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Nº 1585 - Ano 34
08.10.2007

Quem é ele?

Teses propõem métodos mais eficazes para testar qualidade
do biodiesel comercializado no país

 

Com capacidade instalada para produzir 962 milhões de litros de biodiesel por ano, o Brasil está pronto para cumprir determinação legal de adicionar 2% do produto ao diesel de petróleo, a partir de 2008. A operação, que exigiu investimentos expressivos de centros de pesquisa, governos e mercado, enfrenta novos desafios representados pela necessidade de evitar fraudes e garantir a qualidade técnica da mistura, conhecida como B2.

Na UFMG, diversos estudos estão em curso, especialmente no Laboratório de Ensaios de Combustíveis (LEC), do Departamento de Química do ICEx. “Um dos objetivos de meu trabalho foi desenvolver estudo da adição de marcadores químicos de baixo custo para álcool etílico anidro e biodiesel.

No biocombustível eles possibilitam identificar sua origem e quantificá-lo na mistura”, diz a autora de uma das pesquisas, a doutoranda e bolsista do LEC, Itânia Soares. Seus experimentos foram realizados com amostras de biodiesel comercial feito de mamona, soja, algodão, nabo forrageiro e girassol, provenientes de todo o país, além de outras sintetizadas no Laboratório, a partir de sebo de boi e de oleaginosas como a canola.

A síntese do biodiesel, ou transesterificação, ocorre normalmente utilizando óleos vegetais, álcool e catalisador. No processo, moléculas de triglicerídeos existentes nos óleos são rompidas, dando origem a ésteres de ácido graxo e glicerina. A massa de ésteres praticamente equivale à do biodiesel produzido. Como a síntese requer investimentos, uma provável fraude seria a mistura do óleo de fritura ou in natura ao B2, de menor custo.

A proposta da pesquisadora de adicionar marcadores químicos ao biodiesel puro, o B100, permitiria verificar as adulterações por meio de testes realizados em laboratórios credenciados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável pela regulamentação do setor. “A adição de óleo não esterificado ao B100 ou ao B2 diluiria o marcador, e assim seria verificada a adulteração”, diz Itânia. Nas misturas idôneas, ao contrário, a concentração da substância permanece proporcional à que foi incluída ao B100. “O marcador químico também pode ser utilizado por distribuidoras de combustíveis para verificar a fidelidade dos postos à bandeira”, acrescenta.

A adoção de um “DNA” para identificar a origem do combustível também evitaria sonegação fiscal decorrente de declarações errôneas sobre proveniência e modalidade de matéria-prima do produto. “O biodiesel obtido de determinadas oleaginosas cultivadas pela agricultura familiar, e portador de selo social, tem isenção ou redução de impostos”, esclarece a pesquisadora.

Além do estudo de marcadores, Itânia Soares e outra doutoranda do programa de Pós-Graduação em Química, Camila Corgozinho, desenvolvem metodologias para avaliar a qualidade do biodiesel e determinar adulterações decorrentes de adição de óleos vegetais. Os experimentos agregam técnicas sofisticadas, capazes de revelar aspectos mais sutis associados às características do produto. “Já simulamos processos de adulteração de combustível e realizamos ensaios físico-químicos considerados de rotina, e ele, ainda assim, atende às especificações da agência reguladora. Utilizando, no entanto, as técnicas propostas em nossos trabalhos junto com ferramentas quimiométricas, conseguimos determinar a adulteração”, explica Itânia, que defende sua tese em fevereiro de 2008.

Antídoto para a oxidação

“Se exposto ao ar durante o processo de estocagem, o biodiesel se oxida e forma gomas que podem entupir mangueiras e filtros dos carros, alterando o desempenho dos motores". A observação é da pesquisadora Camila Corgozinho, que se dedica ao estudo de métodos estatísticos associados a técnicas analíticas para identificar a matéria-prima utilizada na produção do biodiesel e o percentual de sua concentração em óleo diesel. Uma de suas contribuições aos estudos está relacionada justamente à oxidação do biodiesel, um dos responsáveis por sua deterioração.

No Brasil, o problema da oxidação tem sido contornado com o uso de aditivos sintéticos que inibem a degradação do produto. Experimentos da pesquisadora, feitos com o bolsista de iniciação científica da UFMG, Kallyo Ferreira, demonstram, no entanto, que substâncias naturais com função antioxidante conseguem dobrar o tempo de estabilidade do biodiesel. O desempenho varia de acordo com o tipo de oleaginosa usada na fabricação desse óleo.

De acordo com Camila, os antioxidantes naturais também têm como vantagens o seu baixo custo e o fato de serem extraídos de fontes renováveis. A pesquisadora mantém sigilo sobre as características dos antioxidantes naturais, mas antecipa que os resultados do trabalho, em fase de finalização, podem ser aplicados a outros produtos, incluindo os de origem fóssil, que estão sendo investigados por outra doutoranda, Lílian Morais. "A auto-oxidação também afeta a gasolina, o diesel e os óleos da indústria petroquímica e alimentícia”, exemplifica.

Foca Lisboa
tese
Itânia e Camila: marcadores e antioxidantes

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