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Nº 1481 - Ano 31 - 28.4.2005

Desequilíbrio ambiental força espécie a mudar de habitat

A presença da aranha marrom na cidade evidencia o desequilíbrio ambiental, que expulsa os animais de seus habitats originais. "Quando se destrói uma caverna para a retirada de calcário, por exemplo, os animais que ali habitam saem em busca de outros ambientes. Nem todos são bem-sucedidos como a aranha marrom, que passou a habitar residências", explica Evanguedes Kalapothakis.

Os pesquisadores dizem que é possível conviver com a espécie, uma vez que seu extermínio resultaria em agravamento do desequilíbrio ambiental. "O que se deve evitar é o crescimento anormal da população da Loxosceles ", diz Mário De Maria, ao lembrar que cada animal tem um papel na cadeia alimentar. "Dizem os orientais que, para cada aranha que matamos, teremos que esmagar 53 moscas", brinca o professor.


Kalapothakis: a aranha migrou de cavernas para centros urbanos
Foto: Ever Faioli

O uso indiscriminado de biocidas, por exemplo, além de não solucionar o problema, pode desencadear outros perigos. Kalapothakis cita estudo publicado recentemente na revista americana Nature, segundo o qual foram encontradas aranhas que possuem o estranho e incomum hábito de alimentar-se de animais mortos por inseticidas. "Não é o caso da aranha marrom, mas este tipo de adaptação é preocupante, por isso, deve-se evitar o impulso de usar biocidas ou chamar empresas de dedetização com o intuito de livrar-se das aranhas", alerta o professor. O hábito de matar lagartixas _ um dos predadores da aranha _ também deve ser evitado.

Acidentes

Por ser um animal dócil, a aranha marrom não ataca o ser humano, mas pica quando se sente ameaçada. Nas casas, podem ser encontradas em sótãos, atrás de quadros e em quintais e jardins onde haja entulhos, restos de tijolos e telhas. "Naturalmente, se há roupas jogadas no chão ou em lugares escuros, elas podem se instalar, e atacam quando a pessoa veste a roupa. Não por acaso, 28% das picadas atingem a coxa, no momento em que as pessoas apertam a aranha contra o corpo", diz a doutoranda Flávia Galindo Silvestre, que, orientada por Kalapothakis, desenvolve estudo sobre a composição do veneno da aranha marrom.

Quando ocorre a picada, deve-se procurar tratamento imediato. "Em Belo Horizonte, o local mais indicado é o Hospital João XXIII, que tem grande experiência com animais peçonhentos", afirma Evanguedes Kalapothakis, lembrando que, quanto mais específico o soro utilizado, maior sua eficácia para neutralizar o efeito do veneno no organismo.

Estrangeiros no divã

UFMG cria serviço de apoio psicológico para alunos intercambistas

Ana Paula Ferreira

possibilidade de conhecer países diferentes, de travar contato com culturas distintas das de origem e de aprender outras línguas estimula estudantes do mundo inteiro a deixarem seus países para buscar "refúgio acadêmico" em universidades estrangeiras. Mas esse sonho, se não for bem elaborado, pode transformar-se em pesadelo. Preocupados em apoiar os estrangeiros que a UFMG recebe semestralmente, a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e o departamento de Psicologia da Fafich criaram o Plantão Psicológico para Alunos Estrangeiros da UFMG .

Segundo o professor Miguel Mahfoud, do departamento de Psicologia, e coordenador do plantão, o serviço pretende fornecer suporte psicológico aos estudantes durante o período em que permanecerem na Universidade, além de cuidar das psicopatologias que podem vir a se desenvolver. "Entrar em contato com uma cultura estrangeira já é, por si só, um fator de tensão. Nosso objetivo é ajudar o estudante a elaborar melhor essa experiência", explica Mahfoud.

Sentimentos como saudade, solidão e estranhamento são comuns em pessoas que estão fora do ambiente nos quais construíram suas referências e podem levar ao retorno ao país de origem antes do tempo previsto. Para o professor Miguel, o acompanhamento psicológico repercute na vida cotidiana dos estrangeiros, melhorando o entrosamento com os nativos e a adaptação ao contexto sociocultural da sociedade brasileira. "Certamente, o aluno atendido se sentirá mais à vontade para transmitir a contribuição que ele tem a nos dar e para receber a nossa contribuição", argumenta o psicólogo.

Refugiados

O diretor adjunto de Relações Internacionais, professor Maurício Freire Garcia, diz que, além dos benefícios para os alunos, o plantão psicológico representa um diferencial da UFMG nos programas de intercâmbio. Entre os 32 convênios estabelecidos com universidades estrangeiras, apenas a instituição brasileira oferece este tipo de serviço.

Outro alvo do plantão são os refugiados políticos, que vêm para o Brasil em razão de guerras em seus países. Para o professor Miguel, a situação do refugiado político é ainda mais delicada, porque este chega ao país com um conflito de base. "Ele não pode permanecer em seu país de origem nem sabe se poderá retornar", lembra Mahfoud.

É o caso do angolano Diamantino Feijó, estudante de Jornalismo da UFMG. Há seis anos, ele chegou ao Brasil como fugitivo da guerra civil travada em Angola. Para ele, a iniciativa possibilita ao estrangeiro exteriorizar sentimentos que impedem o contato com outras pessoas. "Os diversos contrastes da sociedade brasileira, desde os econômicos até os culturais, facilmente perceptíveis quando se viaja por vários estados, nos deixam confusos, sem saber como lidar com as pessoas", explica.

Uma equipe de 13 estudantes de Psicologia está à disposição dos interessados, de segunda à sexta feira, das 8h às 19h, na sala 2020 da Fafich, sem necessidade de agendamento prévio. "Nosso compromisso é garantir que haja sempre um estagiário de plantão no momento em que o estudante sentir necessidade de ajuda", afirma Mahfoud.

Intercâmbio crescente

É cada vez maior o número de estudantes estrangeiros matriculados em cursos da UFMG. Dados da Diretoria de Relações Internacionais revelam que havia, no fim de 2004, 212 alunos do exterior na Universidade, vindos de países da América, África e Europa. Do total, 24 eram refugiados políticos. Só neste primeiro semestre de 2005 foram recebidos outros 50 estrangeiros.

Por outro lado, a Universidade planeja enviar, até o fim do ano, 97 estudantes para o exterior através dos convênios mantidos com congêneres estrangeiras de 21 países: África do Sul, Angola, Argentina, Chile, Cuba, Peru, Canadá, Estados Unidos, México, Israel, Japão, Índia, Alemanha, Espanha, França, Holanda, Hungria, Inglaterra, Itália, Portugal e Suécia.