25 anos Polo Jequitinhonha: Vozes do Vale

Desde o início de suas atividades, Programa Polo Jequitinhonha enfrentou dois desafios comunicacionais centrais: a necessidade de divulgar as iniciativas realizadas na reunião e de pensar em formas de ampliar e incentivar a produção comunicacional do próprio Vale, facilitando a interação entre a população em uma região vasta e muitas vezes desprovida de infraestrutura adequada. Com base nessas questões é que surgiu, em julho de 2005, o projeto Vozes do Vale, um programa de rádio vinculado ao Suporte de Comunicação do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, e que se encerrou em 2016, sendo uma das mais longevas iniciativas de nosso Programa. Criado por Márcio Simeone Henriques e Gilberto Geraldo Correa, a atuação do Vozes pode ser dividida em fases que contaram com a participação de inúmeros professores, estudantes de graduação e jovens da região. Dentre suas principais ações, destaca-se a parceria com a Rádio UFMG Educativa, que possibilitou tanto a produção – auxiliando na disponibilização do aparato técnico necessário – quanto a veiculação de produtos relacionados com o projeto.

Em sua primeira fase, o Vozes do Vale consistia em produções de bolsistas do Suporte de Comunicação do Polo derivadas de materiais coletados durante os festivais culturais que aconteciam na região e de entrevistas à distância com personalidades do Vale. Os programas, que duravam cerca de 10 minutos, foram capazes de abordar uma ampla variedade de aspectos culturais da região do Vale do Jequitinhonha, especialmente a partir da atuação da equipe em festivais culturais.

No entanto, ao longo dos anos, essa metodologia demonstrou limitações e sinais de esgotamento, principalmente pela distância geográfica entre o Vale do Jequitinhonha e Belo Horizonte, onde o programa era produzido. Os poucos recursos orçamentários para viagens e a dificuldade de disponibilidade dos bolsistas para trafegar entre os locais acabavam dificultando o acesso direto às principais fontes de informações para o conteúdo dos programas.

De acordo com Adriana Mitre, ex-bolsista do programa, “a falta de verbas para fazermos viagens ao Vale e falta de infraestrutura, como um telefone à disposição para fazermos interurbanos, dificultavam muito a apuração e produção dos programas”.

Alguns materiais, como sonoras e informações, eram coletados durante viagens anuais para atuação da UFMG no Festivale, evento que acontece a cada ano em uma cidade diferente do Vale do Jequitinhonha e que reúne, com o propósito de valorização, uma série de manifestações artísticas e culturais da região. No entanto, essa matéria-prima para a produção de conteúdo mostrou-se insuficiente para alimentar todos os programas a serem gravados na Fase 1. De acordo com Gilberto Correia, responsável técnico pela produção do Vozes do Vale naquele momento, o ideal seria a coleta de material na região de dois em dois meses, o que não era possível devido principalmente à falta de verbas.

Com o tempo, percebeu-se também que a falta de recursos para viagens periódicas impossibilitava que os habitantes do Vale do Jequitinhonha ocupassem seu devido lugar como protagonistas das mensagens veiculadas, distorção que ia contra o objetivo inicial do projeto. Além disso, a veiculação dos programas no Vale em rádios de diferentes locais foi inconsistente, visto que a programação radiofônica local era marcada pelo amadorismo e pela improvisação.

Disto, surgiu a necessidade de se pensar numa nova forma de produção, em que a universidade e a população do Vale atuassem de forma conjunta e que permitisse que a realidade e a percepção de mundo dos moradores da região fossem registradas e transmitidas.

Configurando uma nova voz

A segunda fase do Vozes do Vale, iniciada em 2009, tomou forma a partir desse cenário, e trouxe a proposta de uma produção conjunta entre o Suporte de Comunicação do Programa Polo de Integração da UFMG com o projeto de extensão da UFMG “Rede de Juventudes no Vale do Jequitinhonha”. Contando com a infraestrutura e com os recursos disponíveis nos Núcleos Locais da Rede de Juventudes, situados nos municípios de Itaobim, Padre Paraíso e Araçuaí, a iniciativa investiu no fortalecimento de redes. O objetivo dessa segunda fase era que jovens da região, inseridos no programa Rede de Juventudes, ganhassem um espaço de visibilidade para que pudessem expor sua visão de mundo e do seu contexto local através da produção de podcasts, que se tornaram programas radiofônicos. A escolha de um público específico permitiu a proposição de uma inovadora metodologia de produção, que combina um veículo tradicional, o rádio, e a efervescente mídia da internet, sob a moderna linguagem de blogs e podcasts.

Em 2015, foi iniciada a terceira e última fase do projeto, que visava ir além da produção de podcasts isolados, investindo na criação de web rádios no Vale. Como iniciativa inicial, foi pensado em um processo formativo em web rádio para os jovens da cidade de Pedra Azul, a fim de ajudá-los a desenvolver habilidades para criação e manutenção das web rádios. Com isso, as oficinas ocorriam mensalmente com a equipe do projeto e os jovens participantes nas quais eram produzidos podcasts que eram disponibilizados no blog do projeto. Ademais, em 2016 foram realizados processos formativos semelhantes nas cidades de Itaobim e Felisburgo abordando os passos para criação das web rádio. Além disso, ainda em 2016 foi realizado o V Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha que visava o debate em torno dos problemas para produção midiática na região junto com o pessoal que trabalha com comunicação.

É importante destacar que as mudanças nas fases 2 e 3 ampliaram a possibilidade para que a população local mostrasse voz a partir de formatos digitais inovadores – afinal, estamos falando da adoção generalizada dos podcasts já em 2009. Para que a apropriação desses recursos fosse possível, o projeto criou uma série de materiais didáticos e estruturas formativas que eram realizadas com jovens locais.

Segundo Márcio Simeone Henriques, professor da UFMG e um dos idealizadores e ex-coordenador da iniciativa, o Vozes do Vale foi um projeto estruturador para todas as ações de comunicação desenvolvidas pelo Programa Polo no Vale, cabendo destacar o volume e amplitude de suas produções. Durante seus onze anos, o Vozes atuou de maneira incisiva no Vale do Jequitinhonha, incentivando jovens a assumirem um papel protagonista e sendo inspirado pelas histórias, vidas e experiências dessa população.

Alguns resultados e números do Vozes do Vale

– Entre 2010 e 2012, foram oferecidas oficinas de podcast em 29 cidades, nas quais participaram 506 jovens. Nelas, foram produzidos 134 podcasts, todos disponibilizados através da internet. Além disso, essa produção fomentou a veiculação de 54 programas radiofônicos na Rádio UFMG Educativa, em Belo Horizonte.

– O projeto também deu origem a produções acadêmicas que participaram de fóruns de comunicação e extensão, como o X Congreso Iberoamericano de Extension Universitária na Universidad de La Republica em Montevideo/Uruguai em 2010 e 2011 e os Encontros de Extensão da UFMG. Confira alguns dos artigos produzidos a partir da experiência do projeto abaixo.

– Em 2011, o artigo “As Vozes do Vale: do podcasting ao broadcasting” escrito por Bruna Raphaella Rodrigues da Silva, Phellipe Pereira, Graziela Valadares Gomes de Mello Vianna e Márcio Simeone, foi apresentado na Intercom e ganhou o Prêmio Expocom 2011- Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação.

Lista de Links:

● Vozes do Vale: usos do podcast por jovens do Vale do Jequitinhonha | Vianna | Revista de Estudos da Comunicação (pucpr.br) . Por: Graziella Valladares Gomes de Mello Vianna

● Vozes do Vale: uma tentativa de amplificar as vozes dos jovens do Vale do Jequitinhonha. Por: Graziella Valladares Gomes de Mello Vianna

● As vozes do Vale: do podcasting ao broadcasting. Por: Bruna Raphaella Rodrigues da Silva Acácio, Phellipy Pereira Jácome, Graziela Valadares Gomes de Mello Vianna Márcio Simeone Henriques

● Confira alguns dos podcasts produzidos pelo vozes

Essa matéria faz parte de uma série especial voltada para a comemoração dos 25 anos do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, e que propõe revisitar algumas das principais ações realizadas durante essa trajetória.