudo começou como uma brincadeira de criança, ao ver meus pais trabalhando com barro. Eu tinha uns 11 anos e, vendo eles trabalharem, por curiosidade, comecei a fazer as bonecas. A princípio era só uma brincadeira e a possibilidade de ficar ali por perto deles. Mas sempre me incentivavam muito com essa brincadeira e eu ficava perguntando o que era, como se fazia, o que precisava melhorar e sempre tive apoio dos meus pais e da minha vó. Fui convidada para participar de uma exposição junto com a família no Rio de Janeiro, no Museu do Catete, em 1994. Foi quando percebi que minha brincadeira de fazer bonecas interessava as outras pessoas também e tive a oportunidade de vender meu trabalho na exposição. E minhas pequenas obras com temas do nosso cotidiano foram melhorando com a influência e incentivo da minha família. Comecei a receber encomendas e comecei então a levar a sério uma brincadeira que hoje é minha profissão. Dei uma peça de presente para minha avó. Lembro que fiz uma grávida e dei de presente a ela. Ficou muito feliz com a surpresa.”

*Trecho do texto de Maria das Dores Pimentel Nogueira do livro “Sabença”.

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Glória: (33) 99809-2055 | Andreia: (33) 99121-4289 | Maria Madalena: (33) 99969-9906| Mercinda e Amadeu: (33) 99950-9361

Glória Maria de Andrade:

Artesanato.Fotos das peças de artesanato. Fotos: Acervo pessoal da artista.

Andreia Pereira de Andrade:

Artesanato.Fotos das peças de artesanato. Fotos: Acervo pessoal da artista.

Mercina Severa Braga e Amadeu Mendes Braga:

Artesanato.Fotos das peças de artesanato. Fotos: Acervo pessoal da artista.


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