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Nº 1577 - Ano 33
14.5.2007

Isabela Abreu/Prodemge
Minas Telecárdio
O médico Gláucio Galeno, coordenador clínico do Projeto, de plantão no HC

Coração em rede

Projeto Minas Telecárdio, que oferece suporte clínico a distância na área de cardiologia, completa um ano de funcionamento

Adriana Linhares*

H

á um ano, moradores de 82 municípios mineiros precisavam, não raro, viajar pelo menos uma hora para conseguir atendimento especializado em cardiologia. Com o auxílio de webcam, eletrocardiograma e computador, esta realidade está se transformado rapidamente. Fornecidos pelo Projeto Minas Telecárdio, os equipamentos estabelecem ligação em tempo real entre médicos do Programa Saúde da Família, que atuam em pequenas cidades, e cardiologistas de plantão em cinco centros vinculados a universidades federais, entre elas a UFMG, por meio do Hospital das Clínicas, que coordena o projeto.

Implantado em 2006 pela Secretaria de Estado da Saúde e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o Minas Telecárdio funciona como uma consultoria on-line e procura avaliar o custo e a efetividade do uso da telemedicina no tratamento de doenças cardiovasculares, em especial, a arterial coronariana aguda. O projeto já é parte da rotina diária de mais de 150 médicos mineiros.

O eletrocardiograma do paciente, atendido no posto de saúde da sua cidade, é transmitido via Internet e o caso, discutido individualmente, a partir de critérios de sigilo e segurança. O intercâmbio tem oferecido suporte significativo ao atendimento de urgência no interior do estado, auxiliando o diagnóstico de doenças coronarianas agudas (infarto e angina instável) e evitando encaminhamentos desnecessários de pacientes com patologias menos graves.

“Trata-se de iniciativa pioneira dentro do sistema público de saúde, com grande impacto médico, social e econômico. É a atuação da Universidade se capilarizando pelas pequenas cidades de Minas, unindo tecnologia de baixo custo e benefícios concretos para a população”, resume o coordenador geral do Minas Telecárdio e diretor clínico do HC, professor Antonio Luiz Pinho Ribeiro.

Resultados

O sucesso da iniciativa pode ser medido por números, começando por aqueles que envolvem a própria estrutura exigida na montagem do projeto. Para viabilizar seu funcionamento, foram treinados 253 profissionais das áreas de saúde e administrativa dos centros de saúde do interior. Já as universidades federais de Minas Gerais, Uberlândia, Juiz de Fora e Triângulo Mineiro e a Estadual de Montes Claros montaram centros de telessaúde.

Somente de outubro de 2006 a março de 2007, 1.765 pacientes foram atendidos a distância, sendo 265 casos de urgência. Em apenas seis meses, o sistema já havia alcançado os 82 municípios mineiros estipulados como meta durante a fase de planejamento do projeto. O Minas Telecárdio também permitiu identificar 970 pacientes com suspeita ou diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda e realizou cerca de 12 mil eletrocardiogramas e 183 teleconsultas.

Benefícios

Antes da implantação do projeto nos 82 municípios, o médico do Centro de Saúde, ao constatar uma anormalidade no exame clínico, costumava encaminhar o paciente para uma cidade próxima para realizar eletrocardiograma e consulta com especialista, o que gerava custos com transporte e exames e ainda atrasava o diagnóstico que, em alguns casos, poderia impedir a prescrição de tratamento apropriado. Além disso, muitos pacientes eram encaminhados desnecessariamente já que o problema poderia ter sido resolvido pelo médico daquela unidade de saúde.

Com o projeto, cerca de 70% de casos do gênero passaram a ser resolvidos no próprio centro responsável pelo atendimento inicial. Agora, o diagnóstico é mais preciso e imediato, o que acelera, nos casos graves, o encaminhamento de pacientes a centros especializados, aumentando suas chances de sobrevida.

O aposentado Ismael Faquim, morador de Nova Ponte, no Triângulo Mineiro, já não precisa mais fazer deslocamentos desnecessários. “De Nova Ponte a Uberlândia são 85 quilômetros. De ônibus dá 1h30, e temos poucos horários”, diz o aposentado, que é cardiopata, diabético e hipertenso e precisa fazer exames de rotina com freqüência para controle das doenças.

Podem fazer parte do Minas Telecárdio municípios mineiros com menos de 10 mil habitantes e com implantação mínima de 70% do Programa Saúde da Família. Além deles, outros critérios metodológicos foram adotados para tornar o município elegível, como o tipo de conexão à Internet e o interesse e comprometimento dos secretários de saúde e prefeitos.

Outros 62 municípios já manifestaram interesse em se integrar à rede de atendimento. Teleconsultorias médicas ou de segunda opinião, em cardiologia ou em outras especialidades, também estão sendo agendadas desde abril, assim como teleconferências nas áreas de medicina e de enfermagem.

* Jornalista da Assessoria de Comunicação do Hospital das Clínicas da UFMG