A pedagogia que nasce da terra

UFMG e outras quatro universidades federais formarão professores para lecionar no campo

terra, o campo e suas especificidades. Partindo dessa matriz pedagógica, a Faculdade de Educação (FaE) da UFMG vai oferecer, junto com outras quatro universidades públicas brasileiras, o curso de graduação Licenciatura em Educação no Campo. Voltado para professores em exercício com ensino médio completo, essa graduação nasce com o objetivo de amenizar o problema da baixa escolaridade na zona rural.

Com recursos de R$ 1 milhão -
R$ 200 mil para cada instituição – a nova licenciatura pretende beneficiar parte dos 376 mil professores e 7,6 milhões de alunos da área rural registrados pelo censo escolar de 2005. Previsto para iniciar no segundo semestre deste ano, o curso será dividido em tempo-escola e tempo-comunidade, formato que difere da graduação normal por permitir que os alunos alternem períodos de orientação na Universidade – nos meses de fevereiro e julho –, com a realização de atividades na sua comunidade.

As cinco universidades federais selecionadas – Bahia, Brasília, Campina Grande, Minas Gerais e Sergipe – formarão 250 docentes. No caso da UFMG, os candidatos passarão por um processo seletivo especial, com data ainda a definir, mas que deve ser baseado na realização de prova de conhecimentos gerais. O aluno também deverá assinar um termo comprometendo-se a desenvolver seu trabalho no campo, após a formação.

“Esta licenciatura inova ao capacitar os docentes para lecionar da primeira série até o ensino médio, abrigando toda a educação básica no campo e não somente a educação de primeira a quarta séries”, afirma a professora Maria Isabel Antunes Rocha, coordenadora do curso na UFMG. As cinco universidades terão autonomia para definir o formato e conduzir a modalidade. Contudo, elas devem contemplar duas áreas de formação entre as oito previstas no escopo do programa do Ministério da Educação (MEC): linguagens, artes, literatura, matemática, ciências humanas, sociais, da natureza e agrárias.

Inspiração
Na UFMG, o modelo do curso será inspirado no trabalho realizado com professores de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e da Via Campesina. Desde seu início, em 2005, o projeto-piloto vem sendo acompanhando de perto pelo MEC, que chegou a enviar representantes para visitar e participar de um dia de atividades do curso.

Tendo como base essa experiência desenvolvida pela UFMG, que em 2010 forma a sua primeira turma, composta de 60 alunos, o MEC resolveu levar a outras regiões do Brasil o projeto de educação que considera os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da terra. “Iniciativas como esta representam uma boa forma de diálogo da Universidade com as questões agrárias e do campo”, comenta a professora Antônia Vitória Aranha, diretora da FaE.

“O novo curso terá movimentos sociais como parceiros e também será desenvolvido com o apoio de prefeituras já engajadas em políticas voltadas para educação no campo”, informa a professora Isabel Antunes. No dia 28 de fevereiro acontece uma reunião na FaE para discutir parcerias que poderão ser firmadas pela UFMG. Por enquanto, a Instituição tem oferecido assessoria às outras quatro universidades que implantarão a licenciatura.

Financiada pela Associação Nacional de Pesquisa em Educação, a FaE está desenvolvendo pesquisa sobre a educação no campo, que se desdobra na produção de materiais didáticos e que poderá resultar, ainda, no lançamento de revista e coletânea de textos acadêmicos sobre o assunto. O Ministério da Educação pretende lançar outro edital ainda este ano para incorporar outras universidades ao programa.