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Nº 1577 - Ano 33
14.5.2007

Alan Thomas Sahlins
O antropólogo Marshall Sahlins: obra ultrapassa fronteiras disciplinares e acadêmicas

Marshall Sahlins recebe título de Doutor Honoris Causa da UFMG

Norte-americano foi apontado por Lévi-Strauss como o mais lúcido dos antropólogos contemporâneos

Flávio de Almeida

O

antropólogo Marshall David Sahlins, da Universidade de Chicago (EUA), recebe, no próximo dia 23, no auditório da Reitoria, às 17h, o título de Doutor Honoris Causa, a principal honraria concedida pela UFMG a personalidades que não pertencem aos seus quadros. Sahlins é reconhecido internacionalmente como um dos principais antropólogos em atividade e um dos autores contemporâneos de maior repercussão nas ciências sociais e humanas.

“O impacto de sua obra ultrapassa as fronteiras disciplinares e acadêmicas. Ela dialoga incisivamente com áreas as mais diversas, como filosofia, sociologia, economia, história, ciência política, psicologia e arqueologia e, para além das “humanidades”, especialmente com a biologia”, aponta o professor Eduardo Viana Vargas, coordenador do curso de Ciências Sociais da Fafich, na exposição de motivos que acompanha a proposta encaminhada pela Congregação da Fafich ao Conselho Universitário solicitando a concessão do título ao antropólogo norte-americano.

Outra autoridade da antropologia, Claude Lévi-Strauss escreveu, em 2000, que Sahlins é o mais lúcido dos antropólogos contemporâneos. “Ele soube fecundar reciprocamente as tradições intelectuais européias e americanas. Sempre se recusou a separar as ciências sociais das disciplinas humanas, a análise estrutural da pesquisa histórica, a teoria da prática”, elogiou.

A programação de Sahlins na UFMG inclui, além da cerimônia de entrega do Doutor Honoris Causa, duas atividades no dia 24: a conferência O Rei estrangeiro; ou formas elementares da vida política, no auditório da Reitoria, a partir de 10h, e um debate com a comunidade acadêmica, seguido de sessão de autógrafos, às 16h, no auditório vermelho da Faculdade de Letras.

Trajetória

Nascido em Chicago em 1930, Marshall Sahlins é formado em antropologia na University of Michigan, em Ann Arbor, EUA. Em 1954 defendeu, na University of Columbia, em Nova York, sua tese de doutoramento sobre a estratificação social na Polinésia. Foi professor da University of Michigan entre 1957 e 1973. A partir dos anos 60, destacou-se como ativista político - tanto na mobilização contra a guerra do Vietnã, nos EUA, quanto nos protestos estudantis de maio de 68, em Paris. Em 1973, tornou-se professor da University of Chicago, onde aposentou-se em 1997.

Autor de 15 livros, a maior parte traduzida em várias línguas, Sahlins já recebeu o mesmo título de outras quatro universidades: St. Andrews University, Escócia (2003), Univerity of Michigan, EUA (2001), Université Paris X – Nanterre, França (1999) e Université Libre de Bruxeles, Bélgica (1985). O antropólogo é membro honorário do Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland e da National Academy of Sciences, dos EUA.

Segundo o professor Eduardo Vargas, os estudos de Sahlins encontraram grande ressonância entre os antropólogos latinoamericanos, notadamente os brasileiros. “Duas importantes correntes antropológicas brasileiras de repercussão internacional, a etnologia amazônica e a que propõe a junção de história e antropologia, são tributárias de sua obra”, diz Vargas.

História e economia

A influência da obra de Sahlins sobre a história e a economia é considerável. Dialogando diretamente com a história, ele escreveu vários livros desde a década de 70, como Metáforas históricas e realidades míticas, Ilhas de História e seu recente História e cultura: apologias a Tucídides. “Todos tratam da interface entre história e cultura, da recuperação da idéia de evento e da definição cultural de agência histórica”, lembra o professor Vargas.

Ao estabelecer interface com a economia, o antropólogo escreveu pelo menos dois clássicos: A Economia da Idade da Pedra e Cultura e Razão Prática, publicados, respectivamente, em 1972 e 1976. “O primeiro mostra, contrariando o senso econômico comum, que a economia das sociedades primitivas maximiza bemestar e não mercadorias. Já o segundo argumenta, contra outro senso comum, que as diferenças entre sociedades não residem em suas tecnologias ou na organização social, mas na fonte privilegiada do simbolismo que cada qual elege para articular e realizar seu próprio sistema de mundo”, explica Eduardo Vargas.

Distinção para poucos

Sahlins é a 14ª personalidade a receber o título de Doutor Honoris Causa nos quase 80 anos de fundação da UFMG. A homenagem chegou a ser marcada para novembro de 2006, mas um problema de saúde impossibilitou sua vinda ao Brasil. O primeiro Doutor Honoris Causa foi o jurista Carvalho Mendonça, agraciado em 1928. Entre outros homenageados, o escritor português José Saramago, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o cientista Carlos Chagas Filho e os ex-presidentes Antônio Carlos e Juscelino Kubitschek. Dois agraciados não chegaram a receber o título: o economista Celso Furtado e o arquiteto Oscar Niemeyer.