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Nº 1564 - Ano 33
5.2.2007

Foca Lisboa
Atendimento na Faculdade de Odontologia

Odontologia: cem anos

No ano em que comemora seu centenário, Faculdade de Odontologia prepara reforma curricular

Fernanda Cristo

P

oi num prédio na rua Guaicurus, daqueles que parecem casas desenhadas por crianças – com uma porta grande e duas janelas quase do mesmo tamanho da porta – que começou a funcionar uma das mais antigas unidades acadêmicas da UFMG: a Faculdade de Odontologia, fundada em 3 de fevereiro de 1907, e que teve sua primeira turma, com 12 alunos, formada menos de dois anos depois.

Aquela sede acanhada foi o primeiro dos seis endereços (veja box abaixo) que abrigaram a Unidade. E suas janelas imensas simbolizavam, em certa medida, sua abertura para o futuro, tão bem materializada pelo atual prédio, de 20 mil metros quadrados, localizado no campus Pampulha. Inaugurado em 2000, o edifício abriga cinco salas de aulas teóricas, seis clínicas multiuso, com 24 equipamentos cada, clínica exclusiva para odontopediatria e ortodontia, outra para a pós-graduação, bloco cirúrgico, serviço de radiologia e laboratório de patologia. Esses ambientes são freqüentados diariamente por cerca de mil pessoas, entre alunos, funcionários, professores e pacientes.

A Faculdade de Odontologia funcionou nos seguintes endereços:

1907 a 1913: Rua Guaicurus
1913 a 1917: Praça da Liberdade
1917 a 1919: Rua Timbiras
1919 a 1953: Rua da Bahia
1953 a 2000: Rua Conde de Linhares, bairro Cidade Jardim.
Desde 2000: campus Pampulha


Às vésperas das comemorações do centenário, que serão iniciadas em março, o diretor da Faculdade, Ricardo Santiago Gomez, avalia positivamente os resultados alcançados nos últimos anos. “A mudança para o campus Pampulha foi muito importante, pois proporcionou uma aproximação com a Universidade, fez com que a odontologia se sentisse mais parte da UFMG. A ampliação do espaço físico também foi imprescindível, uma vez que no prédio anterior não havia espaço para tantos projetos de extensão, laboratórios e salas de aula”, explica Gomez. O conforto das atuais instalações e a inserção com a Universidade, analisa o diretor, foram decisivos para o salto de qualidade experimentado pela Faculdade. “Esses fatores permitiram que ampliássemos o número de projetos de pesquisa em parceria com outras unidades. O aluno de graduação tem mais opções de formação e a nossa pós-graduação está cada vez mais qualificada. Temos cursos de especialização em todas as áreas da odontologia”, afirma Ricardo Gomez.



Relevância social

A Faculdade de Odontologia é uma das unidades da UFMG que mais se relacionam com a comunidade externa. Passam pelos seus consultórios cerca de mil pacientes por mês, encaminhados pela Prefeitura de Belo Horizonte e recebidos pelo Centro de Apoio, Seleção e Encaminhamento do Usuário (Caseu), que agenda as consultas de acordo com o horário de aula dos alunos. O atendimento é gratuito, exceto para procedimentos com custos laboratoriais, para os quais são cobrados valores abaixo dos preços de mercado.
Clinica da Odontologia nos anos 60 e na atualidadeFoca Lisboa
Acima, clínica da Odonto nos anos 60; abaixo, consultório atual: tradição extensionista
Os quatro departamentos da Faculdade têm, ao todo, 108 professores, que além das aulas, realizam pesquisas e coordenam projetos de extensão. “Boa parte do sucesso de nosso ensino deve-se aos 32 projetos de extensão que existem na escola, concebidos em função das necessidades de formação do aluno e de atendimento da população. O dentista precisa conciliar formação técnica com preocupações humanísticas”, defende o professor Ricardo Santiago Gomez.

No último período da graduação, os alunos realizam o estágio supervisionado, disciplina obrigatória semelhante ao Internato Rural da Faculdade de Medicina. Os estudantes passam dois meses e meio em cidades de Minas Gerais, trabalhando no sistema de saúde municipal, sob orientação de um professor. “Este é o momento que marca a ruptura mais interessante do aluno com o cotidiano da escola. Ele sai para morar em outra cidade e, mesmo supervisionado por um professor, tem grande liberdade de atuação. Naquelas localidades, ele vivencia não só a experiência de trabalho como cirurgião-dentista, mas também como profissional de saúde”, observa o diretor.

Desafio

Ampliar a inserção do aluno no serviço de saúde, retirando parte do processo de aprendizagem de dentro do prédio, e proporcionar aos alunos mais tempo para atividades extra-classe são as metas do novo projeto pedagógico, que está sendo elaborado por uma comissão de alunos e professores. Este é, na opinião de Santiago Gomez, o principal desafio para 2007. “Nosso projeto pedagógico sempre esteve à frente do de outras faculdades de odontologia. Por isso, essa atualização é um processo de grande responsabilidade, que envolve consultas a entidades de classe e a segmentos de fora da universidade”, comenta.

Os alunos esperam muito dessa reformulação. Apesar de satisfeito com a atual estrutura do curso, Vítor Chitarra, do 3o período, acredita nos benefícios das mudanças. “Temos hoje uma carga de aulas muito puxada. Com a reformulação curricular, teremos mais oportunidade de realizar atividades fora da sala”, prevê Chitarra.

Outros projetos traçados pela atual gestão são a construção de um auditório, a melhoria do conceito do curso de doutorado na avaliação da Capes, a criação de uma clínica odontológica no campus Saúde e de um novo espaço para a pesquisa dentro do prédio.

Comemorações começam em março

O “Dia D” é 3 de fevereiro, mas o calendário de comemorações do centenário da Faculdade de Odontologia será aberto apenas em 9 de março. “Achamos melhor escolher uma data em que a universidade esteja em pleno funcionamento para que todos possam participar das atividades”, argumenta o professor Vagner Rodrigues dos Santos, vice-diretor da Escola e presidente da comissão encarregada de organizar as comemorações do centenário.

O evento de abertura será marcado por homenagens a pessoas que se destacaram na história da Unidade. Em maio, a Faculdade sediará o VI Encontro Científico das Faculdades de Odontologia de Minas Gerais e o VII Encontro de Pesquisa da Faculdade de Odontologia da UFMG. Em agosto serão lançados livro de memórias e vídeo de entrevistas com professores, funcionários e alunos que participaram da história da Faculdade. O material está sendo produzido em parceria com o Projeto República, da Fafich. No mês seguinte, está previsto o lançamento da pedra fundamental do Centro de Memória. O encerramento das atividades será em outubro, com um baile de gala para a comunidade acadêmica.

Outros eventos também estão na pauta, informa Rodrigues. “Temos a intenção de organizar um dia ou uma semana para homenagear os usuários da Faculdade. São pessoas muito importantes, pois sem eles os alunos não teriam como estudar odontologia e realizar trabalhos importantes. É por meio delas que a Universidade exerce sua relevância social”, conclui Vagner Rodrigues.




Foca Lisboa
Prof. Edgar Silva
Edgar Silva foi aluno e diretor da Unidade

Aliança estratégica

Em 1916, quando a então Escola Livre de Odontologia funcionava na Praça da liberdade, a Congregação da entidade solicitou uma fiscalização ao Conselho Superior de Ensino com a finalidade de equipará-la às congêneres federais. Tal inspeção não ocorreu porque a Faculdade mantinha apenas um curso. A situação foi contornada com a incorporação do curso de Farmácia, criado em 1911, mas que não funcionava até então devido a restrições financeiras. A instituição passou então a denominar-se Escola Livre de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte.

A fusão Odonto-Farmácia foi decisiva para a sobrevivência da Escola nos anos seguintes. “Muitas vezes, o pequeno número de alunos da Odonto era compensado pelas matrículas na Farmácia. Em outras épocas, eram as matrículas da Odonto que equilibravam o baixo número de matriculados na Farmácia”, lembra o professor Edgar Carvalho Silva, que se graduou pela Unidade em 1946 e a dirigiu de 1986 a 1989.

A separação ocorreu em 1963, o que favoreceu o desenvolvimento dos dois cursos, que passaram a dispor de mais espaço. Também nos anos 60, duas outras novidades mudaram a rotina da graduação. As disciplinas básicas começaram a ser ministradas nos institutos centrais, que surgiram naquela época, e as demais disciplinas passaram a ser organizadas pelos departamentos. “Quando me formei, o curso durava três anos, tinha 14 disciplinas e 12 cátedras”, conta o professor Edgar. As cátedras eram disciplinas elaboradas de acordo com o conhecimento específico do professor e não tinham ementa pré-estabelecida. “Com a mudança, elas se desdobraram em várias disciplinas e o curso passou a durar quatro anos. Muitos catedráticos não gostaram da nova estrutura, porque seus assistentes começaram a dar aulas”, comenta Carvalho Silva.