UFMG treina professores para

preservar tradições indígenas

 

rianças, jovens e adultos das etnias Maxakali, Krenak, Pataxó e Xacriabá, em Minas Gerais, começam a resgatar, nas salas de aula, a identidade cultural de seus povos. Os professores, contratados pela Secretaria de Estado da Educação, também são índios e concluíram, no final do ano passado, um curso de formação para ensino de 1ª a 4ª série em suas comunidades. O curso, desenvolvido pela Faculdade de Educação da UFMG, é fruto de um convênio firmado entre Universidade, Funai, Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e Instituto Estadual de Florestas (IEF).

No momento em que se inicia o segundo módulo _ para ensino de 5ª a 8ª série _ o coordenador do convênio, professor Rogério Cunha Campos, lembra que a possibilidade de acesso à cultura escolar moderna, sem abrir mão de seus valores, foi uma conquista das comunidades indígenas, "num processo intenso de lutas e negociações". Segundo o professor, há no Brasil cerca de 210 grupos indígenas distintos, dos quais cerca de 170 falam cotidianamente sua língua materna, que é diferente do Português. Mas só a Constituição de 1988 instituiu o direito a uma escola diferenciada, intercultural e bilíngüe, em que a Língua Portuguesa passa a ser trabalhada como segunda língua - uma mudança fundamental para a valorização dos idiomas maternos de cada etnia. "Foi um momento inédito na história do direito brasileiro, porque até então a escola trabalhava exclusivamente com a Língua Portuguesa", explica o professor Rogério Campos, ao lembrar que antes havia "educação para o índio, não educação indígena".

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a responsabilidade pela educação indígena passou da Funai para os estados brasileiros. Em Minas, firmou-se o convênio que já formou, ao longo de quatro anos, 66 professores indígenas. Parte deles foram estudantes de escolas municipais e, agora, além de aprenderem conteúdos básicos da escola comum, receberam formação específica sobre sua língua materna, uso do território, sua história e seus mitos. Segundo o professor, lideranças indígenas são unânimes em reconhecer a importância do acesso à cultura escolar moderna, ao lado da preservação de suas culturas.

Na opinião de Rogério Campos, a valorização da diversidade é uma questão de futuro, de relação entre sociedades contemporâneas. Ele afirma que, no contexto de globalização, tem-se uma afirmação de culturas e identidades locais. E a sociedade brasileira, que aprendeu a orgulhar-se de ser homogênea e monolíngüe, precisa aprender a lidar com a diversidade. "Precisamos nos habituar ao fato de que a Língua Portuguesa não é a única, e deixar de desqualificar esses outros saberes", alerta o professor. Ele acrescenta que a crise de uma formação exclusivamente acadêmica tem mostrado a necessidade de um diálogo com outras tradições de formação humana.

Programa: Implantação de Escolas Indígenas de Minas Gerais _ convênio entre UFMG, Funai, Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e Instituto Estadual de Florestas (IEF)

Coordenador do convênio: professor Rogério Cunha Campos, do departamento de Administração Escolar, da FaE





Busca no site da UFMG




Nº 1301 - Ano 27 - 29.11.2000