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Nº 1564 - Ano 33
5.2.2007

Foca Lisboa
Projeto Passagem
A ex-voluntária Fernanda Silva Trindade, o pequeno Arthur Henrique e sua mãe Renata Melo Ribeiro: amizade que nasceu no Ambulatório Carlos Chagas

Anjos que guardam a maternidade

Projeto de extensão da Faculdade de Medicina oferece apoio a gestantes de alto risco

Tatiana Santos

E

o primeiro mês de gestação até o pós-parto, as grávidas de alto risco do Ambulatório Carlos Chagas, anexo do Hospital das Clínicas, têm com quem contar. Graças ao Projeto Passagem – Espaço de acolhimento de mães e bebês, elas encontram apoio para enfrentar problemas como hipertensão, diabetes e doenças sexualmente transmissíveis.

Desenvolvido há quatro anos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEMS), o Projeto Passagem seleciona, ao início de cada semestre, cerca de 40 alunos do primeiro e segundo períodos da Faculdade de Medicina da UFMG para comparecer às consultas, visitar casas e oferecer atenção completa a essas gestantes.

“Até hoje, já atendemos cerca de 300 grávidas”, calcula a socióloga Anayansi Brenes, coordenadora do Passagem. A escolha das futuras mães é feita de forma aleatória. Os estudantes selecionados vão ao ambulatório, abordam as gestantes com as quais desenvolvem maior empatia, explicam como funciona o projeto e as convidam para participar.
Interessados pela formação na área de ginecologia e obstetrícia, os voluntários aprendem mais sobre a saúde da mulher e têm a chance de conhecer a dinâmica do acompanhamento de gestantes. Antes de iniciar as atividades, eles passam por uma formação específica de 12 horas. “Os alunos atuam como interlocutores entre as grávidas e os médicos. Eles esclarecem os riscos da gestação e os tratamentos recomendados e informam aos médicos se suas orientações são seguidas de forma adequada pelas gestantes”, informa Anayansi.

Humanização

Além do acompanhamento, os estudantes realizam um trabalho de conscientização sobre métodos contraceptivos. De acordo com Ana Luíza Neves, uma das voluntárias do projeto, “ações neste sentido são importantes, pois muitas mulheres engravidam sem nenhum tipo de planejamento”. Ela afirma ainda que, durante as conversas, são descobertos casos de violência familiar e de grávidas desamparadas pela família.

Cada participante escolhida recebe atenção integral dos voluntários, cumprindo os objetivos do projeto de valorizar o papel do ser humano nas suas relações. O acompanhamento prevê o uso de técnicas milenares, como banhos terapêuticos, e cuidados especiais com a alimentação. Os voluntários também se preocupam em ouvir os anseios e as angústias das futuras mamães. “Tudo isso melhora a capacidade das grávidas de lidarem com a experiência do parto, uma vez que elas se fortalecem espiritualmente”, garante Anayansi.

Meu primeiro paciente

Depois de participar de consultas médicas e acompanhar tratamentos, Luiz Guilherme Neves Caldeira, aluno do sétimo período do curso de Medicina da UFMG, viu nascer seu “primeiro paciente”, o garoto Arthur Guilherme, que ainda não completou dois anos. O nome Guilherme não é mera coincidência. Trata-se de uma homenagem prestada pela mãe do menino, Priscila Rose Silva, ao voluntário, que hoje é um grande amigo da família.

O projeto rendeu mais amizades. Fernanda Silva Trindade, estudante do sexto período de Medicina, ainda mantém contato com Renata Melo Ribeiro, gestante que acompanhou no segundo semestre de 2004. “Por ter sofrido de um problema cardíaco durante a gravidez, fiz vários exames e Fernanda me deu muita atenção. Foi ela quem convenceu o meu marido a assistir ao parto, pois ele estava muito nervoso”, informa a mãe. Com uma laqueadura de trompas, Renata sabe que as chances de voltar a engravidar são quase inexistentes. Mas se um dia isso acontecer, ela assegura que não pensaria duas vezes para recorrer aos “anjos da guarda” do Passagem.