Estudo revela que crime entre jovens cai
quando economia vai bem
Entre os mais velhos, crescimento econômico não atrai trabalhadores para a legalidade
Letícia Orlandi
m estudo desenvolvido pela professora Mônica Viegas Andrade, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Face, mostra que as taxas de homicídios entre os jovens de até 20 anos são mais sensíveis às oscilações econômicas.
"A idade é uma variável muito importante para se entender a relação entre violência e ciclos econômicos. É mais fácil para quem tem menos de 20 anos abandonar o crime e ocupar as vagas que surgirem no mercado, pois o empregador exige menos tempo de experiência, e o indivíduo ainda não está totalmente envolvido com a prática criminosa", explica Mônica Viegas, que analisou as taxas de homicídios nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, no período de 1981 a 1997.
Para os mais velhos, porém, a melhoria da atividade econômica pode ter efeito contrário, pois, se a população que trabalha legalmente está ganhando mais, o retorno obtido com a atividade ilegal sobe na mesma proporção. "Pessoas com idade mais avançada e sem experiência têm mais dificuldades em conseguir emprego formal. Além disso, elas já estão estigmatizadas pelo crime", afirma Mônica Andrade.
O grupo das principais vítimas de morte por homicídios é formado por homens em idade ativa, entre 15 e 44 anos, notadamente os que exercem atividades ilegais, como tráfico de drogas, contrabando e jogo de bicho. A partir de indicadores como salário real (remuneração que os indivíduos recebem no mercado formal de trabalho), taxa de desemprego, índice de inflação e um coeficiente de desigualdade de renda, o trabalho conclui que, se há aumento do salário real e redução do desemprego, por exemplo, as taxas de homicídio das faixas etárias mais jovens sofrem uma redução.
Segundo a professora, os esforços das autoridades deveriam concentrar-se na manutenção dos jovens na escola e na criação de oportunidades de emprego. "Mas os resultados de uma política social de longo prazo não aparecem num mandato. Fica mais visível para o governante aumentar as penalidades para o crime", afima a pesquisadora. Ela lembra que a falta de preocupação com as políticas de segurança pública no Brasil reflete-se também na "inexistência de dados confiáveis sobre o número de prisões por ano e gastos com segurança".
O registro de outros números, entretanto, revela que as taxas de homicídio subiram consideravelmente no período de 1981 a 1997, nos três estados analisados. Mas Minas Gerais ainda registra índices bem inferiores aos de Rio e São Paulo. O Rio de Janeiro apresenta crescimento de 85% no número de mortes por 100 mil habitantes na faixa de 15 a 24 anos; São Paulo, de 136%, e Minas Gerais, de 18,75%. Na faixa de 15 a 24 anos, o Rio registrou 148,9 homicídios por 100 mil habitantes, em 1981; contra 275,3/100 mil em 1995. No mesmo período, Minas Gerais passa de 17,6 para 20,9/100 mil homicídios. "Isso pode indicar que o crime em Minas Gerais é menos organizado do que no Rio e em São Paulo, ou que o jovem mineiro fica mais tempo na escola e entra tardiamente no crime", explica Mônica Andrade.
Ensaio: Desesperança de vida: homicídio em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo: 1981 a 1997, incluído na tese de doutorado Ensaios em economia da Saúde, defendida em julho de 2000
Autora: Mônica Viegas Andrade, professora do Departamento de Economia e do Cedeplar _ Face
Orientação: Marcos de Barros Lisboa, da Escola de Pós-Graduação em Economia - FGV/RJ
Para os indivíduos mais jovens, aumento salarial reduz a taxa de homicídios, representada pela parte inferior do gráfico. Mas, após os 18 anos, um aumento de salário passa a significar maior número de mortes por homicídio, conforme demonstra a parte superior do gráfico.
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