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Nº 1481 - Ano 31 - 28.4.2005


Redescoberta aranha venenosa em Belo Horizonte

Pesquisadores do ICB estudam formulação de soro para neutralizar ação do veneno no organismo humano

Ana Rita Araújo

ma aranha venenosa, cujo habitat natural são as cavernas, foi encontrada em residências da Zona Sul de Belo Horizonte por pesquisadores do ICB. A picada das aranhas Loxosceles , quase sempre indolor, provoca graves lesões na pele e pode atacar órgãos vitais, como os rins, levando suas vítimas à morte, sobretudo crianças e idosos.
De grande incidência em Curitiba (PR), onde 3.742 acidentes foram notificados em 2004, a chamada aranha marrom havia sido descrita na capital mineira em 1917, e era dada como extinta na região. Os pesquisadores responsáveis pela redescoberta da aranha advertem para sua aparência inofensiva. "Ela mede em torno de três centímetros, é dócil e foge com a aproximação humana", comenta o professor Evanguedes Kalapothakis.

Diagnósticos equivocados

O interesse pela espécie surgiu em 2003, quando três grupos de pesquisa do ICB com vasta experiência com aranhas e escorpiões foram convidados a colaborar em estudos da Universidade Federal do Paraná. Reunidos sob a coordenação do professor Evanguedes Kalapothakis, docentes e alunos dos três laboratórios não só encontraram espécies da aranha em Belo Horizonte, como vêm desenvolvendo estudos para a formulação de soro que neutralize o efeito do veneno no organismo humano.

Há dois anos, quando coletou os primeiros exemplares de aranhas marrons em residências de três bairros de Belo Horizonte, o professor Mário De Maria, do Laboratório de Aracnologia, do departamento de Zoologia do ICB, buscou outra explicação para a presença da Loxosceles similis na cidade. "Investigamos a hipótese de ela ter sido trazida acidentalmente do Sul em caminhões, por exemplo. Mas constatamos depois que a espécie vive em cavernas de Minas e já está em algumas casas", relata.

De Maria também encontrou duas outras espécies semelhantes _ a Loxosceles laeta e a Loxosceles anomola _ cujo veneno tem o mesmo efeito no ser humano. Os professores acreditam que, nos quase 90 anos em que a aranha marrom permaneceu na cidade sem ser identificada, os acidentes ocorridos eram diagnosticados equivocadamente. "As picadas podem ser confundidas com feridas, furúnculos ou com qualquer reação alérgica ou inflamatória", diz Kalapothakis.

Mapeamento

Os pesquisadores querem agora mapear as três espécies da Loxosceles em Minas Gerais, para compreender seu comportamento. "Só podemos propor soluções para o problema se conhecermos seus hábitos alimentares, as condições ideais para sua reprodução e seus principais predadores", explica Kalapothakis, ao informar que o grupo acaba de enviar à Fapemig projeto de financiamento para continuidade da pesquisa.

Além de identificar em que regiões do estado a Loxosceles é encontrada, a próxima etapa da pesquisa incluirá estudo da composição do veneno, o que possibilitará a elaboração de soro de boa qualidade, capaz de tratar os acidentados.

No projeto enviado à Fapemig, o grupo propõe realizar levantamento nas cidades de Montes Claros, Januária, Curvelo, Diamantina, Teófilo Otoni, Almenara, Governador Valadares, Ipatinga, Juiz de Fora, Manhuaçu, Poços de Caldas, Varginha, Divinópolis, Barbacena, Uberlândia, Patos de Minas, Paracatu, Sete Lagoas e Ouro Preto. Trata-se de uma amostragem de climas e ambientes do estado, abrangendo todas as mesorregiões mineiras. "Em 2004, foram notificados 110 casos de loxoscelismo* no interior de Minas", diz o professor Mário De Maria.

*Acidente provocado por aranhas da espécie Loxosceles. Embora a picada atinja um minúsculo ponto da pele, a ação do veneno se espalha, causando infecção secundária e necrose, devido à presença de bactérias.

Ficha técnica

A pesquisa sobre a aranha marrom envolve três grupos de pesquisa do ICB:

- Laboratório de Biotecnologia e Marcadores Moleculares, do departamento de Biologia Geral, coordenado pelo professor Evanguedes Kalapothakis;

- Laboratório de Aracnologia, do departamento de Zoologia, coordenado pelo professor Mário De Maria, com os mestrandos Éder Sandro Soares Álvares e Éwerton Ortiz Machado, ambos ex-bolsistas da Prograd, como monitores do Programa de Iniciação à Docência (PID);

- Laboratório de Imunoquímica, do departamento de Bioquímica, coordenado pelo porfessor Carlos Chávez Olortegui.