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Nº 1541 - Ano 32
28.07.2006

Território avançado para a cultura

Tiradentes deverá sediar primeiro campus brasileiro especializado em cultura

Miguel Arcanjo Prado

nir a história à contemporaneidade, abrindo espaço à experimentação e à ousadia, é a linha de frente de um projeto que está dando seus primeiros passos na UFMG. Trata-se do Campus Avançado de Cultura, que a Universidade pretende instalar na cidade histórica de Tiradentes, localizada a 225 quilômetros de Belo Horizonte. “O projeto, inédito no país, é uma das prioridades desta gestão”, ressalta a vice-reitora Heloísa Starling, que lidera grupo constituído para realizar os estudos de viabilidade do novo campus. A idéia é que a Universidade aprofunde vocações da comunidade local e expanda oportunidades para a formação de profissionais na área cultural.

Fotos: Ernane Fonseca


Antiga cadeia e Museu de Padre Toledo

De acordo com planejamento preliminar, a UFMG deverá utilizar quatro edificações na cidade, e que vão constituir o espaço físico do campus: o antigo Fórum, onde funciona a Câmara Municipal, a Casa de Padre Toledo, o Centro de Estudos e a antiga cadeia pública. Os prédios fazem parte do patrimônio da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade. A entidade foi criada em 1970, pela família Nabuco, com o objetivo de zelar pelo patrimônio histórico de Tiradentes. Em 1997, o estatuto foi alterado, transferindo para a UFMG a gestão e coordenação da Fundação. Atualmente, o reitor é o presidente da entidade, que conta com outros representantes da administração universitária e da família Nabuco, em seu conselho deliberativo.

“A Casa de Padre Toledo é o local onde foram discutidas importantes questões da Inconfidência Mineira, como o posicionamento acerca da abolição da escravatura e a elaboração de estratégias para o fechamento tático do sul do estado”, lembra Heloísa Starling, ao refletir sobre o ineditismo do projeto e o valor histórico das futuras instalações do campus. Para abrigar as novas atividades de ensino e cultura, o local deverá passar por reforma orçada em R$ 4 milhões. Esse valor, no entanto, não retrata o custo total da instalação do campus. “Ainda não chegamos aos números finais, mas sabemos que eles são elevados”, diz a vice-reitora. Ela explica que a Reitoria deverá fazer frente ao desafio de captar os recursos necessários, buscando apoio de órgãos públicos federais e estaduais, além da iniciativa privada.

Sem-cinema
O município de Tiradentes abriga um dos acervos arquitetônicos mais expressivos do período colonial, no país, e, há dez anos, passou a ocupar outro espaço no imaginário da cultura nacional, ao se tornar palco de série de festivais, além de cenário de produções audiovisuais. A cidade é tombada como patrimônio histórico e artístico nacional, desde 1938, e sua reentrada no circuito artístico brasileiro foi incrementada com a promoção de festival de cinema, que rapidamente angariou a simpatia do público, de realizadores e da crítica especializada.

Atualmente em sua nona edição, o evento atrai 35 mil pessoas à cidade, que possui apenas 7 mil habitantes. Apesar da repercussão do festival, em solo nacional e estrangeiro, Tiradentes não possui sequer uma sala de cinema. A instalação do campus no município deverá alterar esse quadro, uma vez que a UFMG pretende criar espaço específico para exibição de filmes. De acordo com projeto inicial, o cinema vai integrar um centro audiovisual, sediado no prédio do antigo Fórum. O local deverá abrigar cursos destinados à formação profissional na área e, futuramente, um de Cinema.

O diretor de Ação Cultural da Universidade, Maurício Campomori, conta que a criação do Campus Avançado da UFMG, em Tiradentes, é uma das 18 propostas na área de cultura do projeto administrativo do atual reitorado. Ele lembra que todas as quatro futuras instalações são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan). “É preciso aproveitar melhor essa base física em Tiradentes, mesmo porque a cidade se encontra em um ponto estratégico, próximo aos grandes centros produtores da cultura nacional”. Tiradentes está a 332 quilômetros do Rio de Janeiro e a 485, de São Paulo.

Uma das principais atrações do Campus Avançado de Cultura será o Museu da Casa Mineira. Segundo Maurício Campomori, a previsão é que ele se torne local de referência para os estudiosos da cultura imaterial, e deverá funcionar na Casa de Padre Toledo. O museu será todo informatizado. “Queremos criar alojamentos para receber estudiosos e implantar infra-estrutura para pesquisa, utilizando tecnologia avançada. A comissão também planeja a criação de cursos de especialização em museologia, que seriam ensaios para a primeira graduação na área, no estado” detalha o diretor. A proposta não é aleatória, como sublinha Campomori: “Apesar de abrigar cerca de 60% do patrimônio histórico tombado do Brasil, Minas Gerais ainda não possui curso de graduação em museologia”.

De acordo com o professor, a comissão também está avaliando a criação de um museu dedicado à arte-sacra. A repercussão do projeto é positiva e, segundo Campomori, a UFMG tem recebido propostas de colecionadores e de instituições interessadas em colaborar.

O secretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Tiradentes, Marcelo Gomes, vê com bons olhos a iniciativa, que estabelecerá a presença efetiva da UFMG na cidade. “Essa é uma reinvindicação antiga da população de Tiradentes: que haja melhor aproveitamento do patrimônio histórico da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade”. Gomes relata que se surpreendeu ao ser informado da proposta de criação do campus, durante uma reunião na UFMG, em maio deste ano. “Não esperávamos tanto”, confessa.

Após concluir os estudos de viabilidade, a Comissão encaminhará proposta final para aprovação dos órgãos colegiados, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e do Conselho Universitário.