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Nº 1419 - Ano 29 - 04.12.2003


Pintando o doze

Dissertação analisa aspectos sociológicos de uma das festas mais populares de Ouro Preto

Murilo Gontijo

 

 

uro Preto, 12 de outubro. Até a estátua de Tiradentes perde um pouco da compostura, animada pela multidão que vaga pelas ladeiras da cidade no embalo da Festa do Doze, comemoração tão famosa quanto barulhenta e lasciva. A festa, que nasceu para comemorar o aniversário da Escola de Minas, é apenas isso ao olhar menos atento. Pura miopia.

De acordo com dissertação de mestrado de Rosa Jacqueline Teodoro, a Festa é uma rede importantíssima para o estabelecimento e manutenção dos vínculos sociais entre alunos, ex-alunos, repúblicas e escola. "Hoje menos, mas, durante muitos anos, a Festa serviu também para possibilitar inserções profissionais", esclarece a pesquisadora. Segundo ela, diversos ex-alunos da Escola de Minas ocuparam cargos de destaque em empresas públicas e privadas e ajudavam alunos e ex-colegas a arranjar emprego. Além disso, a comemoração contribui para manter estreitos os laços dos ex-alunos com a própria Escola.

Desenvolvido no curso de pós-graduação em Sociologia da Fafich, o estudo mostra que os registros iniciais da festa datam das primeiras décadas do século 20, mas uma grande transformação ocorreu no início dos anos 70. "A reforma universitária que determinou a incorporação da Escola de Minas à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) ampliou a festa para outras escolas", explica a pesquisadora. Segundo ela, as primeiras comemorações eram restritas à Escola de Minas, fundada em 12 de outubro de 1876, com apoio incondicional do imperador D. Pedro II.

Rosa Teodoro diz que, na verdade, a Festa do Doze possui aspectos diferenciados. "Há a festa da Escola, que ainda existe, a das ruas e a das repúblicas. Cada qual com sua dinâmica". Enquanto a festa da Escola é freqüentada por ex-alunos formados há mais tempo, nas repúblicas o "pau quebra" com ex-alunos formados recentemente e estudantes matriculados. "Toda festa tem suas regras, e no Doze há o culto e o respeito aos ex-alunos", afirma Rosa, lembrando que, segundo os estudantes, é Deus no céu e o ex-aluno na Terra.

Nos dias da Festa do Doze, Ouro Preto recebe, em média, 15 mil festeiros, dos quais 10 mil se hospedam na cidade.

Transbordamento

As festas são momentos culminantes da vida social, experiências extraordinárias, de transbordamento. Por isso, contagiam novos espaços. A Festa do Doze seguiu esse rito. Começou restrita e tomou as ruas. "Esse é o paroxismo da sociedade, seu momento mais intenso e que é fundamental para que as relações sociais continuem. As festas revigoram, reforçam os laços sociais".

A Festa tem atores diferentes, mas há um grande compartilhamento de sentido entre a celebração da Escola e a das repúblicas. "Nas festas das repúblicas, os vínculos se reproduzem com grande intensidade", justifica a pesquisadora.

Dissertação: Fazendo festa, criando história(s) e contando estória(s): o Doze em Ouro Preto, MG
Autora: Rosa Jacqueline Teodoro
Orientadora: Léa Freitas Perez
Programa: mestrado em Sociologia da Fafich
Defesa: 18 de novembro de 2003